Política

Ex-deputado Alfredo Sirkis morre em acidente de carro, em Nova Iguaçu (RJ)

O veículo capotou no Arco Metropolitano; jornalista viajava para Vassouras para visitar a mãe
O ex-deputado Alfredo Sirkis Foto: Divulgação
O ex-deputado Alfredo Sirkis Foto: Divulgação

RIO — O jornalista e ex-deputado federal Alfredo Sirkis morreu nesta sexta-feira, aos 69 anos, em acidente de carro, no Arco Metropolitano, em Nova Iguaçu (RJ). Sirkis estava a caminho do sítio da família, em Morro Azul, em Vassouras. Sirkis foi um dos fundadores do Partido Verde no Brasil, em 1986, e um dos pioneiros na militância ambiental no país.

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O acidente ocorreu no início da tarde,  próximo ao quilômetro 74. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, Sirkis estava sozinho no veículo, um Volkswagem Polo, e seguia em direção à Via Dutra. O carro saiu da pista, colidiu com um poste e capotou. A Polícia Civil fez uma perícia no local para determinar as causas do acidente, que será investigado pela 58ª DP (Posse). Informações preliminares da perícia apontam que Sirkis perdeu a direção do carro.

Ex-deputado Alfredo Sirkis morre em acidente de carro, em Nova Iguaçu (RJ) Foto: Reprodução
Ex-deputado Alfredo Sirkis morre em acidente de carro, em Nova Iguaçu (RJ) Foto: Reprodução

Filho único, Sirkis viajava para visitar a mãe, Lila, de 96 anos, em isolamento social por causa da pandemia. Segundo amigos, ele costumava fazer o trajeto com frequência. Além disso, ele também iria rever o filho Guilherme, que terminou o mestrado recentemente nos Estados Unidos e está com a avó. O ex-deputado também deixa uma filha, que mora nos EUA.

Muito emocionado ao telefone, o deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ) demonstrou toda a sua surpresa pela morte do colega.

— Não quero acreditar nisso. Há três dias estávamos conversando sobre o novo livro dele que ia chegar por esses dias.

O jornalista lançou este mês o livro “Descarbonário”, quase quatro décadas depois do lançamento de “Os carbonários”, livro sobre sua militância estudantil e na luta armada durante a ditadura militar, que lhe rendeu um prêmio Jabuti em 1981.

A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) publicou uma nota em homenagem ao amigo.

“Uma perda irreparável para a luta socioambiental brasileira. O Sirkis foi pioneiro na defesa da ecologia, um defensor intransigente da democracia, um companheiro leal na defesa dos povos da floresta, principalmente através do Chico Mendes. Nos últimos dez anos, se dedicou de corpo e alma à questão das mudanças climáticas, buscando alternativas sustentáveis para essa crise ambiental global. Tudo que alcançarmos daqui para frente em relação ao desenvolvimento sustentável, seu legado será parte de tudo isso. Uma perda irreparável para todos nós e sua família”, disse Marina.

O prefeito Marcelo Crivella lembrou, em nota, o trabalho de  Sirkis "por um Rio mais humano e solidário".

“Alfredo Sirkis era um militante apaixonado por todas as causas que abraçava. Como secretário de Urbanismo e de Meio Ambiente da nossa cidade, sempre trabalhou por um Rio mais humano e solidário. Sua luta mais recente era contra as mudanças climáticas que tanto ameaçam nosso planeta. Tinha ainda muito a contribuir com sua experiência e dedicação. Neste momento de grande dor, peço a Deus que conforte sua família, amigos e admiradores”, disse o prefeito.

O jornalista foi secretário de Meio Ambiente e, depois, de urbanismo, da Prefeitura do Rio no governo do ex-prefeito Cesar Maia, que também lamentou a morte do ambientalista.

“Uma perda enorme. Um quadro de formação múltipla: ambientalista, político, escritor,  gestor, nesse momento estava se relançando com novo livro de superação do Carbonário”, disse Cesar Maia.

Como secretário municipal, Sirkis foi responsável pelo replantio de grande área desmatada e pela implementação das ciclovias na cidade do Rio.

No Twitter, o ex-deputado Chico Alencar lembrou as lutas em comum:

"Muito chocado com a morte, em acidente de carro, de Alfredo Sirkis. Fomos colegas de vereança, de Câmara Federal e lutas comuns. Sirkis, devoto da causa ambiental, pensava grande. Deixa um novo livro. Que haja consolo para sua família e que Deus o acolha no Reino Cósmico da Paz", pediu Alencar.

Em sua conta no Instagram, Flora Gil, mulher de Gilberto Gil, publicou uma nota de pesar pela morte de Sirkis: “Perdemos um amigo. Um grande amigo.”

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) também postou uma publicação em suas redes sociais sobre Sirkis: “Dia triste para quem luta pela democracia e pelo meio ambiente. Perdemos o jornalista, escritor e ativista Alfredo Sirkis. Minha solidariedade à família e aos amigos. Vá em paz, Sirkis. Você fará muita falta ao Brasil.”

De líder estudantil a defensor do meio ambiente

Alfredo Hélio Sirkis nasceu no Rio de Janeiro em 8 de dezembro de 1950, filho dos imigrantes judeus-poloneses Herman Syrkis e Liliana Syrkis. No Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp/UFRJ), entrou no movimento estudantil, na coordenação do grêmio.

Integrou o movimento da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do líder de esquerda Carlos Lamarca. Atuou na luta armada e participou de dois sequestros de embaixadores - o alemão Ludwig Von Holleben e o suíço Giovanni Bucher - que resultaram na libertação de 110 presos políticos, até ser exilado e viver oito anos fora do Brasil. Em 1971, Sirkis teve como destino no exílio o Chile. Passou por Argentina e Portugal, regressando ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia.

Como jornalista, atuou nas revistas "Isto É" e "Veja", além de colaborar para vários jornais. Também foi roteirista na TV Globo da série Teletema. Atualmente, era diretor-executivo do Think Tank Centro Brasil no Clima.

Ele foi eleito vereador do Rio em 1986 e depois reeleito. Foi candidato à Presidência da República pelo Partido Verde em 1998 e atuou como deputado federal entre 2011 e 2015. Em 2010 e 2014, foi um dos principais articuladores políticos e coordenadores das campanhas de Marina Silva para a Presidência. No último pleito, em 2018, ele se afastou da candidata, mas não chegou a romper politicamente com ela.

Em maio de 2019, foi exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro do cargo de coordenador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. A organização foi criada em 2000 como um instrumento institucional da Política Nacional de Mudança do Clima, que tem à frente o próprio presidente. O cargo não era remunerado.