Prefeito condenado por assediar e beijar mulheres à força é cassado durante sessão em Pirassununga — Foto: Reprodução/EPTV
A Câmara Municipal de Pirassununga (SP) cassou o mandato do prefeito Ademir Lindo (sem partido) durante sessão extraordinária, nesta terça-feira (18), por suposta ação incompatível com o decoro do cargo.
O político foi condenado em segunda instância por assediar e beijar a boca de mulheres à força durante o mandato anterior.
Prefeito de Pirassununga é cassado após condenação por assediar e beijar mulheres à força
Segundo a assessoria de imprensa da Casa, Lindo não compareceu à sessão. O advogado de defesa de Lindo, Edmilson Barbato, disse que vai entrar com recurso contra a decisão nesta quarta-feira (19). Sobre as denúncias, alegou que não há provas e que avalia o resultado da sessão como um julgamento político.
Logo após a votação, o vice-prefeito Milton Dimas Tadeu Urban (PSD), conhecido como Dr. Dimas, foi empossado e assumiu o cargo.
Votação
Vereadores votam cassação de prefeito de Pirassununga — Foto: Reprodução/Youtube
De acordo com a assessoria de imprensa da Câmara, a sessão teve início às 9h e terminou por volta de 16h30. Veja como votaram os vereadores:
A favor da cassação:
- Jeferson Couto;
- José Antônio Camargo de Castro;
- Luciana Batista;
- Paulo Rosa;
- Sidnei Aparecido Pires;
- Vitor Naressi;
- Wallace Ananias.
Contra a cassação:
- Leonardo Francisco Sampaio de Souza Filho;
- Nelson Pagoti;
- Paulo Sérgio Soares da Silva.
Após a votação, a sessão foi finalizada com a cerimônia de posse do novo prefeito, que já assumiu a prefeitura e passa a administrar Pirassununga a partir de quarta-feira (19).
"Eu tive uma reunião com os secretários, mas é tudo muito prematuro. A princípio continua do jeito que estava, visando os projetos que estavam em andamento continuarem. Quanto a mudanças, isso eu tenho que sentar, pensar e, a partir de março, eu tomar as decisões", disse Urban.
Condenação
O prefeito cassado de Pirassununga, Ademir Alves Lindo (sem partido) — Foto: Reprodução/ EPTV
Em novembro, o prefeito foi condenado pela Justiça em segunda instância por improbidade administrativa. Seus direitos políticos foram suspensos por cinco anos e ele também foi condenado a pagar uma multa de 100 vezes o valor de seu salário na época dos fatos.
A primeira condenação, em primeira instância, havia saído em janeiro de 2019, após ser acusado de assediar e beijar a boca de 4 mulheres e uma criança de 11 anos à força.
Para investigar o caso no âmbito da candidatura, a Câmara Municipal aprovou a abertura da Comissão Parlamentar (CP), no fim de novembro, para apurar as denúncias contra o prefeito Lindo. Os vereadores Wallace Ananias de Freitas Bruno, Luciana Batista e Paulo Sérgio Soares da Silva foram sorteados para integrar o time.
Denúncias
Casos de assédio ocorreram dentro de gabinete do prefeito em Pirassununga, segundo o MP — Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV
As denúncias chegaram ao Ministério Público em 2011. Segundo o MP, o prefeito teria se insinuado sexualmente em inúmeras oportunidades a moradores que o procuravam para pedir ajuda por problemas de saúde ou em busca de colocação profissional.
No primeiro caso, ocorrido em 2005, uma mulher registrou boletim de ocorrência relatando que procurou o prefeito para tratar sobre a renovação de seu contrato de trabalho na prefeitura. O prefeito a cumprimentou com um beijo na boca, apalpou o corpo dela, pediu para que ela levantasse a blusa e propôs relação sexual na sala.
Em outro caso, ainda segundo o MP, ele propôs uma colocação profissional para uma mulher caso ela o encontrasse na rodoviária de Leme no dia seguinte.
A mesma mulher voltou ao gabinete, dessa vez acompanhada da filha de 11 anos e de um vereador. Quando o vereador saiu da sala, o prefeito a segurou pelo braço e a beijou na boca. Em seguida segurou o rosto da criança e fez o mesmo.
Em 2008, uma mulher procurou o prefeito para pedir uma cirurgia de laqueadura. Ao dizer que tinha 7 filhos, Lindo afirmou que ela ‘’deveria ser muito boa de cama”. Quando ela saia da sala, ele a puxou e a beijou na boca.
O último caso, em 2010, uma mulher disse que entrou no gabinete para entregar um currículo e ao cumprimentar o prefeito ele lhe deu um beijo na boca. O pai da mulher foi ao local e chegou a agredir Lindo.
Prefeito negou acusações
O prefeito, que já teve outros 3 mandatos, chegou a processar as mulheres alegando ser vítima de uma “orquestração para tentar denegrir sua imagem pessoal com acusações falsas”, mas a ação foi julgada improcedente.
Em 2010, o prefeito afirmou ao G1 que as acusações eram absurdas. "Sou vítima de armação política. Tenho 30 anos de vida pública e nunca tive problemas. Tenho um jeito popular de ser e sempre respeitei todo mundo; dou beijo, abraço. É questão de educação”, defendeu-se na ocasião.
Em 2012, à EPTV, afiliada da TV Globo, o prefeito negou a prática de assédio e alegou que tudo não passava de intriga política. Ele ainda disse que apenas tinha o hábito de abraçar e beijar as pessoas no rosto, como sinal de respeito.
Em outubro do ano passado, Lindo foi expulso do PSDB após declarar apoio a Márcio França (PSB).