Por Henrique Coelho e Eduardo Tchao, g1 Rio e TV Globo


Policiais prendem suspeitos na Muzema, Tijuquinha e Morro do Banco

Policiais prendem suspeitos na Muzema, Tijuquinha e Morro do Banco

Poucas horas depois da ocupação da Favela do Jacarezinho, que deu início ao programa Cidade Integrada, forças de segurança chegaram a outras comunidades da Zona Oeste do Rio nesta quarta-feira (19). Agentes ocupam a Tijuquinha, o Morro do Banco e a Muzema — regiões de domínio das milícias.

A ação conta com 100 policiais civis e militares do Batalhão Ambiental e foi deflagrada pouco depois das 10h nas três comunidades (veja a movimentação acima). O foco, segundo a PM, vai ser o combate ao comércio ilegal de gás de cozinha, crimes ambientais e construções irregulares.

Até a última atualização desta reportagem, a força-tarefa tinha prendido 30 homens e encontrado, ao menos, 6 construções irregulares na Zona Oeste. No Jacarezinho, outros 2 homens também foram presos. Drogas foram apreendidas e levadas para a Cidade da Polícia.

À tarde, a Polícia Civil detalhou as atividades da corporação na operação na Muzema:

  • Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados prendeu 7 homens que segundo a polícia são milicianos e interditou estabelecimentos de venda irregular de gás e provedores clandestinos de internet;
  • Delegacia de PRoteção ao Meio Ambiente encontrou 2 prédios irregulares em construção e prendeu 8 pessoas, sendo uma delas apontada como o responsável pelos prédios, apontado pela investigação como ligado à milícia do local.
  • Delegacia de Repressão aos Crimes contra Propriedade Imaterial- prendeu 5 apontados como responsáveis por comercializar produtos falsificados explorados pela milícia;
  • Delegacia do Consumidor - interditou 03 estabelecimentos comerciais explorados por milicianos em Campo Grande;

Polícia confirma 32 presos, até o momento, na operação desta quarta-feira (19)

Polícia confirma 32 presos, até o momento, na operação desta quarta-feira (19)

Local usado como depósito de gás clandestino foi encontrado na Zona Oeste — Foto: Divulgação

Movimentação da polícia na Zona Oeste — Foto: Divulgação

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Carro da Patrulha Ambiental da PM na Muzema, durante operação Cidade Integrada — Foto: Eduardo Tchao/TV Globo

Muzema

A Muzema tem sido alvo de constantes operações da polícia e da prefeitura para derrubar construções irregulares, que são erguidas e vendidas para financiar o grupo criminoso. Em dezembro, a força-tarefa demoliu ao menos 8 imóveis erguidos em área de mata.

A região é a mesma onde dois prédios irregulares desabaram matando 24 pessoas em 2019.

As investigações apontaram que, entre os donos dos imóveis, três são policiais militares. Uma estimativa do Ministério Público indicou ainda que os apartamentos e as casas foram avaliados em R$ 6 milhões. Com valor agregado terreno, o montante chegaria a R$ 10 milhões.

Em outra ação, a construção de uma sala comercial irregular foi interrompida.

Sala comercial ilegal em prédio da milícia teve construção interrompida

Sala comercial ilegal em prédio da milícia teve construção interrompida

Além do crescimento desordenado, moradores também reclamam da cobrança de taxas extras para uso de serviços como gás e internet e até do pagamento de 13º salário para bancar os grupos paramilitares.

Policiais militares na ocupação da Muzema para o projeto Cidade Integrada — Foto: Eduardo Tchao/TV Globo

Largada no Jacarezinho

O Cidade Integrada prevê a ocupação social de comunidades e é uma espécie de reformulação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criado em 2008 (veja abaixo imagens da ação no Jacarezinho).

A ação, com 1.200 homens, começou pelo Jacarezinho, na Zona Norte da cidade — onde em maio de 2021 uma operação policial terminou com 28 mortos, a mais letal da história do estado. A comunidade é dominada por uma facção do tráfico de drogas.

