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Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

A cidade do Rio de Janeiro caminha para a fase 3 do processo de flexibilização das regras de isolamento social. No entanto, o prefeito Marcelo Crivella admitiu que nada impede a capital de recuar a qualquer momento. Ao comentar o número de 239 mortos por Covid no estado, registrados na terça-feira, ele deixou claro que são os indicadores que ditarão a velocidade e até mesmo a direção da reabertura.

"Pode sim (voltar atrás). Você sabe que isso aconteceu em Curitiba e, depois, em Porto Alegre. As medidas que foram tomadas na fase 4 voltaram para a 2", disse o prefeito, que fez questão de destacar os índices cariocas:

"Agora, deixa eu falar uma coisa, o número no estado foi de 239. Só na capital a nossa média histórica é de 180, 190 por dia. No início de junho, na cidade do Rio, em vários dias nós tivemos menos óbitos este ano, com toda a crise do coronavírus, do que no ano passado. Por exemplo, em 2019 nós sepultamos 201 cadáveres no dia 11. Este ano foram 197, quatro a menos. Mas tem outros dias, 12, 14, 15 que a gente sepultou no Rio 10, 8 pessoas a menos."

Os 239 mortos representam o recorde do estado do Rio nos últimos 12 dias. Uma marca que coincide com o início da reabertura do comércio em muitas cidades, além da própria capital. Crivella admitiu que, mesmo com uma curva de casos apontando para baixo na cidade do Rio, o crescimento em outros municípios também pode influenciar em suas decisões.

"Nós não temos ingerência sobre a reabertura dos municípios da Baixada Fluminense. Mas eles afetam a gente. Por quê? Porque nós somos o gestor dos leitos do SUS. Então uma pessoa em Paracambi, lá no finalzinho da Baixada, que precisa de um leito de emergência, pode estar internada aqui no meu Gazolla ou no Riocentro. Porque a fila é uma só. Não são só cariocas na fila dos hospitais do Rio. São os fluminenses da Região Metropolitana 1. Então, pode a reabertura do comércio em Belford Roxo, Nilópolis ou em outros municípios afetarem a gente. E afetando a gente, vamos ter que recuar. Chamar vocês aqui, os clubes, os shoppings e dizer 'Subiu isso aqui'. E com nossos números não tem discussão. Estamos com números clínicos. De leitos, prazos das pessoas dentro do leito, demanda por UTI, óbitos... Estamos monitorando o tempo todo", disse.

Um passo atrás

A coletiva ocorreu após reunião com representantes de clubes participantes do Campeonato Estadual de futebol. Crivella deu o aval da prefeitura para a retomada da competição. Mas reconheceu que o futebol, assim como os shoppings e demais setores, precisam estar sempre preparados para dar um passo atrás.

"Se essa previsão (de surgimento de novos picos) se cumprir, nós damos marcha ré e voltamos sem vergonha nenhuma. A gente retrocede. Ninguém tem compromisso com o erro. A gente conhece muito pouco da doença. Estamos tentando fazer o melhor possível, mas, se escorregar, a gente volta. Nós nos baseamos nas curvas de matemáticos e de economistas, nas curvas de contágio. E elas são muito favoráveis", disse o prefeito, antes de explicar:

"No dia 15, que foi ontem, estaríamos com velocidade de contágio em torno de 0,001, que foi quando se deu abertura no mundo inteiro. Se você viu o que nós abrimos do dia 1º ao dia 15 foi praticamente nada. então estamos tranquilo. Mas se houver qualquer indício... Subiu óbitos, internações, tem mais gente apresentando sintomas gripais, pode ter certeza que vamos reunir vocês e dizer 'Acabou. Vamos parar de novo'. Se Deus quiser, isso não vai acontecer. Mas, se acontecer, estamos preparados para voltar atrás."

O início desta semana foi marcado pela reabertura do Mercadão de Madureira. Outros shoppings populares, como o Saara, no Centro, também estão passando pelo mesmo processo. Apesar das aglomerações registradas, a secretaria de vigilância sanitária Márcia Rolim avaliou como positivo o primeiro dia no centro comercial da Zona Norte.

"É um shopping popular e temos a proposta de torná-lo um modelo. Na terça e nesta quarta nós estivemos lá e ficaremos até sexta. Por enquanto não temos aglomerações. Verificamos demarcações, cumprimento das regras de ouro, todo mundo utilizando máscara. Quem não estava com máscara foi solicitado, advertido no momento, porque pode sofrer infração. Havia sinalização em todas as áreas de circulação, observamos dispenser de álcool em gel, limpeza constante de três em três horas. Tudo o que é exigido nas regras sanitárias estava cumprido", afirmou Márcia, para só então observar que, ao contrário dos lojistas, os consumidores não obedeceram às recomendações.

"O poder público está fazendo seu papel, está fazendo a vigilância da parte administrativa e dos lojistas. Mas precisamos que a população se conscientize e cumpra também as regras de ouro."