O mês de outubro até prometia ser um período positivo para a bolsa no Brasil. Mas prometeu e não entregou. Os ganhos observados no Ibovespa até a semana passada foram derretidos, principalmente, pelas preocupações com a segunda onda de covid-19 na Europa e algumas regiões dos Estados Unidos nos últimos dias.
O Ibovespa, que acumulava ganhos de 7% até sexta-feira passada, perdeu 7,22% nesta semana, no pior resultado para esse período desde março (-18,9%).
Com isso, o principal índice da bolsa brasileira fechou outubro em queda de 0,69%, no terceiro mês seguido no vermelho. Nesta sexta-feira, a queda foi de 2,72%, aos 93.952 pontos. No ano, as perdas acumuladas são de 18,8%.
O Ibovespa abriu o mês de outubro no patamar dos 94 mil, acelerou até os 102 mil pontos, mas fez o caminho de volta e até furou os 94 mil pontos no último pregão do mês.
"Foi um mês intenso, com as eleições americanas, Trump com covid-19, mais casos na Europa e nos Estados Unidos, e o estímulo americano com esse 'tem, não tem, vai sair ou não' fez com que tivéssemos muita variação nesse período", resume Adilson Bonvino, sócio da Unnião Investimentos.
O número de contaminações por covid-19 nos Estados Unidos bateu ontem um novo recorde de 88.521 ontem, segundo a Universidade Johns Hopkins, mas os números vêm assustando os investidores desde o fim da semana passada, quando o número de infecções ultrapassou no sábado o recorde anterior, de 77,378, no dia 16 de julho.
Ao longo da semana países europeus, como Alemanha e França, anunciaram medidas restritivas de circulação de pessoas, com a adoção de toque de recolher, e os investidores passaram a vender as ações de forma geral, e até em pânico, com o temor que o novo fechamento de economias tenha em um mundo que tentava se recuperar ainda da primeira onda da covid-19.
"Sem contar que no ambiente doméstico tivemos ainda intriga 'fiscal-política' em nosso cenário que afetaram muito o mercado e como o exterior enxerga o Brasil", lembra Bonvino sobre as incertezas fiscais que seguem rondando os investidores locais.
O dólar comercial caiu 0,49% hoje, para R$ 5,7379, mas teve ganhos de 1,90% na semana e de 2,13% no mês, influenciado pelo mau humor generalizado e a fuga para ativos considerados mais seguros para momentos de turbulência. A valorização acumulada em 2020 ante o real é de 43,1%. Já o ouro, também considerado ativo de proteção, fechou o mês em queda de 0,8%.
“O câmbio encerrou outubro pressionado pelos receios em relação ao aumentos dos casos de Covid-19 na Europa, agravados por alguns prazos de lockdown que surpreenderam o mercado, além da imprevisibilidade do resultados da eleições nos EUA", afirma João Manuel Campanelli, diretor de operações do Travelex Bank.
Para Campanelli, os negócios devem iniciar novembro ainda sob total influência do pleito norte-americano e devem tomar um rumo que vai depender muito do resultado e do consequente desdobramento do pacote de estímulos, já que a novela sobre o tamanho da ajuda ainda não acabou.
O mercado de petróleo também sofreu com os receios de queda na demanda com o aumento do número de novos casos da covid-19 na Europa e nos Estados Unidos. Alguns campos de petróleo ainda foram afetados ao longo do mês por furacões que reduziram temporariamente a produção, ou seja, a oferta.
O contrato do petróleo tipo Brent (referência global) teve perdas de 8,5% no mês, e o tipo WTI (referência dos EUA) tombou 11% em outubro. Na semana, o petróleo WTI acumulou perdas de 10,2% e o Brent recuou 10,3%, levando ambas as referências da commodity para o pior resultado semanal desde abril.
O fluxo de investidores estrangeiros para a bolsa brasileira ficou positivo em R$ 3,17 bilhões em outubro, até ontem (28), resultado de R$ 250,48 bilhões em compras e R$ 247,31 bilhões em vendas. O fluxo de investidores pessoa física estava positivo em R$ 2,08 bilhões em outubro.
Um resumo do mês...
- A primeira semana do mês foi de alegrias. O Ibovespa fechou o período em alta de 3,69%, a despeito dos temores com os riscos fiscais, influenciado pelo bom humor do mercado americano. Naquela época o investidor ainda enchia o peito de esperança de que republicanos e democratas chegariam a um acordo sobre um novo pacote de estímulos fiscais para os Estados Unidos.
