Fique de olho
Após o pior tombo da bolsa desde março, o mercado financeiro continua de olho nos desdobramentos da crise institucional e política após as ameaças antidemocráticas de Bolsonaro. Como se já não houvesse preocupações suficientes, uma nova consequência dos atos de 7 de setembro entra no radar: a greve dos caminhoneiros.
Caminhoneiros bolsonaristas bloqueiam estradas em todo o país pelo segundo dia consecutivo. A manifestação é a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Até 7h20, foram confirmados bloqueios em rodovias de pelo menos sete estados, conforme o site G1: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ontem (8), um dia depois dos protestos antidemocráticos, houve bloqueios em rodovias de pelo menos 15 estados.
Saiba mais
Bolsonaro encaminhou um áudio para apoiadores, ontem, no qual pede que os caminhoneiros desmobilizem a paralisação. Na mensagem, o presidente chama a categoria de "aliada", mas diz que a greve vai atrapalhar a economia, provocar desabastecimento e inflação.
"Fala para os caminhoneiros, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Dá um toque aí, se for possível, para a gente seguir a normalidade. Deixa a gente conversar em Brasília aqui agora. Não é fácil conversar, negociar, com outras autoridades, não é fácil, mas vamos buscar fazer nossa parte aqui. Vamos buscar uma solução por aqui", afirma Bolsonaro.
Assim, há dúvidas se os atos dos caminhoneiros vão adiante ou não e sobre quais serão os seus impactos econômicos, políticos e sociais – e incerteza é tudo que os investidores não gostam.
Mauro Morelli, estrategista chefe da Davos investimentos, diz que é razoável imaginar que a bolsa tenha uma pequena melhora em comparação a ontem, em que a queda foi muito forte. Porém, de acordo com ele, o mercado não imagina que os ruídos políticos diminuam no curto prazo, muito pelo contrário. “A volatilidade deve continuar nas próximas semanas ou meses. O investidor local tem que considerar isso na montagem do seu portfólio”, afirma.
O mundo político e jurídico se movimenta para tentar apagar o incêndio causado por Bolsonaro. Os partidos estão se organizando para reagir às ameaças do presidente e avaliando o impeachment. Além disso, o Ministério Público pediu que o Tribunal de Contas da União (TCU) investigue o uso de dinheiro público no 7 de setembro.
Bolsonaro freia de vez o crescimento econômico, que já andava quase parando em meio ao galopante desemprego, crise hídrica e inflação. E, falando nela, hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto.
Segundo a mediana de estimativas de 35 instituições ouvidas pelo Valor Data, o IPCA deve ter desacelerado de 0,96% em julho para 0,70% em agosto, na comparação mensal. Em 12 meses, deve chegar a 9,5%.
Lá fora, o mercado amanhece borocoxô, com a agenda cheia de indicadores. O principal evento internacional do dia é a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). A taxa de juro está em 0% e a expectativa é de manutenção.Christine Lagarde, presidente da autoridade monetária, vai falar em coletiva de imprensa.
“Há muito questionamento em torno da possível redução no ritmo de compra de ativos do programa emergencial colocado em voga por conta da covid”, afirma Felipe Sichel, estrategista chefe do Modalmais. Ele também chama a atenção para a chance de aparição dos integrantes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para falar sobre a mesma coisa nos Estados Unidos.
Agenda
No Brasil, o destaque da agenda é a inflação medida pelo IPCA de agosto, às 9h.
No exterior, o mais importante do dia é a decisão de política monetária do Banco Central Europeu, às 8h45, seguida pela entrevista coletiva de Christine Lagarde, presidente da instituição, às 9h30.
Empresas
- As ações da Localiza e da Unidas chegaram a subir mais de 9% ontem, refletindo uma avaliação da Superintendência Geral do Cade mais positiva do que o mercado esperava sobre a fusão das duas locadoras de veículos. O parecer da Superintendência não recomendou veto à transação, que era o maior temor, e abordou remédios que analistas e investidores não entenderam como tão amargos como as planilhas de Excel projetavam.
- A Oi espera gerar uma receita anual de R$ 15 bilhões dentro de dois ou três anos em sua nova configuração, após a venda de ativos no processo de recuperação judicial. A projeção foi dada ontem pelo presidente da operadora de telecomunicações, Rodrigo Abreu, que apontou a criação de “avenidas de receita” para a empresa com sua reestruturação.
- A disputa judicial da Saraiva por uma indenização da SAP e Infosys teve novo desdobramento. Há um mês, a rede de livrarias obteve aval para produção antecipada de provas, conforme decisão obtida pelo Valor. A empresa requer ressarcimento por conta de prejuízos que alega ter sofrido após a compra e a implementação considerada “desastrada” de um software de gestão interna, em 2018.
- A Athena Saúde registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,4 milhões no segundo trimestre deste ano, o que representa queda de 88,8% em relação ao mesmo período de 2020. Já a receita líquida avançou 90,2% no comparativo trimestral, para R$ 584 milhões. O Ebitda ajustado foi de R$ 30,6 milhões entre abril e junho, o que representa queda de 48,8% em relação ao mesmo período do ano passado. A margem Ebitda recuou 14,3 pontos percentuais, para 5,2%.
(Com Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor)