Oferecido por


Bolsonaro desautoriza Pazuello e suspende compra da vacina CoronaVac

Bolsonaro desautoriza Pazuello e suspende compra da vacina CoronaVac

A compra da vacina Coronavac pelo governo federal virou objeto de disputa política. O presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e suspendeu a compra do produto desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac com o Instituto Butantan, de São Paulo.

O ministro Eduardo Pazuello anunciou nesta terça-feira (20) a compra de 46 milhões de doses da Coronavac. A medida foi elogiada pelos governadores.

Mas, nesta quarta-feira (21) cedo, em uma rede social, o presidente disse: "A vacina chinesa de João Doria, qualquer vacina antes de ser disponibilizada à população, deve ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”.

Em seguida, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, explicou que o ministério tem uma intenção e não quer comprar a vacina da China. “Não há intenção de compra de vacinas chinesas”, afirmou.

E o site oficial do ministério mudou a própria publicação. Nesta terça (20), a informação era de que o governo negociava a aquisição de 46 milhões, e que seria editada uma nova medida provisória para disponibilizar o crédito orçamentário de R$ 2,6 bilhões. Nesta quarta, se lê que Brasil negocia possível aquisição de 46 milhões de doses, sem referência a valores.

O ministro Pazuello não apareceu publicamente. Ele foi diagnosticado com Covid. Segundo o ministério, seu estado de saúde é estável. Fontes afirmaram ao Jornal Nacional que Bolsonaro conversou com Pazuello por telefone duas vezes nesta quarta.

A resistência do governo federal com a Coronavac já vinha sendo demonstrada. Na semana passada, o governo anunciou o Plano Nacional de Imunização para 2021 sem citar a vacina do Instituto Butantan, o que provocou a reação dos governadores, que disseram que havia um componente político na decisão.

Mas, na segunda-feira (19), o ministro enviou uma carta ao presidente do Butantan, Dimas Covas, informando a intenção de compra da vacina e pedindo documentos sobre o andamento das pesquisas, e deixando claro que a compra só será efetivada depois da liberação da vacina pela Anvisa.

Na tarde desta quarta, no interior de São Paulo, Bolsonaro voltou a dizer que não tem interesse na vacina chinesa: “Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós. Não sei se o que está envolvido nisso tudo é o preço vultoso que vai se pagar por essa vacina para a China”.

Um dos argumentos do presidente Bolsonaro é que a Coronavac ainda não passou da fase de testagem e, por isso, não justifica um aporte financeiro bilionário. Mas o governo já aprovou a aquisição de outras duas vacinas que estão exatamente na mesma fase da vacina desenvolvida em São Paulo, e também sem aprovação da Anvisa: as vacinas AstraZeneca, de Oxford, e do consórcio Covax Facility receberam do governo R$ 4,4 bilhões.

O governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, defendeu o acordo com a chinesa Sinovac. Ele diz que não se deve avaliar a origem da vacina, e sim a sua eficácia. Doria se reuniu com o presidente da Anvisa, Antônio Barra, e também com parlamentares.

“Há três décadas que o Butantan é o maior fornecedor de vacinas para o Ministério da Saúde. O nosso objetivo é de que a vacina do Butantan seja adquirida pelo Ministério da Saúde e distribuída dentro do Sistema Nacional de Imunização, pelo SUS, e aplicada gratuitamente na população brasileira. Esta vacina e as outras vacinas que seguirem também os trâmites da Anvisa e obtiverem a sua aprovação”, destacou Doria.

Nenhuma das vacinas testadas no Brasil contra o coronavírus ainda tem autorização da Anvisa. E a legislação deixa claro que só depois da autorização elas podem ser comercializadas.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, do PSB, disse que o critério não está em discussão. Mas ressaltou que a compra da vacina não pode ser politizada. “Neste momento, é preciso salvar vidas e é preciso libertar os brasileiros do coronavírus, e que a gente tem que estar juntos nesse trabalho. Questões ideológicas, questões eleitorais, devem ser deixadas de lado para que a gente possa caminhar na direção de salvar cada vez mais brasileiros do coronavírus”, destacou.

No fim do dia, o presidente do Supremo, Luiz Fux, recebeu o governador João Doria. Na saída, o governador disse que eles não falaram sobre a Coronavac.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!