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Após 30 anos no tênis, Andre Agassi fala sobre o começo difícil no esporte

Ídolo de uma geração, tenista americano revela as histórias por trás da fama como os relacionamentos amorosos, o uso de drogas e um projeto social

Por Las Vegas, EUA

Na quadra central de Nova Iorque, EUA, dez minutos de aplausos sem parar. Mais de 20 mil fãs de pé para a despedida de um dos maiores tenistas da história. Para Andre Agassi, foram 30 anos dedicados ao esporte, 60 títulos, oito deles em Grand Slams. Mas, para o ídolo, sua vida registrou momentos difícies, como ele revelou em sua biografia em livro que chegou ao Brasil este ano. Nas páginas, Agassi decidiu contar tudo sobre sua vida e desabafou também para o "Esporte Espetacular".

Veja no vídeo ao lado!

Agassi revela que conquistou muito mais do que sonhava conquistar, do que achava que era capaz, mas diz que a entrada no esporte foi muito difícil. Aos 13 anos, o tenista deixou sua vida em Las Vegas para uma academia na Flórida. Uma vida, segundo ele, que nunca quis.

- Eu me sentia abandonado pelo meu pai, que me mandou embora de casa. O tênis sempre acabou com minha infância, com minha vida. Eu queria praticar um esporte coletivo, eu queria ser uma criança normal.

A partir daí, Agassi se tornou um jovem rebelde. Admintiu que fumou maconha dos 15 aos 16 anos. Quando se profissionalizou, no lugar do estilo clássico dos tenistas da década de 80, inovou com roupas coloridas, short jeans, brinco, cabelo comprido.

- Quando cheguei a um palco para o mundo, quis expor minha revolta. E as pessoas achavam que eu estava expressando meu jeito de ser, quando, na verdade, eu não sabia quem eu era.

Mesmo sem gostar de tênis, Agassi chegou muito rápido ao sucesso. Aos 15 anos se tornou profissional. Com 16 fechou contrato com uma grande marca esportiva. E aos 17, o Brasil entrou na sua história. Seu primeiro título na carreira foi conquistado no Brasil, em Itaparica.

- O Brasil ocupa um espaço muito importante na minha história. Foi o primeiro lugar onde ganhei um título. É um sentimento que você nunca esquece.

No dia 11 de dezembro, Agassi vai realizar um amistoso com outro ídolo do esporte, Gustavo Kuerten, no Maracanãzinho, Rio de Janeiro. Foi convidado por Guga para uma partida comemorativa dos 10 anos em que o brasileiro se tornou o número um do mundo.

O eterno ídolo americano disse que Guga foi seu sucessor no estilo ousado de vestir. Jogava com sua tradiciional roupa chamativa e cabelos longos e despenteados. Para Agassi, o maior tenista brasileiro da história deixou o tênis mais alegre. E tem outra coisa no Brasil que Agassi adora:

- Eu amo futebol, porque é um esporte de conjunto. Eu adoro ser parte de um time, queria ter jogado futebol em vez de tênis.

Fã declarado de ronaldo, Agassi tem muitas coisas em comum com o fenômeno. Também conquistou muitos fãs, títulos e mulheres. Namorou a cantora Barbra Streisand, foi casado com a atriz brooke shields, e vive atualmente com a ex-tenista alemã Steffi Graf.

- Eu sempre tentei ter em volta de mim pessoas que pudessem me acrescentar alguma coisa. Quando conheci barbra, eu odiava o tênis, e eu era muito bom no tênis. Barbra Straisand odiava cantar, odiava se apresentar para o público, mesmo sendo uma das melhores cantoras da época. Já a Brooke chegou na minha vida quando nós necessitávamos de pessoas que tomassem conta de nós. Com a Steff, eu já era uma pessoa diferente, já estava preparado para entender a vida em casal.

Foi um desses relacionamentos que levou Agassi ao fundo do poço. No fim do casamento com Brooke Shields, ele enfrenteou uma crise pessoal, cheguando a um ponto em que acheou que iria parar de vez. Do número um para 141 do mundo, o ídolo entrou em depressão e acabou indo buscar refúgio nas drogas.

