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Pelo menos 42 pessoas já morreram em protestos no Haiti, diz ONU

Protestos ganharam força em setembro e registraram violência de policiais, manifestantes e indivíduos armados
Mourners carry a coffin during a funeral of two men, organised by the Popular and Democratic Sector, in Port-au-Prince, Haiti October 16, 2019. REUTERS/Andres Martinez Casares Foto: ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS
Mourners carry a coffin during a funeral of two men, organised by the Popular and Democratic Sector, in Port-au-Prince, Haiti October 16, 2019. REUTERS/Andres Martinez Casares Foto: ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS

PORTO PRÍNCIPE - Pelo menos 42 pessoas morreram e 86 ficaram feridas desde meados de setembro no Haiti, quando começou uma nova onda de protestos contra o presidente, informou a ONU nesta sexta-feira, manifestando “profunda preocupação” com a violência governamental e de alguns manifestantes e pedindo um "diálogo" entre os haitianos.

Protestos intensos têm sido promovidos há dois meses no país mais pobre das Américas. As manifestações foram desencadeadas por falta de combustível, mas cresceram, com frequência se tornaram violentas e se transformaram em uma campanha ampla contra o presidente Jovenel Moïse.

"Estamos profundamente preocupados com a prolongada crise no Haiti e seu impacto na capacidade dos haitianos de acessar seus direitos básicos à saúde, alimentação, educação e outras necessidades", disse o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR)  em um comunicado.

O relatório indica que as forças de segurança foram responsáveis por 19 das mortes, com o resto dos mortos sendo vítima de indivíduos armados ou de agressores não identificados.

A porta-voz da ONU  Marta Hurtado disse que cerca de 86 pessoas também ficaram feridas desde 15 de setembro. A maioria foi vítima de tiros. Pelo menos um jornalista foi morto e nove outros foram feridos, acrescentou a ONU, exigindo que a liberdade de imprensa seja respeitada.

Desde que chegou ao poder em fevereiro de 2017, Moïse teve que enfrentar a raiva de um movimento de oposição que se recusa a reconhecer a sua vitória em uma eleição amplamente vista como duvidosa.

A raiva aumentou no final de agosto devido a uma escassez nacional de combustível e os protestos com frequência se tornaram violentos. Mesmo antes do início dessa crise, contudo, Moïse foi acusado de corrupção.

Um tribunal de auditores que investia US$ 2 bilhões em ajuda de um fundo de petróleo venezuelano constatou que as empresas administradas por Moïse antes de ele se tornar presidente estavam "no centro de um esquema de apropriação indébita".

Os protestos estão se espalhando: nas últimas semanas, vários grupos profissionais ou sociais foram às ruas contra o presidente, um após o outro, como estudantes universitários e policiais.

O relatório da ONU disse que a maioria das crianças não pode ir à escola desde o início dos protestos, enquanto barreiras e a violência em estradas significam que particularmente as pessoas fora da capital têm dificuldade em acessar "comida, água potável, remédios e combustível".

Não há diálogo em andamento com a oposição, e a economia, já muito fraca, está começando a sofrer. Hurtado reconheceu a dificuldade em reunir os diversos grupos para conversas.

Depois de analisar vídeos da violência, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional disse que forças de segurança diretamente sob o comando de Moïse cometeram alguns dos abusos.

— As forças de segurança sob o comando do presidente Jovenel Moïse usaram força excessiva. Tais incidentes devem ser investigados com rapidez, profundidade e eficácia — disse Erika Guevara-Rosas, chefe do departamento da Anistia nas Américas.

O grupo acrescentou que "verificou casos em que a polícia armada com rifles semiautomáticos disparou munição real durante protestos, violando a lei internacional dos direitos humanos e os padrões internacionais sobre o uso da força".

A Anistia acrescentou que há também imagens que registram a polícia "lançando gás lacrimogêneo de um veículo da polícia em movimento em meio a manifestantes pacíficos, atirando em manifestantes com munição menos letal a uma distância extremamente curta e espancando um manifestante".

Na sexta-feira, surgiu um vídeo nas mídias sociais que mostra um veículo da polícia se chocando contra uma barricada onde um homem não identificado havia se escondido na segunda-feira passada. Poucos minutos depois, o clipe mostra um corpo inanimado sendo retirado dos escombros e carregado por moradores, que tentaram em vão resgatá-lo.

Na hora e data mostradas no vídeo, a polícia havia dito que realizava operações para limpar barricadas em um bairro nos arredores da capital Porto Príncipe. Menos de duas horas após a suposta morte do homem sem nome, eclodiram confrontos entre os moradores e a polícia.

"Dois policiais foram feridos por tiros no pé e no tornozelo ao tentar limpar barricadas na área de Torcel na segunda-feira, 28 de outubro, por volta de 1810, à noite", disse um comunicado da polícia na segunda-feira. Outra declaração policial acrescentou mais tarde que os moradores locais "abriram fogo e atiraram pedras na polícia, que respondeu".