Bolsonaro admite recriar Ministério da Segurança e reduzir alcance de Moro

Bolsonaro admite recriar Ministério da Segurança e reduzir alcance de Moro

O presidente Jair Bolsonaro admitiu que pode recriar o Ministério da Segurança Pública, reduzindo a importância da pasta de Sergio Moro.

O pedido foi feito na quarta-feira (22), numa reunião no gabinete da Presidência com secretários de Segurança Pública, de 17 estados, sem a presença de Sergio Moro, o ministro da Justiça e Segurança Pública. E foi escancarado, com transmissão, ao vivo, em rede social.

Coube ao secretário de Segurança da Bahia, Maurício Teles Barbosa, o apelo.

“Temos que tentar de uma certa forma dar um olhar pouco mais próximo à pasta da Segurança para que a gente tenha essas questões sendo tratadas de uma forma direta”.

O presidente Jair Bolsonaro prometeu estudar a recriação do Ministério da Segurança Pública como era no governo Temer, separado do Ministério da Justiça.

“Talvez, pelo anseio popular de ter dificuldade nessa área, de ser talvez o ponto mais sensível em cada estado, essa possível recriação poderia melhor gerir a questão da segurança. É esse o entendimento dos senhores?”

“Exatamente”, responderam os secretários.

“Então, a gente vai estudar. Estudaremos essas questões aqui e daremos uma resposta o mais rápido possível”, disse o presidente.

Assim que assumiu a Presidência, em 2019, Bolsonaro reincorporou tudo num ministério só da Justiça e Segurança Pública, o superministério, entregue a Sergio Moro.

Nesta quinta-feira (23) cedo, antes de embarcar para a Índia, o próprio presidente adiantou que isso contraria Sergio Moro.

“Lógico que o Moro deve ser contra né, mas é estudado com os demais ministros. O Rodrigo Maia é favorável também à criação da Segurança”.

Bolsonaro disse que, quando convidou Moro para o governo, não estava em discussão a fusão das pastas.

“Se for criado, daí ele fica na Justiça. Era o que era inicialmente, tanto é que, quando ele foi convidado, não existia ainda essa modulação de fundir com o Ministério da Segurança”.

Mas não foi isso que Bolsonaro disse em novembro de 2018, quando convidou o então juiz Sergio Moro para fazer parte de seu governo.

Numa rede social, o presidente anunciou que: “O juiz federal Sergio Moro aceitou nosso convite para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua agenda anticorrupção, anticrime organizado, bem como respeito à Constituição e às leis será o nosso norte”.

E reiterou a criação do superministério numa entrevista.

“Eu concordei com 100% do que ele propôs. Ele queria uma liberdade total para combater a corrupção, o crime organizado e um ministério com poderes para tal. Eu até adiantei, quem sabe, uma fração da Coaf dentro do Ministério da Justiça. A questão de a Segurança ir para a Justiça nós já tínhamos decidido e, bem como, nomeações, ele tem ampla liberdade realmente para exercer o seu trabalho lá. Da minha parte, sempre fui favorável a isso, dei o sinal verde e ele, vi a nota, aceitou o convite”.

Nesse mesmo dia, ao aceitar a missão, Moro divulgou nota:

“Fui convidado pelo sr. presidente eleito para ser nomeado ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Após reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite”.

Aliados de Moro veem nesse movimento a ação de setores interessados em esvaziá-lo politicamente, num momento em que ele soma derrotas no Congresso, no Judiciário, mas aparece como a autoridade mais popular do governo, segundo as pesquisas.

O ministro não foi consultado, não foi chamado por Bolsonaro para a reunião com os secretários, na quarta-feira, no Planalto. E, tanto Moro, quanto os assessores do ministério foram pegos de surpresa com a notícia.

Sergio Moro está bastante decepcionado e já disse a interlocutores que “se isso se confirmar” (a criação do novo Ministério de Segurança Pública) “ele sai do governo”.

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, saiu em defesa de Bolsonaro. Ele postou em rede social:

“A proposta de recriar o Ministério da Segurança Pública não é do presidente Jair Bolsonaro, e sim da maioria dos secretários de Segurança estaduais, que estiveram em Brasília. Em nenhum momento, o presidente disse apoiar tal iniciativa”.

E, depois, acrescentou:

“O que alguns não entendem é que o presidente é o capitão do time, ele escalou seus 22 ministros. As decisões são tomadas, ouvindo os ministros, mas cabe a ele, como comandante, dar a palavra final, mesmo que isso contrarie alguns dos seus assessores ou eleitores”.

Em entrevista a Camila Bomfim para o Jornal das Dez, da GloboNews, secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, confirmou que o tema está em análise, mas ainda sem uma decisão, e negou que isso enfraqueça Moro.

“A gente não busca o fortalecimento político de ninguém, a gente busca o fortalecimento do governo. O governo tem que estar forte para realizar as entregas que a população entrega. Caso o presidente acolha essa decisão e recrie a pasta da Segurança Pública, porque é um tema a que o presidente sempre foi muito ligado, desde a época de parlamentar, caso ele tenha por decisão fazer isso, não seria o enfraquecimento do ministro Moro a meu ver, ao contrário, seria uma pasta que trabalharia em conjunto com o Ministério da Justiça e com outras pastas do governo como defesa. Acho que seriam bons resultados da mesma maneira”.

Correção

Na reportagem que foi ao ar dissemos que Jorge Oliveira é ministro da Secretaria de Governo. Na verdade, ele é secretário-geral da Presidência. O secretário de Governo é o ministro Luiz Eduardo Ramos. O texto foi atualizado.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!