A XP revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 de -4,8% para -4,6%, citando dados recentes que mostram uma retomada mais forte da economia neste ano, “com alguma pressão de curto prazo na inflação ao consumidor”.
A corretora também elevou sua previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2,6% para 3,1% em 2020, mas manteve em 2,6% para 2021.
Segundo a XP, indicadores referentes ao terceiro trimestre apontaram retomada significativa da atividade, e a casa revisou sua projeção para o PIB do período de 6,8%, ante o segundo trimestre, para 7,8%.
“Os índices de confiança, vendas no varejo, produção industrial e mercado de trabalho formal ficaram acima das expectativas”, afirma a equipe. O mercado de trabalho como um todo, no entanto, deve demorar para se recuperar — a XP projeta taxa de desemprego de 15,5% em 2020 e 14,5% em 2021.
Uma composição setorial benigna em 2020 também levou a XP a aumentar em 0,4 ponto percentual a previsão do PIB em 2021, para 3,4%. “O setor industrial, impulsionado pela retomada do comércio varejista e pela depreciação cambial, deverá ser a principal força motriz na passagem do ano. A manutenção do regime fiscal, os juros baixos, a recomposição do consumo das famílias mais ricas (interrompido na pandemia) e a melhora das condições financeiras devem compensar, em parte, o fim das políticas de suporte governamental.”
A expectativa, diz a XP, é que a economia siga se recuperando em 2021, ainda que em ritmo menos intenso do que a arrancada do terceiro trimestre deste ano. Em um exercício, a XP comparou a saída da recessão para a indústria e os serviços nas crises de 2003 e 2008 e agora, considerando o segundo trimestre como “vale econômico” e utilizando a projeção da XP para o terceiro trimestre.
“Seguindo o padrão das crises anteriores, o setor industrial deveria crescer em média +10,6% no ano de 2021. Já o setor de serviços, mais inercial, deveria ter um incremento de +5,1%. A comparação histórica mostra que, ainda que nossa projeção mostre uma retomada para 2021, ela será menos intensa do que outras saídas de recessão. Acreditamos que a incerteza fiscal pode estar por trás de retomada mais lenta do que a experiência anterior.”
A hipótese básica de toda a análise da XP é a manutenção da regra atual do teto de gastos, mas a equipe reconhece que essa é a principal fonte de incerteza no cenário. “A discussão de prorrogar o auxílio emergencial ou transformá-lo em um Bolsa Família turbinado (“Renda Cidadã”) faz sentido, desde que não aumente (ainda mais) a incerteza fiscal”, dizem. “Um novo programa, para ser sustentável, deve caber no teto constitucional.”
Se a manutenção do teto “sem furos ou calombos para acomodar mais gastos” se confirmar, o PIB pode crescer os 3,4% projetados para 2021. “O risco fiscal, contudo, permanece. A pressão política continuará, tanto por programas sociais quanto por mais investimento. O teto seguirá pressionado se não houver disposição para rever gastos obrigatórios. Esta indefinição deve pesar sobre o desempenho da economia e dos ativos financeiros brasileiros nos próximos trimestres.”
A XP projeta um déficit primário em 12,9% do PIB em 2020 e 3,9% em 2021. A dívida bruta do governo geral, como proporção do PIB, deve atingir 94,5% em 2020, 96,3% em 2021.
Um “pouso suave” do auxílio emergencial, que leve à extensão do estado de calamidade para o primeiro trimestre de 2021, é possível, segundo a XP, o que pioraria o déficit primário de 2021 em cerca de R$ 40 bilhões.
“Outro risco é a manutenção de desonerações para 17 setores, cujo veto presidencial segue pendente no Congresso, adicionando outros R$ 6,3 bilhões a um orçamento apertado para 2021.”