Edifício sede do Banco Regional de Brasília (BRB) — Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Empresários do Distrito Federal afetados pela pandemia do novo coronavírus afirmam encontrar dificuldades para ter acesso a linhas de crédito do programa Supera-DF, do Banco de Brasília (BRB), criado para ajudar empresas durante a crise.
A iniciativa promete R$ 2 bilhões para estabelecimentos que tiveram prejuízos por conta da Covid-19. No entanto, empreendedores ouvidos pela reportagem reclamam da demora na liberação do dinheiro, o que, segundo eles, dificulta o pagamento de contas.
De acordo com o BRB, das 5.164 empresas que procuraram o banco para ter acesso à linha de crédito, 1.803 foram atendidas. A instituição afirma ainda que já liberou R$ 783,7 milhões em 60 dias e que o aumento nas solicitações causa o tempo de espera maior que o usual (veja mais abaixo).
Sem receita
Dono de um bar e restaurante, Gustavo Antony afirma que tenta conseguir a linha de crédito do BRB há quase dois meses. Ele alega que o estabelecimento foi inaugurado no ano passado e, com a suspensão das atividades decretada pelo governo do DF, está sem receita desde março.
“A maioria dos bancos que atendiam a empresa já não vinham concedendo crédito algum, alegando que se tratava de CNPJ novo e faturamento baixo. Com o início da quarentena, piorou muito.”
Social Lab Bar no DF, imagem em arquivo — Foto: Social Lab Bar/Divulgação
O empresário conta que fez o primeiro contato com o banco no dia 24 de março e afirma que frequentemente liga para a agência do BRB. Segundo ele, a aprovação não foi concedida ainda devido a débitos de gás e energia.
“O maior problema são as empresas que estão negativando os empresários em plena pandemia.”
Micro empresário do DF, Gustavo Antony no seu bar e restaurante — Foto: Gustavo Antony/Arquivo pessoal
Segundo Antony, o dinheiro é fundamental para que o restaurante possa manter serviços de energia elétrica, internet e sistema de vigilância, mesmo durante a suspensão das atividades. “O crédito tem que sair. Os empresários que preservaram empregos e, consequentemente, o bem estar de famílias inteiras devem ser priorizados".
Expectativa
Micro empresário do DF, João Pedro Franco, de 24 anos — Foto: João Pedro Franco/Arquivo pessoal
Outro caso semelhante é de João Pedro Franco, de 24 anos, dono de um restaurante no DF. Ele afirma que também tenta obter a linha de crédito desde março, mas o processo ainda está em análise no Banco de Brasília.
“Eles me deram um prazo inicial de sete dias. Já estamos na terceira semana de maio, dois meses depois, e eu não tive nem um parecer do banco para falar se eu estou apto ou não a receber o crédito.”
João Pedro conta que, com a crise, o faturamento do restaurante caiu para 10%. Por isso, decidiu suspender totalmente as atividades, já que o delivery não era viável para a empresa. “Estou na expectativa de conseguir uma linha de crédito, esse respiro para ver se consigo pelo menos continuar o meu negócio e salvar 26 empregos.”
Crédito aprovado
Após 45 dias tentando obter a linha de crédito, Naiara Bispo, de 35 anos, dona de uma franquia de fast food na capital, conseguiu o empréstimo. "Eu ligava para o gerente do BRB pelo menos 3 vezes ao dia”, diz.
A empresária contou ao G1 que a empresa é nova e não tinha como comprovar o faturamento. “Tive que completar informações com dados do meu outro trabalho (contracheque) e pediram uma série de documentos”, afirma.
“Com muito custo e depois de a gente ameaçar fechar a conta que tínhamos acabado de abrir, eles ligaram pra gente informando que estava liberada a linha de crédito.”
O que diz o BRB
Agência do BRB no DF — Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília
Sobre as solicitações não aprovadas, o BRB informou que realiza análise de crédito de todos os clientes que procuram o banco, seguindo as práticas de mercado.
Já com relação ao prazo para deferimento ou negativa dos pedidos, o banco afirma que registrou aumento no volume de solicitações e, por causa da pandemia, houve a necessidade de revezamento dos empregados. Por isso, “o tempo de resposta tem ultrapassado o prazo usual”.
Detalhes sobre como funciona o processo de solicitação de crédito pelo Supera-DF podem ser encontrados no site.
Linha de crédito a juro zero no DF
Na quarta-feira (20), a Câmara Legislativa do DF derrubou um veto do governador Ibaneis Rocha (MDB) e autorizou a criação de uma linha de crédito emergencial para empresas afetadas pela pandemia.
De acordo com o projeto, o BRB poderá criar uma linha de capital de giro destinada à manutenção da produção e para garantia do pagamento de salários dos empregados das micro e pequenas empresas beneficiadas.
Segundo o texto, o crédito será oferecido a juro zero e as companhias não poderão demitir funcionários. Para isso, deverão apresentar um plano de manutenção de empregos.
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