• Mariana Grilli
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Com 31 mil produtores cadastrados na carteira de clientes, a fintech — como são chamadas as startups para o setor financeiro — Nagro apresentou 48% de crescimento desde junho do ano passado.

Lançada em 2018, com o primeiro aporte de um investidor-anjo, a empresa recebeu uma nova rodada de investimentos em 2020, somando R$ 4,8 milhões no acumulado dos dois aportes.

Produtor rural toca a dela de smartphone defronte à plantação. (Foto: Getty Images)

Na foto, produtor rural toca a dela de smartphone defronte à plantação. (Foto: Getty Images)

A maior parte dos produtores que já aderiu ao financiamento da agtech fatura até R$ 360 mil por ano, o que configura o perfil de pequeno produtor, segundo Gustavo Antonio Alves, CEO da empresa.

Ele explica que a partir de 0,9% ao mês, as taxas de juros vão sendo parametrizadas de acordo com o risco da operação, mas todas visam majoritariamente o pequeno e médio produtor, que é quem tem mais dificuldade de contratar algum tipo de crédito pelas ferramentas tradicionais do governo federal.

"A principal dor do produtor é a incerteza se vai ter ou não o crédito para usar na hora certa"

Gustavo Antonio Alves, CEO da Nagro

“A principal dor do produtor é a incerteza se vai ter ou não o crédito para usar na hora certa. Por isso, algumas linhas de crédito conseguimos atender em 48 horas”, explica Alves.

Ele esclarece ainda que, mesmo diante da agilidade, são verificados critérios fiscais, judiciais, ESG (ambiental, social e governança) até o endividamento do cliente e a produtividade por hectare, a depender do perfil do crédito requerido.

Apenas em maio, a Nagro liberou mais de R$ 2,7 milhões para clientes e o CEO afirma que os recursos do Plano Safra terem se esgotado na entressafra contribuíram para o volume recorde da agtech, à medida o produtor estava ávido para ampliar a produção, fazer manutenções como a correção de solo e ainda reduzir os riscos da crise hídrica.

Este é um exemplo de como as fintechs do agro têm sido um plano B para a tomada de crédito por parte dos produtores. E isso é uma tendência em franca expansão, de acordo com Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups.

Ele indica um movimento chamado de “fintechização”, em que mesmo empresas que estão em outros setores podem evoluir para um modelo de financiamento ao cliente. Seja uma startup para entrega de comida que se transforma em uma financiadora dos restaurantes, ou um negócio voltado para previsão de tempo que passa a financiar recursos com base no clima.

“A maioria do dinheiro vem da captação de investidores ou, então, recurso próprio, por isso o grande desafio das fintechs é o volume. No campo, vemos que ainda há um limite de quanto conseguem emprestar, porque depende de quanto dinheiro conseguem captar dos investidores”, comenta Matos. Ainda assim, ele diz que este perfil de agtech está se expandindo, porque o perfil do produtor está mudando. “Estão se abrindo mais para tecnologias.”

Bernardo Fabiani, CEO da agtech TerraMagna, admite que muitos clientes ainda preferem ter atendimento preferencial, no estilo “comer um bolo com o gerente na agência”. Ainda assim, a startup percebeu um aumento substancial de demandas no mês de maio por causa do congelamento do Plano Safra e a alta do dólar.

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“Enquanto na safra passada, ele [produtor] comprou no dólar baixo e vendeu no dólar alto, existe o sério risco de, nesse ano, essa curva se inverter. Por isso, ele adiantou ao máximo possível a compra dele”, conta Fabiani ao dizer que 85% dos clientes já estão com a safra 2021/22 negociada.

Igualmente à Nagro, a TerraMagna também mira no pequeno e médio produtor, que é “desassistido  pelo repasse obrigatório e, por outro lado, é muito tomador de crédito comercial, que o financiador recebe só no final da safra”, segundo o executivo.