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'The final year' mostra que a História é cheia de zigue-zagues

Patrícia Kogut

Barack Obama e a equipe em cena de 'The final year', documentário da Netflix (Foto: Divulgação)Barack Obama e a equipe em cena de 'The final year', documentário da Netflix (Foto: Divulgação)

 

Nestes dias que nos separam das eleições americanas, vale muito assistir ao documentário “The final year”, na Netflix. O diretor, Greg Barker, teve a permissão da Casa Branca para acompanhar por 21 países os passos da política externa de Barack Obama no último ano do mandato, em 2016. O espectador tem acesso à intimidade das discussões na equipe. Fala-se não somente sobre o que se conseguiu naquele ano, mas dos avanços em anos anteriores, como o Acordo de Paris, o Acordo Nuclear com o Irã, o restabelecimento de relações diplomáticas com Cuba, entre tantos. Além do valor histórico, o filme é uma aula de como as vitórias podem ser efêmeras. Em certo momento, já com Donald Trump na dianteira das pesquisas e ameaçando deixar o Acordo de Paris, Ben Rhodes, assessor-adjunto para Segurança Nacional, diz algo como: “Isso só faz barulho, não tem como os EUA se isolarem a esse ponto do mundo!”. Pois é. Hoje sabemos que há coisas que fazem barulho e que têm consequências: os EUA abandonaram o Acordo de Paris e o Acordo Nuclear com o Irã. As relações diplomáticas com Cuba, embora mantidas, foram revistas quanto às sanções.

Outro ponto alto é o registro da presença de Samantha Power, embaixadora dos EUA na ONU, na cerimônia de concessão de cidadania americana a imigrantes, entre eles a babá de seus filhos. Samantha chora ao lembrar que, anos antes, era ela quem estava na plateia. Cidadã da Irlanda, ganhou a nacionalidade americana. Ela afirma que nos EUA é assim: uma vez cidadãos, não importa a origem, qualquer um pode falar pelo país, até mesmo ser a voz da nação na ONU. Isso ainda pode ser verdade, mas grita o contraste com a política de tolerância zero de Trump, que separou imigrantes ilegais de filhos pequenos e só foi suspensa depois da intervenção da Justiça. Aqui abro um parêntese só para recomendar leitura da crítica a “Immigration nation”, outro documentário da Netflix que trata desse tema.

 

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Voltando a “The final year”, após a eleição de Trump, o filme mostra os preparativos para o último discurso de Obama na ONU. O espectador fica sabendo que houve uma divergência séria entre Rhodes e Power. Ele querendo enfatizar que o mundo então era melhor do que jamais antes; ela afirmando não ser possível dizer isso quando havia 65 milhões de refugiados no planeta. Obama fica com Rhodes e faz um discurso otimista.

Finalmente, vemos Obama em sua última viagem como presidente. Ele vai à Grécia, onde visita a Acrópole. Numa sequência, aparece em diferentes sítios arqueológicos. Ouve-se a sua voz conversando com o diretor na parte final de uma entrevista que percorre todo o programa. Ele diz mais ou menos assim: “Eu gosto de visitar esses lugares porque eles nos mostram que a História é cheia de zigue-zagues, não uma linha contínua. Mas a humanidade sempre avança”. Ele se referia, claro, à vitória de Trump. Em novembro, o mundo verá se teremos um “zigue” ou um “zague”.

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