Política Eleições 2020 Jair Bolsonaro

Maioria dos candidatos apoiados por Bolsonaro fica fora do segundo turno

Nomes como Russomanno, em São Paulo, e Delegada Patrícia, em Recife, caíram na reta final. Nas redes, presidente diz que ' onda conservadora chegou em 2018 para ficar'
Bolsonaro e o candidato a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, do Patriotas, no Aeroporto de Congonhas Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Bolsonaro e o candidato a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, do Patriotas, no Aeroporto de Congonhas Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

RIO - O percentual de votos apurados até o fim da noite deste domingo mostra que candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro sairão, em sua maioria, derrotados no primeiro turno das principais prefeituras do país. Dos seis nomes que receberam apoio explícito do presidente em capitais, somente Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza, e Marcelo Crivella (Republicanos), que concorre à reeleição no Rio, seguem na disputa até o dia 29. Ambos, contudo, chegam ao segundo turno com votações inferiores às de seus adversários diretos, Sarto Nogueira (PDT) e Eduardo Paes (DEM), respectivamente.

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Bolsonaro chancelou 13 candidatos a prefeito, somando capitais e cidades do interior. Neste grupo, apenas Mão Santa (DEM), candidato à reeleição em Parnaíba (PI), e Gustavo Nunes (PSL), em Ipatinga, se elegeram neste domingo - não há segundo turno nesses municípios, que têm menos de 200 mil eleitores. Ivan Sartori (PSD), candidato bolsonarista em Santos, mantinha chance de avançar ao segundo turno na última parcial deste domingo. Com 90% das urnas apuradas, Sartori aparecia na segunda colocação, com 18,3% dos votos válidos, contra 51,1% do líder Rogério Santos (PSDB), que pode se eleger em primeiro turno.

Nas 25 capitais brasileiras, três nomes que se aproximaram à imagem do presidente na campanha avançaram ao segundo turno: Crivella, Capitão Wagner e Delegado Eguchi (Patriota), em Belém, que não tinha seu apoio explícito.

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Em publicação nas redes sociais após as 23h, quando a maioria das derrotas de bolsonaristas já estava confirmada, Bolsonaro argumentou que sua ajuda aos candidatos "resumiu-se a 4 lives num total de 3 horas", e alegou que "partidos de esquerda sofreram uma histórica derrota", embora siglas deste campo político tenham derrotado os candidatos apoiados pelo presidente em algumas cidades.

"De concreto partidos de esquerda sofreram uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar. Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado", escreveu o presidente.

Para cientistas políticos, os resultados indicam um desgaste na imagem de Bolsonaro dois anos após sua eleição:

— O bolsonarismo é uma face do conservadorismo. Alguns resultados positivos de partidos de direita, mesmo os que se afastaram de Bolsonaro, indicam que ainda está consolidada a visão mais conservadora. Agora, Bolsonaro é mal avaliado enquanto gestor do país. Nesse sentido, creio que ele pode, sim, transferir rejeição — afirmou a cientista política Fernanda Cavassana, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Queda na reta final

Em São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Manaus, os escolhidos por Bolsonaro saíram derrotados. Na capital paulista, Celso Russomanno (Republicanos) liderava no início da campanha e teve queda acentuada na reta final, trajetória semelhante às de 2012 e 2016. Agora, porém, Russomanno teve seu pior desempenho, com 10,53% dos votos válidos computados até as 22h30m deste domingo, e o dobro da rejeição que teve há quatro anos.

Na capital mineira, com 99% das urnas apuradas, o bolsonarista Bruno Engler (PRTB) aparecia na segunda colocação, com 9,9% dos válidos, distante do atual prefeito Alexandre Kalil (PSD), reeleito em primeiro turno com 63% dos votos válidos. Oscar Rodrigues (MDB), que recebeu apoio de Bolsonaro em Sobral (CE), foi derrotado por Ivo Gomes (PDT), irmão do presidenciável Ciro Gomes.

