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Ferry admite que espera 'segunda onda de Covid-19' após reabertura do comércio no Rio

Declaração foi dada pelo secretário estadual de Saúde durante inauguração do hospital de campanha de São Gonçalo, nesta quinta-feira: unidade já havia sido adiada seis vezes
Secretário Fernando Ferry, durante inauguração do Hospital de campanha de São Gonçalo, nesta quinta-feira Foto: Divulgação / Governo do Rio
Secretário Fernando Ferry, durante inauguração do Hospital de campanha de São Gonçalo, nesta quinta-feira Foto: Divulgação / Governo do Rio

RIO — Depois de seis adiamentos, o hospital de campanha de São Gonçalo foi enfim inaugurado na tarde desta quinta-feira. Apenas 40 dos 200 leitos previstos estão prontos, 20 deles de UTI e outros 20 de enfermaria. Depois do hospital do Maracanã, a unidade é a segunda de seis anunciadas pelo governo do estado a receber pacientes. A próxima a ser aberta deve ser o Hospital de Campanha de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ainda sem data.

Durante a cerimônia de inauguração da unidade, no Clube Mauá, o secretário Fernando Ferry admitiu que, com a retomada das atividades econômicas no estado, espera uma nova onda de casos da Covid-19:

— Esperamos uma segunda onda com a abertura da economia. A economia tem que abrir, porque a arrecadação caiu muito e daqui a pouco não haveria dinheiro nem para pagar os médicos. Já caiu também o número de internações, mas a gente tem que estar preparado porque é possível que venha uma segunda onda — declarou.

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Quinze médicos e cerca de 300 profissionais de enfermagem, entre técnicos, auxiliares e enfermeiros, compõem o quadro do hospital, que, de acordo com Ferry, já deve começar a receber pacientes através do sistema de regulação a partir das 19h desta quinta-feira.

— Não falta RH, não falta remédio, temos 40 respiradores funcionando, aptos para receber pacientes e espero que em breve a gente consiga outros 20 para aumentar a capacidade. Os leitos já foram oferecidos para a central de regulação e a partir das 19h já começaremos a receber pacientes — afirmou o secretário.

Expectativa do governo é de que hospital de campanha em São Gonçalo, inaugurado nesta quinta-feira, comece a receber pacientes da fila de regulação do estado a partir das 19h Foto: Letícia Lopes
Expectativa do governo é de que hospital de campanha em São Gonçalo, inaugurado nesta quinta-feira, comece a receber pacientes da fila de regulação do estado a partir das 19h Foto: Letícia Lopes

De acordo com a Secretaria de estado de Saúde, a taxa de ocupação nesta quinta, considerando todas as unidades da rede estadual destinadas à Covid-19, está em 59% em leitos de enfermaria e em 60% em leitos de UTI. No total, em toda a rede pública, 18 casos suspeitos ou confirmados de coronavírus aguardam transferência para enfermaria e 50 para UTI, que podem ser regulados para diferentes redes, sejam ela municipal, estadual ou federal.

A rua de acesso à unidade, que chegou a ser apresentada como um dos entraves para sua inauguração, por ainda não estar asfaltada, teve o calçamento concluído horas antes da abertura do hospital, prevista para às 15h, mas que só aconteceu por volta das 16h. O hospital de campanha de São Gonçalo deveria ter sido entregue pelo Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) no dia 30 de abril, e o de Nova Iguaçu, em 19 de maio, mas as datas anunciadas foram adiadas diversas vezes.

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Em meio aos atrasos, a Organização Social (OS) foi afastada pelo estado depois de um escândalo envolvendo a cúpula da Secretaria de Estado de Saúde, que culminou na prisão do subsecretário executivo de Saúde Gabriel Neves e na exoneração do então secretário estadual de Saúde, Edmar Santos. A gestão dos hospitais de campanha passou para a Fundação Estadual de Saúde.

No último dia 11, o Iabas apresentou um recurso administrativo à Anvisa para 135 equipamentos de combate ao novo coronavírus retidos no aeroporto do Galeão serem liberados. A organização social acusa o governo do Estado de burocracia para a entrega dos equipamentos, que teriam sido aprovados para o tratamento de pacientes com o vírus pela Food and Drug Administration (FDA), agência de saúde dos Estados Unidos.

O risco da segunda onda

O entendimento da população sobre a importância dos cuidados pessoais para evitar a disseminação do novo coronavírus é fundamental, de acordo com o infectologista Edimilson Migowsky, para mitigar o risco de uma nova onda de contaminação da doença.

— Após três meses de quarentena, torço para que a população tenha aprendido a usar máscaras, tenha entendido que é importante evitar aglomeração de pessoas e tenha adotado a correta higienização das mãos. A população jamais pode entender a reabertura do comércio ou o afrouxamento das medidas de quarentena com o relaxamento dos cuidados pessoais. É preciso afrouxar sem relaxar, sem tratar esses cuidados com desleixo — afirma o especialista.

A presidente da Sociedade de Infectologia do estado do Rio, Tânia Vergara, ressalta que a capacidade de internação dos hospitais para pacientes de Covid-19 não pode ser reduzida.

— É fundamental manter os hospitais funcionando e com leitos disponíveis. Os efeitos de uma medida de cada fase da reabertura demoram ao menos duas semanas para serem sentidos. O trabalho de acompanhamento dos dados é importante e, além disso, a população não pode descuidar dos novos hábitos. Estamos vendo muita gente usando máscaras no queixo ou no pescoço e deixando de lado o álcool em gel. Se todos fizerem sua parte, pode ser que consigamos passar por essa reabertura sem um grande desastre — alerta Vergara.