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Por Thiago Lima — Rio de Janeiro


Capa da biografia de Jorge Jesus que será lançada no Brasil e em Portugal — Foto: Divulgação

Se há cinco meses Jorge Jesus desembarcou no Brasil quase como um "anônimo" para o povo, hoje, campeão do Brasileirão e da Libertadores em 2019, seu nome já é famoso em todo território nacional. Mas ainda há muitas histórias sobre o técnico do Flamengo que os brasileiros, tampouco os rubro-negros, não sabem a respeito do comandante "carioca-português".

Muitas dessas histórias os torcedores poderão conhecer pelo livro "Mister Jesus, Quebrando Paradigmas no Futebol". Trata-se de uma biografia autorizada pelo treinador e escrita pelo jornalista e comentarista português Rui Pedro Braz, de 41 anos e que há 10 acompanha a carreira de Jesus pela emissora "TVI" de Portugal.

O autor já havia escrito um livro em 2010 sobre a primeira temporada mágica do técnico no Benfica, mas desta vez aceitou o desafio de fazer algo bem mais abrangente, uma espécie de "vida e obra" do Mister. Em aproximadamente 300 páginas, Braz reuniu feitos e curiosidades que ajudam a conhecer melhor sua personalidade e a entender o sucesso de Jesus no Brasil. E ele vai além:

– Nenhum outro treinador português, nem (José) Mourinho (atualmente no Tottenham, da Inglaterra), nem (André) Villas-Boas (atualmente no Olympique de Marseille, da França), nem ninguém conseguiria fazer o que Jesus fez no Flamengo porque não têm esse conhecimento do futebol brasileiro.

Rui Pedro Braz ao lado de Jorge Jesus: autor acompanhou a final da Libertadores em Lima — Foto: Arquivo Pessoal

O livro, que conta com prefácio do ex-goleiro Júlio César, é produzido pela editora "AllBook" e será lançado tanto em Portugal quanto no Brasil no próximo dia 10 de dezembro. No Rio de Janeiro, o lançamento terá as presenças de Jorge Jesus e Rui Pedro Braz, às 14h no Consulado Geral de Portugal, em Botafogo, na Zona Sul da cidade. A biografia já está em pré-venda no site da editora por R$ 59,90.

O GloboEsporte.com bateu um papo com Rui Pedro Braz para ele contar um pouco do livro:

Como surgiu a ideia de escrever uma biografia do Jorge Jesus?

– O meu primeiro ano como comentarista na televisão coincide com a chegada de Jorge Jesus ao Benfica, que foi o primeiro clube grande da carreira dele. Com todo respeito aos outros, Amora, Felgueiras, Estrela da Amadora... Mas que não lutam por títulos. E nesses últimos 10 anos, a minha carreira tem sintonia total com a do Jesus.

– É impossível ter um programa sem falar muitas vezes do JJ, fosse a serviço do Benfica, do Sporting, do Al-Hilal e agora no Flamengo. Então sempre acompanhei de perto, tenho um conhecimento profundo sobre o Mister, e fui procurado por uma editora brasileira para escrever a sua biografia. Entendi que seria uma boa, no sentido de explicar aos brasileiros que nada do que aconteceu foi por acaso.

Então já esperava o sucesso do Mister por aqui?

– No dia em que o Flamengo o contratou, falei com ele que iria ganhar o Brasileirão já esse ano. O Mister é um apaixonado e profundo conhecedor do futebol brasileiro, do que é trabalhar com brasileiros. Só em clubes de primeiro escalão, treinou 108 jogadores brasileiros, entre jovens, internacionais, de seleção...

– Quando lhe perguntam sobre características ideais para um jogador, diz que deve ter o conhecimento tático do italiano, a garra do argentino e a qualidade do brasileiro.

– Nenhum outro treinador português, nem Mourinho, nem Villas Boas, nem ninguém, conseguiria fazer o que Jesus fez no Flamengo porque não tem esse conhecimento do futebol brasileiro. E veja que coincidência: o primeiro jogador brasileiro que o Mister treinou foi Zé Carlos no Felgueiras, goleiro que tem história no Flamengo. Parece que estava escrito pelo destino.

Braz acompanha Jesus desde a primeira temporada de sucesso no Benfica em 2009-10 — Foto: Agência Reuters

Há alguma fase da carreira de Jesus o livro tem maior enfoque?

– Procurei fazer algo mais abrangente, mas o enfoque é mais nos últimos 13 anos. O livro traz histórias da infância, a carreira como jogador e treinador, as polêmicas como o bate-boca com o José Mourinho... Tem todos os 52 clássicos em Portugal; os 124 jogos por competições europeias; como preparou as equipes contra Barcelona, Real Madrid; as estratégia para travar Messi e Cristiano Ronaldo...

