SÃO PAULO — O candidato Celso Russomanno , do Republicanos, disse nesta terça-feira que a aplicação das vacinas contra a Covid-19 produzidas pelo Instituto Butantan em parceria com um laboratório chinês deveriam ser testadas primeiro "nas pessoas" do país asiático. O candidato afirmou que não quer que a população de São Paulo seja cobaia. No entanto, qualquer vacina no Brasil só pode ser distribuída para a população em geral após ser testada e aprovada por órgãos técnicos.
— Todos aqui querem uma vacina. Mas se essa vacina é tão boa assim, começa na China, aplicando nas pessoas. Deu certo lá, a gente traz para o Brasil — afirmou Russomanno em evento da Associação Paulista de Imprensa.
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O imunizante está em desenvolvimento pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac Biotech e, ao contrário do que disse o candidato, já foi testado no país asiático nas fases 1 e 2. Os testes no Brasil seguem com 13 mil voluntários na fase 3, estão avançados e apresentam resultados positivos. O Instituto Butantan ressalta que os resultados com mais de 50 mil voluntários na China, a partir de uma vacinação emergencial, demonstraram que a vacina é segura e não apresentou reações adversas significativas. "Do total de voluntários, 94,7% não tiveram nenhuma reação adversa", diz o instituto por meio de nota.
A declaração de Russomanno está em sintonia com o tom adotado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, seu padrinho político na eleição municipal.
— Eu não sou negacionista não, pelo contrário. Quero a vacina o mais rápido possível, agora não quero que a a população de São Paulo seja cobaia de nada — disse Russomanno.
O candidato disse que respeita o Instituto Butantan, mas questionou a forma como o imunizante tem sido desenvolvido nos testes feitos em voluntários.
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Russomanno sugeriu que a vacina deveria ser testada em quem já está doente, além de crianças e idosos.
— A vacina está sendo testada em adultos sãos, nenhum com covid. Não estão sendo testadas em crianças, não está sendo testada nos idosos e não está sendo testada nos doentes. São as etapas por onde uma vacina deve passar. Isso não está acontecendo. Os efeitos colaterais imediatos a gente pode prever, mas os a longo prazo não. Toda vacina tem que passar por esse processo — disse o candidato.
Segundo especialistas, a produção de um imunizante sempre começa por pessoas adultas saudáveis e, caso haja eficácia, idosos, que têm menos resposta imunológica, são testados nas fases seguintes. Além disso, a testagem de pessoas doentes não faz parte desse tipo de estudo clínico, já que a premissa é evitar a doença e não fazer o tratamento do vírus.
O professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo, explica que não faz sentido testar uma vacina em quem já está com a Covid-19, porque como as pessoas doentes já tem o vírus, caso elas desenvolvam imunidade, não é possível saber se foi a vacina ou o vírus que suscitou a imunidade.
— Não faz sentido testar a vacina em quem já teve a doença porque os testes buscam saber se a vacina induz a produção de anticorpos —, afirma Lotufo.
Russomanno tem feito críticas na campanha a proposta do governador João Doria, do PSDB, de impor a obrigatoriedade da vacina. Ainda assim, o candidato havia dito que queria tomar a vacina e que, caso eleito, faria convênio com o Instituto Butantan para adquirir as doses do imunizante. A afirmação causou mal estar em aliados do presidente Jair Bolsonaro, o que fez Russomanno adotar uma estratégia de recuo e voltar a fazer críticas ao tema da vacina. Bolsonaro chegou a contrariar o ministério da saúde e dizer que seu governo não compraria a vacina chinesa.
O tema da vacina contra a Covid-19 tem provocado debate na eleição municipal de São Paulo. O prefeito Bruno Covas tem se mostrado favorável à vacina e dito que cabe à ciência chancelar se pode ou não ser aplicada. Guilherme Boulos, do PSOL, afirma que a vacina é uma prioridade, mas que ressalta que é preciso que seja testada e aprovada. Jilmar Tatto, do PT, entende que o melhor caminho é a obrigatoriedade da vacina. De olho no eleitorado bolsonarista, Márcio França tem dito que acha adequado fazer discussão político-eleitoral sobre a obrigatoriedade da vacina, mas defende um plano emergencial de vacinação em grande escala.