Política

Candidaturas coletivas: eleição terá boom de grupos que pretendem dividir mandato nas câmaras

Pelo menos sete coletivos estão formados em quatro estados e vários outros devem ser organizados nas próximas semanas
Bancada do Livro, no Rio, tem propostas ligadas ao desenvolvimento da cultura e da educação Foto: Divulgação
Bancada do Livro, no Rio, tem propostas ligadas ao desenvolvimento da cultura e da educação Foto: Divulgação

SÃO PAULO - Inspiradas na vitória em 2018 da bancada Ativista, que levou nove pessoas de três diferentes partidos a dividirem um único mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo, as candidaturas coletivas se multiplicam para a disputa das eleições municipais de novembro. Pelo menos sete coletivos estão formados em quatro estados e vários outros devem ser organizados nas próximas semanas, já que o prazo de inscrição de candidaturas para a próxima eleição vai até 26 de setembro.

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Para a Câmara de Vereadores do Rio, estão na disputa, por exemplo, a Bancada do Livro (Cidadania) e a Coletivas (Rede). Um novo grupo originado na Bancada Ativista, o Periferia é o Centro (PDT) e a Bancada Sustentável (PV) vão disputar uma vaga de vereador na capital paulista.

Na cidade de Ourinhos (SP), o coletivo Enfrente! (PT), formado por cinco pessoas, lançou sua pré-candidatura.

— Aqui o histórico é de poucas mulheres na política. Queremos levar a força de um coletivo para dentro da Câmara —  diz Roberta Stopa, uma das integrantes do grupo, acrescentando que das 15 vagas na Câmara de Ourinhos hoje, apenas uma é ocupada por mulheres.

Na Bahia e em Pernambuco, a Mandata Trans Coletiva entrará na disputa em Porto Seguro, e a Pretas Juntas na Política em Recife. Ambos pelo PSOL.

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O modelo é sempre o mesmo: uma pessoa é escolhida pelo grupo para registrar a candidatura em seu nome (o Tribunal Superior Eleitoral só admite um candidato), e as demais se transformam em co-vereadoras, dividindo o gabinete. Os cargos de assessor parlamentar, em geral, são distribuídos entre o grupo. Cada integrante do coletivo tem uma área de atuação comunitária e, somados, os interesses se transformam na plataforma política.

Estímulo à educação

A Bancada do Livro, no Rio, por exemplo, tem como prioridade fomentar educação e cultura.

— A gente entende que livro, educação e cultura são importantes na transformação da sociedade — diz Bianca Lessa, que coordena a pré-campanha da Bancada do Livro.

A economista Erian Ozorio, que em 2018 integrou o grupo Mulheres na Política, de apoio a candidatas, afirma que lançar seu nome sozinha seria muito difícil, mas no coletivo a ideia ganhou força. Hoje, são sete mulheres, cada uma com área de atuação definida, dispostas a dividir um mandato.

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Em São Paulo, o ambientalista Casé Oliveira, do PV, e mais seis pessoas formam a Bancada Sustentável, com pautas que vão de meio ambiente a educação e cultura na periferia.

— A ideia inicial era eleger 32 vereadores, um em cada subprefeitura, mas a maioria quer ser dono de seu mandato. Ocorre que a sociedade é multipartidária e temos muito a fazer. Ainda temos casas sem água encanada — diz Oliveira

Co-deputado na Bancada Ativista, Jesus dos Santos se afastou da Assembleia paulista para lançar um grupo de 13 pessoas pelo PDT.

— Sou porta voz de uma demanda única. Entendemos que existe desigualdade na distribuição da arrecadação e o nosso projeto de cidade é o desenvolvimento social, econômico e de gestão da periferia — explica Santos.

Há ainda, desde 2016, um mandato coletivo em exercício no município de Alto Paraíso de Goiás, onde cinco pessoas se uniram num cargo de vereador.

Para o cientista político Leonardo Secchi, coordenador de uma pesquisa sobre mandatos coletivos e compartilhados, o objetivo principal não é juntar votos, mas aproximar a população da política.

Segundo o estudo, da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade e Instituto Arapyaú, na última eleição para Câmaras Municipais, em 2016, foram lançadas 70 candidaturas coletivas ou compartilhadas e 16 mandatos foram conquistados.

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—  A motivação das candidaturas coletivas vem da crise de representação política-parlamentar. É um movimento muito mais social do que partidário —-  diz Secchi, acrescentando que a experimentação ganhou força diante de alguns exemplos bem conduzidos, que inspiram a formação de novos coletivos.