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Profissão Repórter - maus tratos animais - 20/11/2019

Profissão Repórter - maus tratos animais - 20/11/2019

No Brasil, 38 milhões de animais são retirados da natureza por traficantes todos os anos. A repórter Nathalia Tavolieri acompanhou o trabalho da Polícia Ambiental de São Paulo, que recebe, em média, cinco denúncias por dia de irregularidades com animais.

Geralmente, são denúncias anônimas que levam os policiais até a casa de criadores ilegais como Jesuilton Menezes Barros, que mora no extremo da zona oeste de São Paulo. Ele captura pássaros na natureza e revende para fazer algum dinheiro.

Polícia Ambiental apreende pássaros — Foto: Reprodução/TV Globo

Em conversa com a reportagem, Jesuilton não nega que pratica a revenda dos animais para faturar dinheiro. "Não tem hipocrisia comigo, a gente já está errado, tem que assumir o que é. Às vezes a gente faz um rolo, vende um ou outro também, se vira como pode."

Criadores ilegais como ele pagam multa de R$ 500 por pássaro irregular. E se o animal for considerado ameaçado de extinção a multa sobe para R$ 5 mil.

Para ser legalizada, uma ave precisa nascer em um criadouro legalizado junto aos órgãos ambientais. Os fiscais flagram muitos casos de tentativa de esquentar um registro falso.

Na casa de Jesuilton foram encontrados 29 pássaros, sendo três deles de espécie ameaçada de extinção. Ao todo, ele terá de pagar uma multa de R$ 29,5 mil de multa.

Pássaro de espécie com risco de extinção foi apreendido — Foto: Reprodução/TV Globo

Um estudo mostrou que 18% dos animais silvestres terrestres são alvos do tráfico. Depois dos mamíferos, as aves são as maiores vítimas.

Além de acompanhar o trabalho da Polícia Ambiental, a repórter Nathalia Tavolieri também conheceu criadores legais como Eduardo Soriano Foz, um empresário de São Paulo que possui autorização do Ibama para manter 49 espécies de animais exóticos e silvestres em casa. Todos são nascidos em cativeiro. Alguns deles foram abandonados pelos donos.

"Todos estão aqui porque infelizmente não podem voltar para a natureza. Se voltar, infelizmente não vão conseguir sobreviver."

Animais na casa de Eduardo Soriano Foz — Foto: Reprodução/TV Globo

A casa de Eduardo também é aberta para receber escolas e instituições em um trabalho educativo de conscientização sobre os cuidados e a preservação dos animais.

Os diversos animais são considerados filhos por Eduardo, mas manter essa família custa caro, cerca de R$ 50 a 80 mil por mês. Para cuidar de todos animais, ele também possui uma equipe de 13 funcionários com biólogos e veterinários.

Eduardo Soriano Foz mostra os animais que possui em casa com a permissão do Ibama — Foto: Reprodução/TV Globo

A equipe do Profissão Repórter também visitou o Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres de São Paulo. Lá os animais silvestres que são apreendidos ou resgatados são tratados por uma equipe de veterinários e biólogos e reabilitados para retornar para a natureza. Veja mais no vídeo abaixo.

Centro reabilita animais apreendidos e resgatados e os devolve para a natureza

Centro reabilita animais apreendidos e resgatados e os devolve para a natureza

Resgate

Na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, o repórter Estevan Muniz acompanhou o trabalho de um grupo de ativistas no resgate da ursa parda Xuxa, que vive encarcerada há 32 anos desde que foi trazida da Romênia, no leste europeu, ao Brasil para divertir pessoas em um circo.

Ursa parda Xuxa antes de ser transportada para o santuário — Foto: Reprodução/TV Globo

Dois veterinários acompanham a operação. Antes de começar, eles usam remédios naturais para acalmar a ursa e evitar uma possível sedação. E quem lidera a equipe é o Marcos Pompeu, um ativista pelos direitos dos animais há mais de 30 anos.