Até a última atualização desta reportagem, um homem havia sido preso, cuja identidade não foi revelada. A Polícia Civil tentava cumprir, no total, 42 mandados de prisão e 13 de busca e apreensão de adolescentes.

A situação é de aparente tranquilidade. Já temos o cerco nas imediações. O trânsito nas vias próximas segue fluindo normalmente, e isso é muito importante”, disse o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz. Os trens também circulavam sem interrupções.

Polícia faz ocupação do Jacarezinho

Polícia faz ocupação do Jacarezinho

A intenção de reformar o projeto adotado pelas UPPs foi anunciada em maio de 2021. “O estado não estava presente, não tinha serviço lá dentro”, afirmou o governador Cláudio Castro (PL) na ocasião.

“Damos início a um grande processo de transformação das comunidades do Estado do Rio. Foram meses elaborando um programa que mude a vida da população levando dignidade e oportunidade. As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança”, escreveu.

Agentes da Polícia Civil saem da Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio, e caminham em direção à comunidade do Jacarezinho — Foto: Reprodução/ TV Globo

Resumo do projeto Cidade Integrada:

  • Delegacias farão investigações para ajudar a desestruturar organizações criminosas;
  • A Polícia Militar vai patrulhar ruas e avenidas das regiões;
  • Por fim, as áreas receberão intervenções urbanísticas e sociais.

Em novembro, o g1 mostrou que a ocupação estava prevista para seis grandes comunidades:

  1. Rio das Pedras.
  2. Maré;
  3. Pavão-Pavaozinho/Cantagalo, em Copacabana e em Ipanema;
  4. Cesarão, em Santa Cruz;
  5. Muzema/Tijuquinha/Morro do Banco, no Itanhangá;
  6. Jacarezinho;

Todas essas comunidades possuem forte presença do crime organizado, entre traficantes e milicianos. O Jacarezinho, por exemplo, é área do Comando Vermelho.

Nesta quarta, o governo não informou sobre outros alvos do Cidade Integrada. Mais detalhes serão apresentados no próximo sábado (22). A TV Globo apurou que nesta quinta (20) Castro vai se reunir com o prefeito Eduardo Paes (PSD) para discutir o andamento do programa.

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Policiais saem da Cidade da Polícia em direção ao Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/ TV Globo

“Neste primeiro momento, a ideia é que possamos fazer uma retomada do território”, disse o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz. “Era necessário que fizéssemos este trabalho de cerco e agora é fazer vasculhamento, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão e verificação de antigos mandados de prisão”, emendou.

Segundo Blaz, o Comando de Operações Especiais, que inclui o Bope, chegou ainda na noite de terça (19). Batalhões da Zona Norte e a Coordenadoria de Polícia Pacificadora também foram mobilizados.

“Algumas comunidades ao redor também vão ser ocupadas para o sucesso da operação. Manguinhos e Bandeira 2 são comunidades que estão sofrendo algum impacto”, acrescentou o porta-voz.

Governo do Rio de Janeiro deu início na manhã desta quarta-feira (19) a um novo grande projeto de ocupação social de comunidades. A primeira ação acontece no Jacarezinho — Foto: Reprodução/ TV Globo

Castro: 'Entrada de serviço público'

Na semana passada, ao inaugurar centros de testagem para Covid, o governador disse que o Cidade Integrada não seria “como em outras épocas”.

“Eu tenho certeza de que não é, como em outras épocas, entrar dando tiro nas pessoas. É uma entrada de serviço público, um repensar da segurança pública”, declarou Castro.

“Chegou a hora de repensar até essa questão da ocupação do estado mesmo. É um programa que vem discutir segurança pública de maneira mais ampla e não simplesmente fazer o que foi feito nas outras vezes, que era ocupar e tirar todo mundo e daqui a pouco volta”, detalhou.

Documentos obtidos pelo g1 mostram que a reformulação já vinha sendo discutida pelo menos desde setembro. Um ofício previa, por exemplo, a instalação de projetos sociais destinados a mulheres e idosos no Cantagalo.

O programa das UPPs surgiu em 2008, na gestão do governador Sérgio Cabral. Dez anos depois, sofreu uma grande diminuição, quando o Rio estava sob intervenção federal na segurança pública.

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