– Mais do que uma biografia, é um documento rigoroso e completo do que é a carreira do Mister.

Pode contar alguma passagem do livro para aguçar a curiosidade dos brasileiros?

– Muita gente fala que o Rio é um pouco violento, tem a questão das favelas, os torcedores por vezes são agressivos... Mas isso não é exclusivo do Brasil. Logo no primeiros anos no Felgueiras, houve um adepto que entrou no CT e apontou uma arma para a cabeça do Mister, falando para ele ir embora.

– Ele tinha levado o Felgueiras para a Primeira Divisão, mas depois as as coisas não estavam a correr bem. E diz quem viu que o Mister ficou super calmo, manteve toda a tranquilidade, serenidade, até que o homem se acalmasse e abandonasse o lugar pelos próprios pés.

– Por isso, quando ele disse que se um dia tiver que sair do Flamengo não vai ser por isso (violência), é mesmo verdade. Ele é um homem de coragem, não se assusta fácil.

– Tem outros componentes que no meu entender são interessantes. O debate que se criou no Brasil com a chegada do Mister, sobre a capacidade do treinador brasileiro, se buscarão mais estrangeiros... Decidi me debruçar sobre o tema e tem um capítulo sobre o trabalho de treinadores brasileiros em Portugal.

– Um dos mais marcantes foi o Otto Glória, que lançou as bases do projeto bicampeão europeu, fez a melhor campanha com a seleção na Copa do Mundo de 66, ganhou seis campeonatos em Portugal. O Carlos Alberto Silva, último campeão brasileiro em Portugal; o Scolari (Felipão), que foi à final a Eurocopa de 2004 e ficou em quarto na Copa de 2006... Então não é a nacionalidade que faz diferença.

Jesus foi homenageado com o título de cidadão honorário do Rio — Foto: Dhavid Normando/Futura Press

Quantas páginas são? E quanto tempo levou para escrever?

– São cerca de 300 páginas, não é um livro pequeno. O trabalho de sentar ao computador e escrever foi um processo de mais ou menos dois meses. Mas a pesquisa ao longo desses 10 anos sempre foi feita de forma constante. É algo que faço permanente pelo meu trabalho como comentarista diariamente.

– Tenho registros detalhados das maiores figuras do futebol português. Então, se tivesse que escrever amanhã sobre Mourinho, Cristiano Ronaldo... Eu teria essa pesquisa muito adiantada, com registros de absoluto rigor. Mais ainda sobre Jesus, que sempre foi uma pessoa cujo trabalho acompanhei de perto.

Conviveu muito com o Mister para escrever o livro? Vocês são amigos?

– Foi uma convivência natural do trabalho, sempre muito cordial. Almocei várias vezes com o Mister, e cada conversa com ele é uma lição. Impossível não aprender sobre futebol. Estive com ele em Lima (no Peru, na final da Libertadores), me recebeu na festa. Antes jantei com os familiares dele. É uma relação de grande respeito, admiração.

– Fico feliz em saber que ele também tem esse respeito por mim, senão não teria autorizado a sua biografia.

Sabia que o Jesus vai doar a parte de direitos autorais para o hospital do câncer aqui no Brasil?

– Sim, achei extraordinário, super bacana da parte dele. Acertamos com a editora, para ficar em conformidade com que o Mister pretendia. Fico muito feliz e orgulhoso.

Qual lado do Jesus os torcedores do Flamengo ainda não conhecem?

– O mister vive para o futebol, mas é um homem de família, de grandes valores. Já teve muitas propostas: Milan, Atlético de Madrid, Mônaco, Zenit... Mas nunca quis sair de Portugal enquanto o pai foi vivo. Ele perdeu a mãe há 20 anos e fez luto durante quase 10, só vestiu preto.

Mister na festa do título da Libertadores — Foto: MARCELO DE MELO/AM PRESS & IMAGES/ESTADÃO CONTEÚDO

– O pai dele, Seu Virgolino, ficou doente, e Jesus recusou todas as propostas porque fazia questão de estar perto do pai. Cumpriu a promessa, o pai faleceu em 2017, e só em 2018 ele foi para o estrangeiro. Isto é o Mister. Um homem de valores muito profundos, leal, correto, humilde...

– A forma dele de gritar, ninguém leva isso a mal. Só você ver o carinho especial no trato dos jogadores com ele.

Pelo que conhece do Jorge Jesus, acha que ele fica no Flamengo ou vai sair do Brasil em 2020?

– Não compete a mim opinar, não tenho nenhum conhecimento privilegiado a respeito disso. Tudo que possa dizer é que a concorrência é braba, há grandes clubes querendo tirá-lo daí.

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