Senadores e ministros do Tribunal de Contas da União se juntaram para tentar reconciliar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
O reencontro acontecerá hoje durante um jantar na casa do ministro do TCU, Bruno Dantas. A pauta do reencontro passará pela tentativa de levar Guedes a desinterditar o debate sobre a reforma tributária e, por outro lado, fazer com que Maia aceite alguma tributação extra para financiar a desoneração da folha e o programa de renda básica. O ministro da Economia teme o protagonismo do presidente da Câmara na reforma tributária, enquanto este receia que o tema perca a prioridade se a votação de qualquer novo imposto entrar na pauta.
A ideia dos promotores do encontro é que uma reconciliação entre Maia e Guedes permitiria a união de ambos para convencer o presidente Jair Bolsonaro a cortar benefícios como o “vale alimentação” e o “auxílio creche” de servidores que ganhem mais de R$ 5 mil por um período a ser definido. A estimativa é que o corte, em 12 meses, proporcione uma economia de R$ 5 bilhões se estendida aos três poderes.
O desentendimento entre ambos chegou ao ápice no início da semana passada, quando Paulo Guedes deu curso a um boato de que Rodrigo Maia teria feito “um acordo” com a esquerda para travar as privatizações. Ao responder ao ministro, o presidente da Câmara sugeriu que ele não teria mais condições de permanecer no cargo. “Paulo Guedes está desequilibrado e deveria assistir ‘A Queda’, disse Maia, citando filme sobre o declínio do ditador nazista Adolf Hitler.
O alarme de fato soou quando, na sexta-feira, em um evento fechado com investidores, o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, voltou a criticar a inabilidade de Paulo Guedes para tocar as reformas constitucionais e abrir espaço fiscal para o programa de renda básica.
O ministro da Economia conseguiu do presidente aval para desancar Marinho de volta e recebeu de Bolsonaro o convite para um almoço no sábado no Alvorada. Como se sabe que Rogério Marinho tem aval do presidente Jair Bolsonaro, cresceu no mercado a percepção de que o racha no governo ultrapassara os limites do sustentável, pondo em questão a permanência de Guedes no cargo. Um sinal disso foi a reação do mercado de juros futuros, com uma variação média de 1,2% em um mês e impacto potencial sobre a dívida pública de R$ 36 bilhões.
Além do ministro Bruno Dantas, entraram na articulação os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Katia Abreu (MDB-TO), além do presidente do TCU, José Múcio Monteiro, e o ministro do tribunal, Vital do Rego. O ministro das Comunicações, Fabio Faria, vai pedir autorização para desfalcar a comitiva do presidente numa agenda em São Paulo para participar do jantar.
É Renan, e não Guedes, quem deve propor, no jantar, a saída de uma tributação temporária para zerar o déficit. Depois de ficar por seis meses em sua fazenda em Murici, onde o sinal de celular só pegava num lugar chamado “Serra do Cão”, o senador decidiu voltar para Brasília. E aproximou-se de Paulo Guedes com o leilão de saneamento em Alagoas, que contou com a formatação da secretaria especial do ministério que cuida do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
Na sexta-feira, Múcio conversou por duas horas e meia com o presidente. No encontro, advogou em favor da necessidade de diminuir os atritos internos no governo ante a percepção crescente de que não há mais espaço para os dois ministros, Guedes e Marinho. A articulação também devolve Rodrigo Maia ao eixo da cena política. Além de contaminado pela covid-19, o presidente da Câmara teve seu protagonismo ofuscado pelo líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR) e pelo líder do PP, Arthur Lira (PP-AL).