Os CFOs no Brasil, de forma geral, não costumam preparar seus sucessores. É um dado apontado pela pesquisa “O perfil do CFO no Brasil 2021” realizada em uma parceria entre o Insper e a consultoria de recrutamento especializada em finanças Assetz. Entre os 128 executivos pesquisados, 32% relataram dificuldade em desenvolver talentos e 36% em reter profissionais no time. Isso acontece por diferentes razões.
Guilherme Malfi, da Assetz, comenta que a formação de um sucessor de CFO leva tempo. “O profissional que vai suceder precisa ter passado por diferentes subáreas de finanças e isso demanda tempo, para ter habilidades técnicas, e também conseguir se envolver em assuntos estratégicos da empresa”, afirma. “Há um abismo entre a experiência do CFO e seu time, hoje existe uma larga diferença de quilometragem.”
Além disso, falta, aparentemente, tempo para os CFOs se dedicarem a essa formação, pontua Felipe Brunieri, da Assetz. “Se ele gasta 17% do tempo dele no mês para desenvolver sua equipe, isso não é prioridade”, afirma o headhunter.
As empresas presentes na amostra são de grande porte – nacionais e estrangeiras com faturamento superior a R$ 1 bilhão -, então espera-se que o profissional na cadeira de CFO seja experiente. “É justificável trazer um CFO de fora, de outra empresa grande. Para o mercado é mais fácil”, diz Brunieri. Segundo a pesquisa, entre os CFOs que foram contratados externamente, 75% já haviam ocupado essa posição em outra companhia antes.
“Surpreende muito o CFO não ter sucessores indicados, porque é algo que se fala há 20 anos, e isso acontece mesmo sendo as maiores empresas do Brasil”, comenta Carlos Caldeira, do Insper.
Raio-x do CFO
79,7% têm uma graduação; a mais comum é administração de empresas (46%) |
Em média, chegaram ao primeiro cargo C-Level com 37 anos |
58,6% não têm experiência profissional no exterior |
66% são responsáveis por outras áreas, como tecnologia (47%), jurídico (44,7%) e compras/suprimentos (41%) |
77% são fluentes em inglês e 22% em espanhol |
O CFO, aliás, tem idade média de 47,6 anos, segundo a pesquisa. Da amostra, 89% são homens e 89%, brancos. As empresas participantes têm, em média, 7.600 funcionários. A diversidade na posição é pequena. Brunieri comenta que as empresas até solicitam diversidade na “short list”, mas não querem abrir mão de idioma e de determinadas faculdades como exigência, o que acaba excluindo candidatos. “A gente sugere, então, outro tipo de diversidade, mas não costuma ser aceito”, comenta Brunieri. Nessa diversidade mencionada pelo headhunter estão, por exemplo, profissionais com mais idade que são descartados logo de cara, ainda que tenham energia e competência para o trabalho.
O levantamento também olhou para o que motiva o CFO. Lideram a lista “desafio puro” (44,5%) e autonomia e independência ( 39%). Por desafio, entenda-se o momento da empresa. Normalmente o CFO quer entrar em uma companhia para deixar um legado transformando a organização, seja em um viés de expansão (crescimento orgânico ou por meio de fusões e aquisições) ou transformação do negócio. “Até pouco tempo atrás finanças era a ‘guardiã dos livros’, hoje o CFO senta com outras áreas do negócio e dá o suporte que elas precisam para tomar decisões”, explica Brunieri.
“Nesse sentido, o CFO quer poder tomar decisão, valoriza muito isso.” O que nem sempre é viável em multinacionais estrangeiras, porque o CFO brasileiro responde para um CFO regional, que responde para o global. “Muitos que já construíram carreira em multinacional estrangeira querem migrar para empresas nacionais”, comenta Malfi. Outro desejo do CFO, segundo ele, é trabalhar em empresa de capital aberto, que tem a área de RI abaixo.