Ibovespa salta quase 3% e recupera os 100 mil pontos contando com Biden na Casa Branca

As urnas não foram ainda totalmente apuradas, mas a expectativa de vitória de Biden (que segue na frente de Donald Trump até aqui) sem que os democratas conquistem também o Senado deve limitar o tamanho do estímulo fiscal, o que compromete menos o tamanho da dívida do país no médio prazo.

Além disso, sem a maioria no Senado, Biden deve ter uma dificuldade maior para a aprovação de aumento de impostos para empresas e regulamentações mais rígidas para companhias de tecnologia, pautas que o democrata defendeu durante sua campanha.

"Se esperava mto mais ruídos nessas eleições, ou grandes movimentos dos resultados com a divulgação dos resultados o que acabou não acontecendo e isso pode ser visto no índice Vix que mede a volatilidade implícita nas opções nos Estados Unidos e esse índice caiu bastante nos últimos dias", afirma Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset. O Vix, também conhecido como índice do medo caiu 6,29% hoje.

Enquanto o mercado segue animado, a novela da apuração continua e a campanha de Donald Trump já entrou com ações judiciais e exigiu recontagens. Contudo, o mercado vê o risco de judicialização atualmente como baixo e, por enquanto, tira esse fator de volatilidade do radar.

Hoje teve ainda a decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que manteve suas taxas perto de zero, conforme amplamente esperado pelo mercado. O comunicado também foi muito semelhante ao da última reunião, mas chamou a atenção do mercado a cautela adotada por Jerome Powell, presidente do Fed, na coletiva de imprensa.

Ainda que não tenha sinalizado nada objetivo em termos de nova ajuda à economia americana, Powell reforçou em seu discurso o tom mais favorável à estímulos. Entre as declarações em destaque, Powell disse que mais ajuda fiscal ajudaria na recuperação da economia e que o Fed está fortemente empenhado em usar todas as suas ferramentas e que “há mais que pode ser feito”.

"Outro fator que está colaborando com a bolsa brasileira é a leva de balanços muito bons, sinalizando uma melhoria na nossa economia. Destaco hoje o resultado espetacular do Mercado Livre, com o qual o Brasil colabora com 60%. Claro que há sempre o risco político no Brasil. Mas acreditamos que o Brasil vai manter um comportamento amigável diante da vitória do Biden, mantendo as relações democráticas e comerciais com os Estados Unidos", afirma Jorge Junqueira, sócio e chefe da equipe de renda variável da Gauss Capital.

O cenário esperado pelo mercado, de Biden na presidência e Congresso dividido entre democratas e republicanos, vem sendo positivo também para o real e outras moedas de países emergentes. O dólar comercial fechou em queda de 1,92% ante o real, cotado a R$ 5,5459. Na semana, a moeda americana acumula perdas de 3,35%.

Segundo o chefe de estratégia de câmbio do Société Générale, Kit Juckes, uma vitória de Biden com Congresso dividido reduz as expectativas de um pacote fiscal mais robusto, o que pressiona menos o Tesouro americano e, consequentemente, a empinação da curva de juros nos EUA.

O ambiente global mais favorável aos ativos de riscos vem reduzindo também as taxas de juros futuros no Brasil. Tanto que o Tesouro Nacional conseguiu vender grande parte dos títulos públicos em leilão de prefixados hoje, sem gerar tanta pressão nas taxas como aconteceu em outros leilões.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2022 caiu de 3,46% no ajuste a anterior para 3,43%, a do DI para janeiro de 2023 recuou de 5,06% para 5,01%. Nos vencimentos mais longos, o rendimento do DI para janeiro de 2025 caiu 6,76% para 6,67% e taxa a do DI para janeiro de 2027 baixou de 7,55% para 7,43%.

As bolsas americanas em forte alta e caminham para encerrar a melhor semana desde o mês de abril.

Veja como fecharam os índices em Wall Street

• Dow Jones: +1,95% (28.390 pontos)
• S&P 500: +1,95% (3.510 pontos)
• Nasdaq: +2,59% (11.891 pontos)

As bolsas europeias fecharam em alta mais uma vez, ampliando os ganhos semanais, com os investidores avaliando positivamente a possibilidade de um governo dividido nos EUA. A valorização de hoje contribuiu para que os principais índices do continente apagassem completamente as perdas expressivas da semana passada.

Veja como fecharam os índices

• Índice Stoxx Europe 600 (vários países): +1,05%
• FTSE (Reino Unido): +0,39%
• DAX (Alemanha): +1,98%
• CAC 40 (França): +1,24%
• FTSE MIB (Itália): +1,93%

As bolsas asiáticas fecharam no maior nível em dois anos em meio a disputa das eleições americanas e na esteira da forte sessão em Nova York na véspera. O índice Nikkei, do Japão, alcançou 24.105 pontos, no maior patamar em nove meses, e Hong Kong teve a maior alta em três meses, de 3,25%.

• Kospi (Coreia do Sul): +2,40% (2.414 pontos)
• Hang Seng (Hong Kong): +3,25% (25.696 pontos)
• SSE Composite (Xangai): +1,30% (3.320 pontos)
• Nikkei (Japão): +1,73% (24.105 pontos)
• ASX 200 (Austrália): +1,28% (6.140 pontos)

As ações da Ultrapar dispararam hoje e conseguiram o melhor resultado do Ibovespa ao subir 15,09% após apresentar resultados operacionais mais fortes do que o esperado no terceiro trimestre. Embora a pandemia de covid-19 ainda tenha afetado os volumes de venda da Ipiranga, todos os negócios do grupo mostraram forte melhora na comparação com o segundo trimestre.

O destaque na ponta negativa ficou com a ação da CSN, que teve queda de 2,15% após o adiamento do IPO de sua unidade de mineração. "Era um evento que poderia destravar valor para a CSN e essa postergação foi bem mal recebida", conta Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset, lembrando que a CSN já anunciou esse IPO em outras oportunidades e nunca foi concretizado.

Das 77 ações que compõem o Ibovespa, 73 fecharam no positivo nesta quinta-feira e o volume financeiro somou R$ 22,9 bilhões.

(Com Valor PRO)