A ursa de 36 anos foi trazida para o hotel fazenda, em Sergipe, em 2010 após ser apreendida pelo Ibama em um circo na Bahia. Além de Xuxa, o Ibama também apreendeu Xande, outro urso pardo, de 38 anos, no mesmo circo. Mas o animal acabou não resistindo e morreu.

"Ele era um animal muito dócil, cerca de 38 anos, mas muito debilitado. Ele sofreu muito no circo. Passou até por algumas amputações nesse período de circo. Ele tinha garras amputadas, o circo acaba mutilando para tentar diminuir a agressão do animal e a chance de lesionar tratador e coisas do tipo", explica o veterinário Genisson Resendes.

Veterinários buscam acalmar a ursa com florais antes do transporte — Foto: Reprodução/TV Globo

A presença de animais em circos é proibida em 11 estados, mas não há uma lei que proíba em todo o território nacional.

Após receber a medicação natural, a ursa parda é preparada para ser transportada para um santuário que fica no interior de São Paulo. Os responsáveis pelo local são Marcos e Silvia Pompeu. Juntos, eles já resgataram mais de 30 mil animais, sempre com sinais de maus tratos.

"Nós temos leões no ranho que não têm as garras", revela Marcos.

A primeira etapa do resgate foi uma viagem de 300 quilômetros entre Laranjeiras, em Sergipe, até o aeroporto de Salvador, na Bahia. Durante o trajeto, os veterinários buscavam o tempo todo tentar acalmar o animal, que por ter ficado muito tempo em cativeiro e sofrido maus tratos, apresenta um comportamento repetitivo e fica pulando.

Ursa parda Xuxa durante transporte — Foto: Reprodução/TV Globo

Depois de dois dias de viagem, a ursa parda é finalmente colocava em um avião e parte rumo para São Paulo para seu destino final, o santuário em Joanópolis.

Rede de proteção

Em São Paulo, o repórter Guilherme Belarmino conheceu a protetora de animais Isabel Elida Carballo, de 80 anos. Ela nasceu na Argentina, morou por 10 anos no Canadá e há 30 anos veio trabalhar como designer no Brasil. O amor pelos gatos sempre existiu, mas o trabalho voluntário com eles ficou ainda mais intenso depois da aposentadoria.

"Eu calculo, aproximadamente, 45 gatos. São 13 anos de trabalho, eu fui pegando gatos de diversos lugares, de pedidos de socorro", conta Isabel sobre o trabalho que faz e a quantidade de gatos resgatados que possui em casa.

Isabel conversa com o repórter Guilherme Belarmino após o resgate de quatro filhotes — Foto: Reprodução/TV Globo

Além de Isabel, Christiane Dubbelt também faz parte dessa rede de proteção de animais. Ela é estudante de medicina veterinária e o trabalho voluntário com os gatos é feito nos intervalos das aulas que dá como personal trainer.

"Os adultos saudáveis e mais jovens a gente leva nas feiras de adoção para tentar dar uma oportunidade de uma família para eles. A gente não quer acumular, não quer ter muitos."

Para alimentar, medicar e tratar dezenas de gatos, Isabel gasta cerca de R$ 3 mil por mês. Uma conta que só com o dinheiro da aposentadoria, ela não consegue pagar. Mas ela conta que sempre busca um jeito para conseguir o dinheiro.

"Eu faço rifas e peço para as pessoas que colaborem também e ajudem", diz Isabel.

Muitos dos gatos resgatados por Isabel e Christiane são encontrados em cemitérios pela cidade de São Paulo. As buscas são sempre acompanhadas por um funcionário do cemitério. Os animais são encontrados em túmulos de famílias.

Christiane precisa entrar em túmulos para encontrar gatos abandonados em cemitérios — Foto: Reprodução/TV Globo

Em um dia de busca que o repórter Guilherme Belarmino acompanhou, a dupla conseguiu encontrar quatro filhotes de gatos e a mãe deles.

"Eles agora precisam crescer, a gente vacina, vermifuga e com mais ou menos dois meses castramos. Depois fotografamos, divulgamos e tentamos encontrar lares para eles", diz Isabel. Veja a reportagem completa no vídeo acima.

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