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Pela abstinência de Damares

Sexo jovem virou coisa de esquerda

A ministra Damares descobriu como reduzir a gravidez precoce. Basta parar de transar.

O especial do Verão 2020, estrelado pela ministra Damares Alves, é tão engraçado que não merece ser censurado. Ela andava retraída depois de polêmicas com goiabas e cores. Mas Damares fez uma descoberta científica. Sem citar fontes, apontou a solução para reduzir a gravidez precoce. Parar de transar.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos defende a abstinência sexual como política de saúde pública para evitar que adolescentes engravidem no Brasil. Damares chama isso de “preservação sexual”. Eu chamo de “preservação da ignorância”. Como alguém acha que um governo pode evitar que jovens tenham relações antes do casamento ou antes dos 18 anos? 

Damares tem aliados de peso em sua cruzada pela virgindade forçada. Um é o pastor Marco Feliciano, deputado federal expulso por unanimidade do Podemos. Em artigo para o jornal "Folha de S.Paulo", ele chama a abstinência sexual juvenil de “política pública de forte viés humanista e alto conteúdo ético, que certamente seria louvada dentro de qualquer ambiente minimamente racional e erudito”. 

Feliciano pode falar de ética. Gastou R$ 157 mil num tratamento para corrigir articulação na mandíbula, o bruxismo. Quer dizer, quem gastou não foi ele. Nós pagamos, porque a verba foi pública. O pastor escreve que “a esquerda e a imprensa engajada” são a favor do “hedonismo militante que prega o prazer irresponsável, diariamente metralhado em suas mentes pela programação da TV Globo”. Feliciano é um pilar do humanismo, da razão e da erudição.

O sexo jovem não escapou da doença governamental de ideologizar tudo. É uma obsessão. Árvores, índios, radares, multas, meio ambiente, desarmamento, pesquisas científicas, filmes, peças, aulas, livros didáticos, diplomacia, isso tudo é um universo paralelo de esquerda que precisa ser desmontado, censurado, reaparelhado ou atacado com coquetéis molotov. Mesmo que todos tenham de fugir para Moscou.

Agora, o governo Bolsonaro acabou com a caderneta de saúde do adolescente! Em 10 anos, foram distribuídos 32 milhões de exemplares em unidades básicas de saúde. Com informações sobre puberdade, sexo seguro e prevenção da gravidez precoce. Em vez da caderneta, tabus são ressuscitados como método anticoncepcional. Quando Damares falou no auditório da Câmara dos Deputados, dois cartazes demonizavam a camisinha. Mostravam “poros” no preservativo, por onde passaria o vírus HIV. 

O pastor Nelson Neto Júnior, fundador do “Eu escolhi esperar”, afirma que “adolescentes não sabem lidar com hormônios”. Ele prepara “material didático” para escolas. Já pensou no “kit Júnior”? É o Brasil contra o mundo. 

A Unesco e a ONU não se cansam de estimular programas de educação sexual em escolas, que também abordem questões de gênero e diversidade. Nos países que tornam o estudo da sexualidade uma disciplina compulsória, as taxas de gravidez precoce são mais baixas, não mais altas. São democracias ocidentais com alto índice de desenvolvimento humano.

No Brasil, mais de 56 bebês nascem de mães adolescentes em cada mil. A taxa mundial é de 44 em cada mil. É um problema social grave, que afeta o desenvolvimento pleno das moças. Uma solução seria mais educação sexual nas escolas, não menos. Mais orientação sobre prevenção de gravidez e doenças. Clareza é fundamental. A censura à informação é fundamentalista e danosa. 

Crio aqui um movimento nacional em defesa da abstinência verbal no governo, o único método 100% eficaz para Damares, Salles, Araújo e Weintraub pararem de falar besteira. O chefe já é hors-concours nesse quesito. Nem chamo de mentira, porque a mentira é uma construção sofisticada do pensamento humano. É “ingnorança” mesmo. 

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