Rio

Moradores do Rio reclamam da qualidade da água fornecida pela Cedae

Na UPA da Siqueira Campos, pacientes relatam problemas como dor de barriga
O cozinheiro Francisco das Chagas recorreu à UPA da Siqueira Campos, em Copacabana: 'Estou com a barriga doendo muito' Foto: Gabriel de Paiva
O cozinheiro Francisco das Chagas recorreu à UPA da Siqueira Campos, em Copacabana: 'Estou com a barriga doendo muito' Foto: Gabriel de Paiva

RIO — Da Zona Norte à Zona Sul, a qualidade da água fornecida pela Cedae se tornou uma reclamação constante entre os moradores do Rio. Em diferentes bairros, cariocas descrevem o sabor da água como amargo e semelhante ao de terra. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), da Siqueira Campos, em Copacabana, moradores com sintomas de náusea, enjoo e dor de barriga procuraram por  atendimento nesta terça-feira. Entre eles, o cozinheiro Francisco das Chagas, de 42 anos, que mora no Catumbi foi até a unidade por trabalhar em Copacabana:

— Levantei hoje (ontem) já indo direto ao banheiro. Estou com a barriga doendo muito, e preocupado porque tenho quatro filhos em casa. Comecei a comprar água também. O médico disse que pode ser efeito da água, sim.

LEIA : Problema com a água da Cedae já atinge 69 bairros do Rio e seis cidades da Baixada; confira mapa

Michel Bandeira, de 19 anos, também procurou a unidade para socorrer a esposa, Lara Alves, de 20 anos.

— Minha esposa está muito enjoada há dois dias e com muita vontade de ir ao banheiro. Descobrimos que pode ser da água por tudo que está acontecendo  — diz o morador da Rocinha.

O projeto do estado para a Cedae
Pela modelagem inicial, a receita arrecadada pelos concessionários nos 35 anos de concessão nos 64 municípios, divididos em quatro blocos, somam
331,4 bilhões
Em investimentos, estão previstos
R$ 32,5 bilhões
AP 2.1
AP 5
AP 2.2 e 3
AP 4
RIO DE JANEIRO
Os blocos concessionários
Estão incluídos no projetos serviços de água e esgoto em 64 municípios
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Bloco 4
Zona Sul do Rio (AP 2.1), São Gonçalo, Teresópolis, Macaé e 37 municípios do Sul Fluminense.
Barra e Jacarepaguá no Rio (AP 4), Barra do Piraí, Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Pinheiral, Valença e Vassouras.
Centro e Zona Norte do Rio, Angra dos Reis, Eng. Paulo de Frontin, Piraí, Rio Claro, Itaguaí, Mangaratiba, Paracambi, Seropédica.
Zona Oeste do Rio
(AP 5, apenas água), Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis, Nova Iguaçu, Mesquita, Duque de Caxias, Japeri, Queimados.
FATURAMENTO
FATURAMENTO
FATURAMENTO
FATURAMENTO
R$ 41,6 bilhões
R$ 158,1 bilhões
R$ 85,9 bilhões
R$ 45,8 bilhões
INVESTIMENTOS
INVESTIMENTOS
INVESTIMENTOS
INVESTIMENTOS
R$ 3,5 bilhões
R$ 15,2 bilhões
R$ 10,7 bilhões
R$ 3,2 bilhões
Hoje a Cedae
(Atende a população de 64 municípios)
89%
Abastecimento de água
29%
Perda na distribuição
44%
Atendimento com coleta de esgoto
28%
Esgoto tratado
O projeto do estado para a Cedae
Pela modelagem inicial, a receita arrecadada pelos concessionários nos 35 anos de concessão nos 64 municípios, divididos em quatro blocos, somam
331,4 bilhões
Em investimentos,
estão previstos
R$ 32,5 bilhões
AP 2.1
AP 5
AP 2.2 e 3
AP 4
RIO DE JANEIRO
Os blocos concessionários
Estão incluídos no projetos serviços
de água e esgoto em 64 municípios
Bloco 1
Bloco 2
Zona Sul do Rio (AP 2.1), São Gonçalo, Teresópolis, Macaé e 37 municípios do Sul Fluminense.
Barra e Jacarepaguá no Rio (AP 4), Barra do Piraí, Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Pinheiral, Valença e Vassouras.
FATURAMENTO
FATURAMENTO
R$ 85,9 bilhões
R$ 45,8 bilhões
INVESTIMENTOS
INVESTIMENTOS
R$ 10,7 bilhões
R$ 3,2 bilhões
Bloco 3
Bloco 4
Centro e Zona Norte do Rio, Angra dos Reis, Eng. Paulo de Frontin, Piraí, Rio Claro, Itaguaí, Mangaratiba, Paracambi, Seropédica.
Zona Oeste do Rio
(AP 5, apenas água), Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis, Nova Iguaçu, Mesquita, Duque de Caxias, Japeri, Queimados.
FATURAMENTO
FATURAMENTO
R$ 41,6 bilhões
R$ 158,1 bilhões
INVESTIMENTOS
INVESTIMENTOS
R$ 3,5 bilhões
R$ 15,2 bilhões
Hoje a Cedae
(Atende a população de 64 municípios)
Abastecimento de água
89%
Perda na distribuição
29%
Atendimento com coleta de esgoto
44%
Esgoto tratado
28%

