Economia

Após tensão com Maia, Guedes diz que se afastará de negociação com Congresso: 'Acabou meu voluntarismo'

Segundo ministro, consolidação de base parlamentar do governo no Congresso dispensa participação direta nos debates
O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

BRASÍLIA - Após se desentender com o presidente da Câmara , Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira que, a partir de agora, não participará mais diretamente das negociações com o Congresso.

Segundo Guedes, a nova forma do Executivo de negociar com o Congresso — por meio de líderes e da criação de uma base parlamentar — marcou o fim de seu "voluntarismo", nas palavras do próprio ministro. A declaração foi dada em um seminário online em que Maia também estava presente.

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— Agora tem uma via regular de encaminhamento do processo, que é essa base de governo. A gente conversa regularmente toda semana, aí o governo consegue decidir e encaminhar de uma forma mais adequada, que não seja um ministro, dependendo também de um olhar generoso e amigo, faço questão de registrar, do nosso presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que sempre nos ajudou em todas as reformas — afirmou o ministro, durante seminário sobre a reforma administrativa promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).

Na semana passada, Maia afirmou que a interlocução com a equipe econômica estava "encerrada", após Guedes ter proibido auxiliares de se reunirem na Câmara para tratar de pontos da reforma tributária.

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O ponto central do debate era a criação de um fundo de R$ 480 bilhões para compensar estados e municípios que perderem arrecadação com o novo modelo de impostos previsto pelas propostas de reforma em discussão no Congresso.

— Aparentemente, o presidente da Câmara estaria conversando com prefeitos e governadores pensando num fundo social de R$ 480 bilhões. Esse dinheiro não existe mais, esse dinheiro desapareceu. Eu tive que dizer ao presidente da Câmara o seguinte: "olha, eu não posso ficar agora ficar mandando técnicos meus para bolarem uma reforma que está totalmente desalinhada com o que aconteceu e vai acontecer daqui pra frente" — afirmou Guedes.

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'Vai ter menos desgaste'

De acordo com o ministro, a decisão faz parte da mudança de estratégia do governo. Ele afirmou que, antes da busca por uma base aliada, precisava ir pessoalmente aos parlamentares pedir apoio às medidas defendidas pelo Executivo, o que acabava causando ruídos.

— Estou enquadrado, entre aspas, num regime de comunicação política regular. Acabou o meu voluntarismo. Não quer dizer nem que vai ficar melhor, nem pior. Eu realmente acredito que vai ficar melhor, até para o Rodrigo. Vai ter menos desgaste o Rodrigo, eu, todo mundo, porque agora é um encaminhamento natural. O governo achou o seu eixo — disse Guedes.

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Segundo ele, será preciso agora seguir o "rito natural do governo":

— Eu preciso agora me recolher um pouco e seguir o rito natural do governo. Talvez o mestre nisso tenha sido o (ex-ministro da Fazenda, Pedro) Malan lá atrás (no governo FHC), que ele não entrava em desgaste com o Congresso. Ele conversava com o presidente, com os líderes em volta e a liderança vai lá e conversa com o Congresso. Ele só tira dúvidas de vez em quando. Meu recolhimento é só isso.