Rio

Prefeitura entrega na sexta-feira primeiras 16 unidades de prédio ‘verde’ em favela do Leme

Morar Carioca Verde é um projeto executado com base no conceito de construções sustentáveis

Construção verde. O prédio no complexo da Babilônia e do Chapéu Mangueira: visita do ator Harrison Ford
Foto: Pablo Jacob / O Globo
Construção verde. O prédio no complexo da Babilônia e do Chapéu Mangueira: visita do ator Harrison Ford Foto: Pablo Jacob / O Globo

RIO — Uma tendência da arquitetura chega aos morros da Babilônia e do Chapéu Mangueira, no Leme, em forma de moradia para quem vivia em áreas de risco ou de proteção ambiental. Na sexta-feira, a Secretaria municipal de Habitação entrega os 16 primeiros apartamentos do Morar Carioca Verde - projeto das arquitetas Daniela Engel Aduan, Solange de Carvalho e Tatiana Terry, sócias-fundadoras da Arquitraço Projetos - executado com base no conceito de construções sustentáveis. O empreendimento é um desdobramento do programa Morar Carioca, de reurbanização de comunidades, iniciado pela prefeitura em 2010. Nas unidades habitacionais, tecnologias como reaproveitamento da água da chuva, aliadas a medidas simples, como janelas com venezianas, que permitem maior ventilação e iluminação, terão o objetivo de propiciar melhor qualidade de vida aos novos moradores. E, claro, com os “prédios verdes”, trazer benefícios ao meio ambiente.

De acordo com o secretário municipal de Habitação, Pierre Batista, essa é a primeira intervenção do Morar Carioca com esse conceito. O projeto piloto pode ser levado a outras comunidades cariocas. Na Babilônia e no Chapéu Mangueira, serão ao todo 117 novos apartamentos, que devem ficar prontos até meados de 2014.

Na obra há, por exemplo, aquecimento solar da água dos chuveiros e sensores de presença em áreas comuns, para as lâmpadas não ficarem acesas sem necessidade. Na vedação das paredes externas, foram usadas placas de cimento, que diminuem o calor nas áreas internas dos apartamentos. Lâmpadas econômicas e medidores individuais de água e gás devem representar economia nas contas.

— As intervenções incluem a abertura de uma via de serviço, que vai facilitar a conservação e limpeza. E entregaremos obras de infraestrutura, como drenagem — diz o secretário.

O mesmo conceito de sustentabilidade foi usado em outras obras na Babilônia e no Chapéu Mangueira — com investimentos totais de R$ 52,4 milhões. Numa praça que ganhou o nome de Centro Cívico, há um deque que imita madeira, mas que, na verdade, é feito com garrafas PET recicladas. Em outra praça, o Largo do Campinho, um mirante com vista para a Praia de Copacabana foi construído com a mesma “madeira de plástico”. Será implantada ainda a coleta seletiva de lixo, e materiais alternativos impedirão a impermeabilização do solo. Já a Ladeira Ary Barroso, que dá acesso às comunidades, está sendo pavimentada com asfalto borracha (misturado a pneus usados e triturados). AÁrea de Proteção Ambiental de onde está sendo retirada parte dos moradores será reflorestada.

O “prédio verde” foi a primeira construção habitacional pública do país a receber o selo azul da Caixa, o mais alto reconhecimento de qualidade dado pela instituição, entregue durante a Rio+20. No mês passado, as obras receberam a visita do ator Harrison Ford, o eterno Indiana Jones, que veio ao Brasil para uma série de compromissos como integrante da ONG Conservation International, da qual é diretor global.

— É importante que se leve esse conceito de sustentável à construção de moradias populares no Rio. Além de questões como a eficiência energética, um dos fatores fundamentais é que essas construções tragam mais conforto a seus moradores. O Rio é uma cidade quente, por exemplo, e soluções que amenizem esse calor são muito bem-vindas — ressalta a professora Cláudia Barroso Krause, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.

Construções sustentáveis têm crescido

Com benefícios como os citados por Cláudia, as construções sustentáveis têm se espalhado pelo Brasil. O país já é o quarto no ranking mundial de edificações verdes, com 82 prédios com a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e 600 em processo de certificação. De acordo com o Green Building Council Brasil, o país só fica atrás dos Estados Unidos, da China e dos Emirados Árabes Unidos em número de prédios com esse certificado, entregue a construções que cumprem requisitos como eficiência energética, uso racional da água e qualidade ambiental interna.

No que se refere à construção de moradias populares, no entanto, não faltam maus exemplos de projetos que passaram longe desses conceitos. Nessa lista estão construções como os apertados e escuros apartamentos da Fazenda Botafogo, na Zona Norte, ou os quentes cômodos com telha de amianto, no Cesarão, na Zona Oeste, ambos conjuntos construídos durante o período do Banco Nacional de Habitação (BNH), entre as décadas de 1960 e 1980.

Mas também aconteceram projetos bem-sucedidos. No conjunto do Pedregulho, em Benfica, do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, o desenho ondulante dos prédios acompanha a topografia do terreno, os corredores são bem iluminados, com luz natural, e os apartamentos têm ventilação cruzada (basta abrir a porta e as janelas para o vento cruzar a casa). No Conjunto do Cafundá — de autoria dos arquitetos Sérgio Magalhães, Ana Luiza Petrik, Clóvis Barros e Silvia Pozzana —, em Jacarepaguá, há boa circulação de ar e iluminação nos apartamentos, e a ventilação nas escadas é garantida por elementos vazados nas paredes.

O programa Morar Carioca de reurbanização já chegou a 66 comunidades. Segundo o secretário de Habitação, as próximas favelas que receberão as obras serão a Barreira do Vasco e a Vila do Mexicano, recém-ocupadas para instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Nessas favelas, serão investidos R$ 100 milhões, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A previsão é que os projetos sejam licitados em junho.

Até agora, diz Pierre Batista, R$ 2,1 bilhões foram investidos na primeira etapa do projeto, beneficiando áreas com cerca de 70 mil famílias. Na próxima etapa, mais 82 mil devem ser contempladas.