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Matadouro em Promissão, no Estado de São Paulo ; frigorífico ; carne ; agronegócio ;  (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)

Matadouro em Promissão, no Estado de São Paulo (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)

O Brasil pode ter de se preparar para perder terreno no seu maior mercado de carnes no mundo. As importações de todas as carnes brasileiras feitas pela China estão caindo. Os estoques estão altos como nunca, e os preços despencaram nos últimos meses. Um único importador, que costuma estocar de 600 a 700 toneladas, tem neste momento, 3.600 toneladas encalhadas nos depósitos. As explicações ainda não são claras. Os chineses teriam importado e produzido (sobretudo frango e porco) demais.

Mas este não é o único revés para o futuro próximo. Para dar um sinal positivo ao novo governo americano, a partir de meados de julho, as autoridades da China permitirão a entrada de carne bovina dos Estados Unidos pela primeira vez em 14 anos (período em que o mercado chinês esteve fechado depois de denúncias de focos de doença da vaca louca). A iniciativa faz parte dos acordos firmados recentemente com o governo do republicano Donald Trump para reduzir o déficit comercial de centenas de bilhões de dólares que os Estados Unidos têm com a China.

Alta em valor, queda no volume vendido

A concorrência no principal mercado de carnes para o Brasil deve ficar ainda mais acirrada. Neste exato momento, há uma missão técnica de especialistas chineses desembarcando na França para concluir o processo de liberação de vendas de carnes bovinas para a China. As tratativas com a Irlanda do Norte também estariam avançadas. Os chineses acabam de assinar protocolos para a importação de carne bovina. Faltaria uma canetada de Pequim para abrir de vez o mercado.

O cenário para o Brasil, que recentemente sofreu os efeitos da suspensão das importações de carnes em várias partes do mundo após o escândalo da Operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal, não é dos melhores. Seu melhor cliente está comprando menos e pode cortar ainda mais as importações no futuro próximo. Não porque a China tenha perdido o interesse pela carne brasileira. Mas a conjunção de fatores não favorece a produção brasileira. A concorrência vai se acirrar.

Ao jornal O Globo, uma fonte do mercado disse que os preços despencaram e que não vale a pena vender agora. Segundo ele, o “quilo do meia da asa” caiu de US$ 4,20 para US$ 3,60. Uma razão para essa queda seria o fato de os chineses também estarem consumindo menos no verão. Fabricante dos tradicionais dumplings de carne em uma cidade chinesa, que compra carne brasileira processada, encomendou quatro toneladas de um importador, mas acabou pedindo ao fornecedor que guardasse o produto congelado porque não estava conseguindo vender os dumplings.

Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as exportações brasileiras de carne de frango ( produtos in natura, embutidos e processados) totalizaram US$ 2,968 bilhões de janeiro a maio, resultado que supera em 9% o saldo obtido no mesmo período do ano passado, de US$ 2,722 bilhões. No entanto, em volume, o total embarcado chegou a 1,75 milhão de toneladas, 5,6% a menos do que nos cinco primeiros meses de 2016, de 1,85 milhão de toneladas.

Em maio, as exportações somaram 349,9 mil toneladas, 11,1% a menos que no mesmo período do ano passado, com 393,6 mil toneladas. A queda das receitas foi de 2,6%. “O setor ainda está se recuperando dos efeitos gerados internacionalmente pelos equívocos da divulgação da Operação Carne Fraca. Determinados mercados como China, Hong Kong, Kuwait e outros ainda apresentam desempenho inferior ao registrado no período equivalente de 2016”, disse Francisco Turra, presidente-executivo da ABPA, em nota divulgada pela associação.

Impacto maior para carne suína

Já as vendas de carne suína in natura foram de US$ 598,7 milhões de janeiro a maio. Trata-se de valor 30% superior ao obtido no mesmo período do ano passado, de US$ 460,6 milhões, porém equivale a 3,3% menos em volume. Em maio, os embarques caíram 24,4%, chegando a 41,7 mil toneladas, em relação ao mesmo período de 2016.

“Assim como no setor de aves, diversos importadores de carne suína retraíram suas compras. No caso de suínos, os impactos foram mais significativos, especialmente entre os importadores chineses”, analisa o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin.

Procurada pelo jornal O Globo em Pequim, a assessoria de imprensa do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que está em Pequim para uma série de reuniões bilaterais e dos países do Brics não comentou o assunto. Também não falou sobre a possibilidade de a União Europeia suspender importações de carnes brasileiras.