- Você tem que entender que drogas, especialmente estas que destroem você, elas são sintomas, elas não são o problema. o problema é você precisar de algo que você não está conseguindo alcançar. e eu estava muito desconectado da minha vida. eu odiava o tênis, eu estava num casamento fracassado com a Brooke.

A droga usada por Agassi era a metanfetamina, também chamada de crystal meth. Um estimulante muito forte que em alta dose gera euforia, aumento da autoestima e de concentração. O uso da droga pode causar ataque cardíaco, convulsão, desmaio, problemas sérios de visão e até mesmo a morte.

Agassi foi pego no exame antidoping da associação de tenistas profissionais, mas foi liberado. Ele afirmou que recebeu uma ligação da entidade, mas escreveu uma carta se explicando. Inventou que a droga tinha sido misturada no refrigerante por um ex-assistente e nunca recebeu punição.

Quando a carreira parecia ter chegado ao fim, o personagem que acabou com a segregação racial na África do Sul entrou no caminho. Nesse período mais difícil da carreira, Agassi conheceu um exemplo de vida, que é Nelson Mandela. No país, foi fazer um jogo beneficente e conheceu o líder.

- Ele é um herói para mim. Foi preso por 40 anos, muitos anos, mas sempre de cabeça erguida em busca daquilo em que acreditava. Quando alcançou a liberdade, mudou a forma como os homens olham uns para os outros e ainda se tornou o presidente da áfrica do sul, do mesmo país que antes o repreendeu. E sem mágoas, sem raiva, seus únicos propósitos eram perdoar e entender os outros. Tirei forças disso pra voltar e Mandela é a pessoa que mais admirei em toda a minha vida.

Inspirado em Mandela, Agassi decidiu pela primeira vez jogar tênis para si mesmo e não pelos outros. Foi recuperando posições no ranking. Em 1999, alcançou aquele que acha o título mais importante da carreira. Agassi não acreditou quando se tornou o campeão de roland garros. O título foi o mais marcante para ele porque era o único Grandslam que faltava na carreira. Era o título que confirmava que ele tinha dado a volta por cima e Agassi sabia que seria sua última chance de vencer na França, com 29 anos na época.

 Falando da maior rivalidade da sua geração, Pete Sampras, Agassi revelou que o adversário fora sua maior dor de cabeça.

- Às vezes, eu pensava que era melhor ficar sentado no sofá de casa vendo ele jogar. Por outro lado, ele tirava o meu melhor. Outras vezes, eu o invejava, eu desejava ser um pouco mais como ele.

Contra Sampras, foram 20 derrotas e 14 vitórias. Em finais, o rival venceu por 9 a 7. Outros dois adversários também ficaram engasgados para Andre Agassi. Um deles foi o americano Michael Chang, o outro é o alemão Boris Becker

- Eu derrotei boris oito ou nove vezes seguidas, e a primeira vez que ele me venceu, ele falou coisas muito negativas em 95. Eu continuava odiando o tênis e, depois, eu vejo uma pessoa que parecia ser meu amigo falando coisas ruins sobre mim. Isso me machucou muito, me deixou com raiva e eu decidi usar essa raiva para sempre vencê-lo.

Para agassi, o tenista perfeito seria o suíço Roger Federer com o preparo físico e a velocidade de Rafael Nadal, são os dois maiores jogadores da história segundo o americano.

Foram 21 anos como tenista profissional, 60 títulos, oito de Grandslams, mas a principal conquista de Andre Agassi é a escola que ele criou para ajudar crianças pobres de um bairro de Las Vegas. Criada em 2001 e com o nome do teniste, o local atende a mais de 500 crianças do jardim de infância ao terceiro ano do Ensino Médio. Para a construção, ele investiu 40 milhões de dólares do próprio bolso. Hoje, eventos anuais arrecadam fundos para manter o alto padrão da escola, que custa oito milhões de dólares por ano.

- As crianças são a minha esperança. Esperança de que o mundo pode ser melhor. Tenho certeza de que elas vão lutar por seus objetivos como forma de gratidão por tudo que fizemos por elas e vão chegar lá, vão voltar para esta comunidade, vão fazer a diferença para a próxima geração.

Para continuar na escola, todas as crianças têm que ter, na ponta da língua, o lema do respeito.