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Política

Racha no PSL: grupos disputam comando de sete diretórios estaduais do partido

Bolsonaro reafirma que deve sair do PSL e que há 90% de chance de criar um novo partido
Briga por poder. Bivar e Bolsonaro ao lado dos deputados Eduardo, Joice Hasselmann durante encontro entre a bancada do PSL e a equipe de transição, semanas antes de o presidente assumir: o entendimento deu lugar à crise Foto: Terceiro / Agência O Globo
Briga por poder. Bivar e Bolsonaro ao lado dos deputados Eduardo, Joice Hasselmann durante encontro entre a bancada do PSL e a equipe de transição, semanas antes de o presidente assumir: o entendimento deu lugar à crise Foto: Terceiro / Agência O Globo

RIO - O presidente Jair Bolsonaro disse ontem, em entrevista à TV Record, que deve sair do PSL e trabalhar para criar outro partido . “A probabilidade de eu sair do partido é de 80% e de criar um novo [partido] é de 90%. Um novo partido que vai começar do zero, sem televisão, sem fundo partidário, nada”, afirmou. Embora barulhenta, a crise partidária que se instalou na cúpula nacional do PSL é apenas a parte mais visível de uma disputa por poder na sigla. O racha interno entre apoiadores do presidente Bolsonaro e do presidente nacional do partido, Luciano Bivar , é mais profundo e já se manifesta em diversos estados. Além dos casos notórios envolvendo os filhos do presidente nos diretórios do PSL em São Paulo e no Rio de Janeiro, há embates declarados hoje em Minas Gerais, Ceará, Goiás, Bahia e Rio Grande do Sul.

Na avaliação de alguns dirigentes estaduais, foram os desentendimentos nos estados que alimentaram ao racha na cúpula partidária — e não o inverso.

— Às vezes a gente acha que a questão é só lá em cima, mas a briga por poder interno começou nos estados, e foi isso que levou à crise nacional — disse o coordenador jurídico do PSL em Goiás, Luiz Cesar Barbosa Lopes.

Atualmente, dos 26 diretórios estaduais do partido, apenas três são ligados ao chamado bolsonarismo: São Paulo, sob o comando de Eduardo Bolsonaro; Rio, com Flávio Bolsonaro; e Minas Gerais, controlado por Gustavo Graça. Com exceção do Distrito Federal — desativado há um mês, com a saída de Bia Kicis —, os presidentes dos demais diretórios foram nomeados diretamente por Bivar.

No próximo dia 31 de dezembro, 19 desses diretórios perderão a validade e precisarão ser redefinidos.

Terra arrasada

Nos diretórios de São Paulo e Rio de Janeiro, os atuais presidentes estaduais estão destituindo o maior número possível de diretórios municipais ligados ao grupo de Bivar.

Próximo ao presidente do PSL, Júnior Bozzella é o mais cotado para assumir o diretório estadual de São Paulo caso Eduardo Bolsonaro seja apeado. O deputado federal afirma que, assim que assumir, vai trabalhar para recuperar os órgãos desativados.

— Já tenho todo o levantamento, tenho controle do estado inteiro. A gente vai restabelecer tudo — declarou.

No Ceará, dois bolsonaristas, os deputados estaduais André Fernandes e Delegado Cavalcante, romperam com o atual presidente do partido, o deputado federal Heitor Freire, e pediram em junho o afastamento dele por supostas irregularidades na nomeação de membros do diretório estadual e de uso ilegal de verba parlamentar. O presidente foi mantido à frente da legenda por Bivar.

Freire foi acusado por Bolsonaro de ter vazado o áudio em que ele articulava a nomeação do filho Eduardo para líder do PSL na Câmara. O deputado federal confirma que a conversa vazada era entre ele e o presidente, mas nega ter sido o autor do vazamento.

— Eu cansei de acompanhar o Bolsonaro. Desde 2014 eu o vejo entrando e saindo de partidos pelas mesmas razões e eu o segui. Quero parar num lugar — afirmou.

Em Goiás, há um racha no partido entre os deputados delegado Waldir e Major Vitor Hugo, desde a eleição de 2018. O primeiro preside o PSL goiano desde o início deste ano com apoio de Bivar, mas perdeu em outubro a liderança da bancada do PSL na Câmara após ter chamado Bolsonaro de “vagabundo” numa reunião partidária. Vitor Hugo é líder do governo na Casa.

No Rio Grande do Sul, os deputados federais Bibo Nunes e Nereu Crispim representam alas opostas no Congresso Nacional. Questionado sobre um eventual interesse do correligionário em ocupar o seu cargo, Crispim, presidente do diretório estadual, perguntou ironicamente: “Quem é Bibo Nunes?”. Por sua vez, Nunes afirmou não ter interesse em assumir o diretório porque deve sair do PSL.

A briga mais evidente na Bahia fica entre a deputada estadual Talita Oliveira e a deputada federal Dayane Pimentel. Talita critica a correligionária desde que o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), nomeou o marido de Dayane, Alberto Pimentel, para ocupar a secretaria do Trabalho e Esportes, em 2018. A “guerra das listas” deflagrada no Congresso — na qual os 53 deputados do PSL se dividiram entre apoiadores de Eduardo Bolsonaro e de Delegado Waldir para o cargo de líder do partido na Câmara— também incendiou a relação entre Dayane e Talita. A primeira apoiou a manutenção de Waldir e foi atacada pela adversária nas redes sociais.

A maioria dos dirigentes no comando do PSL nos estados prefere não tomar partido na briga entre Bolsonaro e Bivar.

— Sou Bolsonaro, minha esposa (deputada Soraya Manato) vota tudo com o governo, mas não vou entrar na briga de ninguém nem vou deixar o PSL — afirmou o presidente do PSL do Espírito Santo, Carlos Manato.

O principal argumento dos dirigentes para permanecer no partido é o esforço que dizem ter feito para regularizar a sigla.

— Aqui no Amapá o PSL já é o partido com maior número de filiados. Foi muito trabalho para regularizar tudo. Vamos abandonar tudo isso? — justificou o presidente estadual, Guaracy Junior.