Moedas e Juros

Por Gustavo Ferreira, Valor Investe — São Paulo

Chegou o esperado corte de 0,75 ponto na meta dos juros básicos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) do Brasil levou a Selic ao novo piso histórico de 2,25% ao ano nesta quarta-feira (18).

É a taxa de referência mais baixa desde 1999, quando o nível de preços no Brasil passou a ser controlado pelo regime de metas de inflação. Foi o oitavo corte consecutivo na rota iniciada em agosto passado, quando a Selic começou a descer do seu então piso histórico, de 6,5% ao ano.

A decisão seguiu o roteiro já desenhado há 42 dias atrás. Em seu último comunicado, quando deu uma tesourada de mesma magnitude na Selic, a autoridade monetária apontava para possível repeteco. E, nas últimas semanas, fazia acessos na imprensa para a confirmação desse caminho.

No comunicado desta noite, o BC registrou que "novas informações sobre a evolução da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos" em decisões futuras sobre juros.

Os diretores do BC, que tomaram a decisão por unanimidade, alertam para o risco de aumento excessivo de gastos e a possível descontinuidade do processo de reformas, iniciado no ano passado com a da Previdência. No documento, esse é apresentado como um possível obstáculo para a manutenção da Selic nos níveis atuais.

Pavimentou a nova referência nacional de juros para os mercados de crédito e investimentos, que passa a valer nesta quinta-feira (18), a inflação bem abaixo da meta estipulada para 2020.

A meta do Banco Central neste ano é entregar uma variação média dos preços medida pela IPCA de 4% em 12 meses, com intervalo de tolerância de entre 2,5% e 5,5%. A última medição feita IBGE aponta inflação abaixo do piso em maio, de 1,88% ao ano.

O pano de fundo principal para o que já foi dragão décadas atrás agora ser apenas uma lagartixa é a pandemia de covid-19. O Brasil ruma para 1 milhão de infectados, e a doença mata milhares diariamente. E, enquanto isso, a economia do Brasil, que patina para engrenar desde o fim da recessão de 2017, tem neste ano para enfrentar a maior contração mundial em quase um século.

Sobre a pandemia, o Banco Central pondera que "apesar da provisão significativa de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador".

De certa forma, o BC fez eco ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Como a autoridade monetária dos Estados Unidos também vem reforçando, a do Brasil afirma que "a incerteza permanece acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo semestre deste ano".

Com a renda das famílias brasileiras sendo achatada (ou desaparecendo) enquanto duram as necessárias medidas de isolamento, o consumo tem minguado ainda mais. A lei de oferta e procura entrou em ação, preços vem sendo levados a cair ou subir menos; e o Banco Central, a baixar juros outra vez.

A ideia de baixa juros neste momento, em linhas gerais, é simples. Diminuir o custo de empréstimos e financiamentos para estimular o consumo, de modo que os preços voltem a se aquecer.

Outro efeito esperado é que que as ações na B3 ganhem mais fôlego. Com juros ainda mais baixos na renda fixa, quando não estão negativos, não resta alternativa a não ser topar os riscos das bolsas, caso ainda se sonhe com rendimentos fartos.

Por outro lado, com rendimentos fixos baixos por aqui, mais dólares tendem a ir embora ou deixar de embarcar no Brasil, cujos juros são de primeiro mundo, mas a economia real é emergente.

Caso essa alta do dólar vire inflação, com o aumento de custos em moeda estrangeria de produtores sendo repassado a consumidores, pode até ajudar o BC a entregar a meta no fim do ano - a demanda, mesmo com juros baixos, pode não reagir como se espera em plena pandemia.

LEIA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO

Em sua 231ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 2,25% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

No cenário externo, a pandemia da Covid-19 continua provocando uma desaceleração pronunciada do crescimento global. Nesse contexto, apesar da provisão significativa de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador;

Em relação à atividade econômica, a divulgação do PIB do primeiro trimestre confirmou a sua maior queda desde 2015, refletindo os efeitos iniciais da pandemia. Indicadores recentes sugerem que a contração da atividade econômica no segundo trimestre será ainda maior. Prospectivamente, a incerteza permanece acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo semestre deste ano;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;

As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 1,6%, 3,0% e 3,5%, respectivamente;

No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,95/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 2,0% para 2020 e 3,2% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2,25% a.a. e se eleva até 3,00% a.a. em 2021; e

No cenário com taxa de juros constante a 3,00% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,95/US$*, as projeções situam-se em torno de 1,9% para 2020 e 3,0% para 2021.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso a pandemia se prolongue e provoque aumentos de incerteza e de poupança precaucional e, consequentemente, uma redução da demanda agregada com magnitude ou duração ainda maiores do que as estimadas.

Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 2,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021.

O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno. O Comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, são decisivas para determinar o prolongamento do estímulo.

Neste momento, o Comitê considera que a magnitude do estímulo monetário já implementado parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da Covid-19. Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual. No entanto, o Copom segue atento a revisões do cenário econômico e de expectativas de inflação para o horizonte relevante de política monetária. O Comitê reconhece que, em vista do cenário básico e do seu balanço de riscos, novas informações sobre a evolução da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

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