Política Eleições 2022

Deputados do Podemos incentivam ida de Moro ao União Brasil para ter mais dinheiro para suas campanhas

Para justificar troca de partido, deputados citam rejeição ao ex-ministro em seus redutos eleitorais e exigência de quase metade do fundo eleitoral para a campanha à Presidência
Sérgio Moro, pré-candidato a presidente Foto: Evaristo Sá/AFP
Sérgio Moro, pré-candidato a presidente Foto: Evaristo Sá/AFP

SÃO PAULO — Parte da bancada federal do Podemos defende que o ex-ministro Sergio Moro seja candidato à Presidência pelo União Brasil, partido que nasceu da fusão do DEM com o PSL, aprovada nesta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo os deputados, o ex-juiz teria pedido R$ 90 milhões dos R$ 197,33 milhões estimados do fundo eleitoral da sigla , o que, na visão deles, deixaria pouco dinheiro para a eleição da bancada. Moro e a direção nacional do Podemos negam que tenha ocorrido exigência de valores.

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Outro motivo apontado pelos parlamentares é a rejeição ao ex-juiz entre eleitores de regiões do país que preferem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL). As disputas internas pelos recursos do fundão surgiram como um novo obstáculo na tentativa de viabilização dos candidatos que buscam ocupar a terceira via.

Políticos do Podemos avaliam que, para bancar a campanha de Moro, sobraria pouco dinheiro para investir na ampliação da bancada. A meta da direção nacional é mais que dobrar o número de eleitos em relação a 2018, indo de 11 para 25 deputados. Pela cláusula de barreira, para ter acesso ao fundo eleitoral a legenda precisa eleger 11 deputados. Quanto mais parlamentares entrarem na Câmara, maior a fatia do dinheiro público.

Deputados ouvidos reservadamente pela reportagem dizem que a especulação sobre a ida de Moro para o União “caiu como uma luva” e trouxe “alívio” à bancada, que tem dúvidas sobre as condições financeiras do partido para encabeçar uma campanha presidencial. Há também no incentivo à troca de partido o interesse de parlamentares que não são simpáticos à candidatura de Moro.

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Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-juiz disse que "é falsa" a informação sobre a exigência dos recursos. O Podemos também afirmou, em nota, que está trabalhando na construção de um projeto que será apresentado ao Brasil sob a liderança de Moro.

O partido liderado pela deputada Renata Abreu negou a exigência do presidenciável em relação ao fundo eleitoral como condicionante para a candidatura futura. "O que está em primeiro lugar é o melhor projeto que o Podemos vai oferecer aos brasileiros, tanto para a Presidência quanto para a Câmara e Senado", diz o texto.

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Longe de um acordo

Apesar de incentivarem a saída de Moro, deputados do Podemos avaliam ser pequena a chance do União Brasil abrigar a candidatura do ex-ministro do governo Bolsonaro. Isso porque, segundo eles, o nome do ex-juiz ainda não é consenso dentro da nova sigla e enfrenta resistência principalmente por parte de lideranças do DEM.

Vice-presidente nacional do PSL, o deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP) disse que o mais difícil já foi conquistado, que é reconhecer a simpatia do União com a candidatura do Moro. Agora, é preciso fazer um “ajuste fino de contas”, diz ele.

— Precisamos fazer esse debate (sobre a vinda do Moro) de forma aprofundada, para chamar todos dentro de suas responsabilidades. O interesse local não pode se sobrepor às necessidades do país — afirmou Bozzella, que tem acompanhado o ex-ministro em agendas de campanha. — O candidato que é dirigente precisa saber que tem a responsabilidade com o seu estado, mas, através do partido, também tem responsabilidade com o povo. Tem que olhar os dois lados, não pode ser egoísta.

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A principal divergência dentro do União vem do grupo do ex-prefeito de Salvador ACM Neto, que deseja disputar o governo da Bahia e não quer estar vinculado à figura do ex-juiz. Sem citar o nome de ACM Neto, Bozzella diz que não descarta a possibilidade de um ou outro estado ficar neutro caso o Moro vá para o partido.