Por Cristina Boeckel, G1 Rio


Lagoa que se forma em frente ao ponto de captação da Estação do Guandu, no RJ — Foto: Francisco de Assis/ TV Globo

O processo de recuperação do Rio Guandu, no Rio de Janeiro, custaria mais de R$ 1,4 bilhão e levaria, pelo menos, 30 anos, segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo. Segundo análise do Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim (Comitê Guandu-RJ), a melhora da qualidade da água que chega nas torneiras da maioria da população da Região Metropolitana só será possível com o tratamento do esgoto.

As cidades de Nova Iguaçu e Queimados, por exemplo, seriam responsáveis pelo despejo diário de 56 milhões de litros de matéria orgânica por conta dos afluentes. A conta que levou a este número levou em consideração a população das cidades e o consumo médio de água. Este valor equivale ao despejo de 22 piscinas olímpicas diárias ou 648 garrafas de um litro de esgoto sendo jogadas por segundo nos afluentes do Guandu.

"A água que chega para a Cedae captar é de baixa qualidade, pois recebe material orgânico de cidades nos afluentes do Rio Guandu, como Nova Iguaçu, Queimados e Japeri”, destacou a engenheira ambiental da PUC-Rio Daiana Gelelete.

Segundo a engenheira, que faz parte do comitê, a melhora na qualidade da água que chega aos cidadãos só será possível com investimento em esgotamento sanitário na região. Para isso, seria necessária a integração entre estado, órgãos gestores e de segurança hídrica, além da participação de municípios próximos.

“Não levaria 30 anos para começarmos a ver os resultados, mas para concluir o projeto. Os resultados poderiam ser vistos logo, com a melhora na qualidade local impactando na qualidade geral da água”, ressaltou a engenheira.

Água vinda dos afluentes que deságuam no lago formado pelas águas do Rio Guandu tem qualidade considerada ruim pelo Inea — Foto: Francisco de Assis/ TV Globo

Usando como base dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Gelelete conta que a qualidade da água do Rio Guandu é média. Já os afluentes que deságuam no lago do Rio Guandu, onde acontece a captação da Cedae, são de qualidade ruim.

De acordo com ela, os rios Queimados, Ipiranga e Poços recebem uma infinidade de detritos ao longo de seu caminho, fazendo com que a qualidade possa ser classificada como ruim ou muito ruim.

“O Rio Guandu possui uma qualidade média pois a transposição da água do Rio Paraíba do Sul depura parte deste esgoto”, destacou a engenheira ambiental.

Impacto nos custos

Segundo Daiana Gelelete, um dos impactos da qualidade ruim da água que chega para ser tratada é o aumento do custo de tratamento, que acaba impactando no valor cobrado dos consumidores.

“Quanto pior a qualidade da água que você capta, maior é a quantidade de recursos aplicados para tratar a água”, ressaltou.

Funcionários da Cedae prestam depoimento nesta sexta-feira (17) — Foto: Bárbara Carvalho/GloboNews

Depoimento

Três funcionários da Cedae prestam depoimento na manhã desta sexta-feira (17) sobre a qualidade da água na Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados. Eles estavam acompanhados de dois advogados.

A polícia do Rio investiga a crise da água, que tem chegado às casas com gosto e cheiro de terra. Na véspera, investigadores estiveram nas instalações da estação de tratamento de água do Guandu, responsável por cerca de 80% do abastecimento da Região Metropolitana.

Nesta sexta, uma nova diligência será realizada no Guandu.

Uma nova diligência deve ser realizada na Estação do Rio Guandu na manhã desta sexta-feira (17) — Foto: Reprodução/ TV Globo

Transposição

Adacto Ottoni, professor de Engenharia Ambiental da Uerj, sobrevoou o sistema da Cedae no Globocop nesta sexta-feira (17). Ele explicou que mesmo o Rio Paraíba do Sul, de onde vem a água do Guandu, está poluído. Ele concorda que a situação é pior nos afluentes, que podem perpetuar o problema da geosmina.

"A água verde-escura é dos rios Queimados e Ipiranga, com muito esgoto, e fica parada na lagoa — o principal fator de produção de algas. Você tem que desviar a fonte de nutrientes dessas algas", detalha.

Especialista analisa rios que desembocam no Guandu

Especialista analisa rios que desembocam no Guandu

Equipamentos

Na manhã desta sexta-feira (17), os equipamentos necessários para a aplicação de carvão ativado chegaram à Estação de Tratamento do Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Três carretas saíram de Mogi das Cruzes (SP) com um silo, dois tanques, uma caixa dosadora e uma bomba.

Esse maquinário será acoplado à linha de produção do Guandu nos próximos dias, para que a filtração com o carvão possa começar.

A promessa da Cedae é que na semana que vem a água chegue às torneiras sem geosmina. Liberada por microalgas, a enzima tem alterado o gosto e o cheiro da água há pelo menos 15 dias.

Peças da Cedae para carvão ativado chegam ao Rio

Peças da Cedae para carvão ativado chegam ao Rio

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!