Em Recife, Delegada Patrícia (Podemos) chegou a crescer no fim de outubro, antes de fazer uma live com Bolsonaro, mas caiu na reta final e ficou fora do segundo turno, confirmado entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT).

— As eleições municipais costumam ter tom diferente da disputa nacional. É óbvio que se pode apontar um enfraquecimento do Bolsonaro, mas as vitórias de adversários não necessariamente são ruins para ele, que gosta de trabalhar com a polarização e antagonismos exacerbados — disse Paulo Gracino, professor do Instituto Universitário de Pesquisas (Iuperj) da Universidade Candido Mendes.

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Bolsonaro, que inicialmente negava participação no primeiro turno municipal, passou a divulgar apoios em outubro e ampliou ao longo da campanha o número de declarações de voto para candidatos a prefeito e vereador. De 14 candidatos, a lista de apoios chegou na semana passada a 57 nomes graças a indicações de aliados, como a ministra Damares Alves (Direitos Humanos) e o presidente da Embratur, Gilson Machado. No sábado, o presidente publicou nas redes sociais uma lista com nomes e números de sete candidatos a prefeito e cinco a vereador, mas apagou a publicação neste domingo.

Em Manaus, o candidato que recebeu apoio explícito de Bolsonaro, Coronel Menezes (PSC), ficou para trás na disputa pelo segundo turno, que será realizada entre Amazonino Mendes (Podemos) e David Almeida (Avante). Das seis capitais com candidatos apoiados pelo presidente, Manaus é onde Bolsonaro tem sua melhor avaliação atualmente: 48% dos manauaras avaliam o governo como ótimo ou bom, de acordo com pesquisa Ibope divulgada na última quarta-feira. Lá, contudo, dois candidatos brigaram pelo voto bolsonarista: Menezes e Capitão Alberto Neto (Republicanos), que chegou a anunciar que teria apoio do presidente num eventual segundo turno. Menezes tinha 11,3% dos votos válidos, ante 7,8% para Neto, com 99% das urnas apuradas.

No Rio, onde a aprovação de Bolsonaro caiu para 28% na última semana, segundo o Datafolha, Crivella figurava com 21% dos votos válidos até as 23h, desempenho semelhante ao apontado pela pesquisa boca de urna do Ibope. Na capital fluminense, 95% dos votos já foram apurados. Eduardo Paes (DEM) aparece à frente, com 37% dos votos válidos.

Em São Paulo, onde o Datafolha aponta que 23% dos eleitores consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom, Russomanno termina a corrida eleitoral muito aquém deste patamar, sugerindo que o presidente não conseguiu transferir seu capital político para o aliado.

Candidatos evitaram associação

As derrotas do bolsonarismo não se limitaram aos candidatos com apoio explícito do presidente. Das 25 capitais que tiveram disputas neste domingo, e nas quais pelo menos um candidato buscou se associar à imagem de Bolsonaro durante a campanha, independentemente de ter apoio explícito, só em três - Rio, Fortaleza e Belém, com Delegado Erguchi (Patriota) - houve avanço ao segundo turno de um bolsonarista "assumido".

Em Vitória e Aracaju, candidatos ligados às forças policiais que avançaram para o segundo turno - Delegado Pazolini (Republicanos) e Delegada Danielle Garcia (Cidadania), respectivamente -, não se associaram a Bolsonaro. Em São Luís, Eduardo Braide (Podemos) também evitou se aproximar a Bolsonaro e não acompanhou o presidente em visita recente à capital maranhense, organizada por aliados. Braide enfrentará Duarte Junior (Republicanos), aliado do governador Flávio Dino (PCdoB), no segundo turno em São Luís.

Em João Pessoa, o radialista Nilvan Ferreira (MDB) flertou com o discurso bolsonarista na campanha, mas também evitou uma associação ao presidente, que ficou a cargo de Walber Virgolino (Patriota). Ferreira, com 16,6% dos votos válidos, avançou ao segundo turno, no qual enfrentará o ex-prefeito Cícero Lucena (PP), enquanto Virgolino terminou na quarta colocação, com 13,9% dos votos válidos.