- A segunda semana de outubro teve risco do teto de gastos limitando os ganhos do Ibovespa na semana. Depois de alguns dias com os ânimos calmos em torno da política fiscal e uma aproximação amistosa entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, trouxe o balde de água fria. Mourão disse, em 15 de outubro, que "não vê problema" se o Renda Cidadã, substituto mais caro que o Bolsa Família, romper com o teto de gastos. Basta, para ele, ser "em comum acordo com o Congresso, que representa a sociedade como um todo". O mercado não gostou.
- A terceira semana do mês, conhecida como semana passada, as ações de bancos "correram atrás do prejuízo" e, por terem uma fatia grande do índice, ajudaram o Ibovespa a ganhar 3% no período, aos 101.260 pontos. A expectativa de que os bancos entregariam bons resultados nos balanços do 3º trimestre ajuda a entender boa parte da corrida pelos papéis.
- Na última semana de outubro os bancos até entregaram os dados positivos esperados pelos analistas, mas foi insuficiente para enfrentar toda a avalanche de pessimismo que veio do exterior com a covid-19.
Confira o desempenho de diversas aplicações até agora
EUA
Os principais índices da bolsa americana também enfrentaram sua maior onda de vendas generalizadas desde março.
O índice Dow Jones fechou em queda de 4,6% em outubro, em seu pior mês desde março. O S&P 500 recuou 2,7% no mês, e o Nasdaq caiu 2,3% em outubro.
Veja como fecharam as bolsas em Wall Street hoje:
- Dow Jones: -0,59% (26.502 pontos)
- S&P 500 -1,21% (3.270 pontos)
- Nasdaq -2,45% (10.912 pontos)
Europa
As bolsas europeias fecharam o dia sem direção única e encerraram a semana e o mês de outubro com perdas intensas.
Embora os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro e das quatro maiores economias da União Europeia tenham surpreendido positivamente no terceiro trimestre, a perspectiva para os últimos meses do ano é negativa diante da segunda onda de covid-19 e o restabelecimento de restrições à circulação social, fator determinante para a queda nesta semana.
O índice Stoxx Europe 600, que reúne 600 ações de 18 países, caiu 5,56% na semana, no pior resultado desde 12 de junho. Esse desempenho semanal levou o índice a terminar outubro com queda de 5,19%, o pior mês desde março.
Confira o fechamento das principais bolsas europeias nesta sexta-feira
- Índice Stoxx Europe 600 (vários países): +0,18%
- FTSE (Reino Unido): -0,08%
- DAX (Alemanha): -0,36%
- CAC 40 (França): +0,54%
- FTSE MIB (Itália): +0,40%
Ásia
As principais bolsas asiáticas fecharam em forte queda hoje, com os investidores atentos à segunda onda da covid-19 na Europa e nos EUA e cautelosos a poucos dias da eleição americana. Na semana, as principais bolsas do continente também tiveram perdas, com destaque para o tombo de 3,97% do índice sul-coreano Kospi.
Veja como fecharam os índices hoje
- Kospi (Coreia do Sul): -2,56% (2.267 pontos)
- Hang Seng (Hong Kong): -1,95% (24.107 pontos)
- SSE Composite (Xangai): -1,47% (3.225 pontos)
- Nikkei (Japão): -1,52% (22.977 pontos)
- ASX 200 (Austrália): -0,55% (5.928 pontos)
Destaques do Ibovespa
Das 77 ações que compõem o Ibovespa, 74 fecharam no vermelho nesta sexta-feira e o volume financeiro somou R$ 22,6 bilhões.
Veja os melhores e os piores desempenhos do mês abaixo:
As 5 melhores ações de outubro
Desempenho | Papel | Código | Variação (%) |
1 | CSN ON | CSNA3 | 24,48 |
2 | WEG ON | WEGE3 | 15,42 |
3 | SANTANDER BR UNIT | SANB11 | 14,63 |
4 | MAGAZINE LUIZA ON | MGLU3 | 10,45 |
5 | SUZANO PAPEL ON | SUZB3 | 9,88 |
Rafael Ribeiro, analista de ações da Clear Corretora, destaca as empresas do setor siderúrgico, que seguem surfando a forte tendência de alta do minério de ferro, e também a Weg, que entregou "mais um resultado extremamente forte no trimestre e cada vez mais surpreendendo positivamente o mercado".
As 5 piores ações de outubro
Class. | Papel | Código | Variação (%) |
1 | CVC BRASIL ON | CVCB3 | -23,87 |
2 | LOJAS AMERICANAS PN | LAME4 | -18,18 |
3 | IRB BRASIL RESSEGUROS ON | IRBR3 | -18,02 |
4 | COGNA ON | COGN3 | -17,18 |
5 | B2W DIGITAL ON | BTOW3 | -16,38 |
(Com informações do Valor PRO)