Também em Copacabana, a aposentada Glória Amaral, de 70 anos, acrescenta a má qualidade da água fornecida pela estatal à longa lista de problemas enfrentados pela população do estado. Moradora da Rua Santa Clara, ela se viu obrigada a gastar com a compra de água mineral nos últimos dias.

— A água é mais um fator do caos no Rio. Estou gastando dinheiro com água mineral, mas, no meu caso, não faz tanta falta. Penso nas pessoas que não têm dinheiro. Como as pessoas carentes fazem? Fico pensando em quem não pode gastar dinheiro para comprar — lamenta a idosa.

No Bairro Peixoto, a advogada Roberta Veras, de 39 anos, conta que há uma semana a família também adotou a água mineral para evitar possíveis transtornos para os filhos pequenos, de 2 e 3 anos. A preocupação é com um caso na família de sintomas, como náusea, que podem ter sido provocados pela água.

— Meu sogro passou mal e imaginamos que foi da água porque ele passou a tomar água mineral e melhorou. Já está até em falta nos grandes mercados. A cor até está boa, mas o gosto está ruim — comenta a advogada.

'O gosto da água mudou mesmo usando filtro em casa', diz dona de casa

O clima de apreensão não é restrito à Zona Sul carioca. Moradora de Del Castilho, a aposentada Rute Batista Gomes, de 74 anos, também passou a comprar água mineral há uma semana, quando percebeu um gosto amargo, embora a coloração da água estivesse normal:

— Ainda escovo dente com a água da bica e dá para perceber como a água está diferente. Passei a comprar uma garrada de 1,5 litro todos os dias para beber, e só uso a água da bica para lavar louça.

Ontem, a dona de casa Antônia Santos, de 32 anos, passou a manhã batendo de mercado em mercado em busca de água mineral. Com uma filha de 8 meses em casa, ela tentou, sem sucesso, encontrar um galão de 5 litros em Bonsucesso. A saída foi optar por embalagens menores.

A dona de casa Antônia Santos não encontrou galão de cinco litros de água: saída foi pegar embalagens menores Foto: Gabriel de Paiva
A dona de casa Antônia Santos não encontrou galão de cinco litros de água: saída foi pegar embalagens menores Foto: Gabriel de Paiva

— Dificuldade está sendo o galão de 5 litros. Fui ao Guanabara, ao Supermarket e a um depósito de bebidas aqui perto. O gosto da água mudou mesmo usando filtro em casa — diz a dona de casa, enquanto pega garrafas d'água para comprar.

Diante do medo, vender água se tornou uma grande oportunidade de negócio. Foi o que percebeu Francisco Leitão, dono de um bar na Avenida Itaóca, em Bonsucesso. Antes da crise da água, ele vendia diariamente apenas 12 garrafas pequenas. Há uma semana, no entanto, as vendas atingiram a marca de 40 unidades por dia.

— Pessoal tá reclamando muito que a água está suja, que tem gente passando mal. Com isso, aumentou a venda da água. E água dá lucro — constata o comerciante de 55 anos: — Eu compro por R$ 0,80 e vendo por R$ 2.

O GLOBO pediu entrevistas ao presidente da Cedae, ao governo estadual e à Secretaria de Ambiente, mas não teve retorno.