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Por Jornal Nacional


Relatório do IBGE aponta para as desigualdades do acesso à cultura

Relatório do IBGE aponta para as desigualdades do acesso à cultura

Um relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou as desigualdades de acesso à cultura no país.

Da Avenida Paulista, com seus oito museus e centros culturais, seis conjuntos de cinemas e quatro teatros, são quase 20 quilômetros até o bairro Valo Velho, nos limites da cidade. O endereço de uma escola de desenho que, para alguns jovens, é bem mais do que isso. É oportunidade.

“Isso aqui para mim é minha vida. Eu desenho desde pequenininho e sempre procurei um curso, um lugar que eu podia aperfeiçoar isso. É isso que eu quero para o meu futuro”, contou João Gabriel dos Santos, de 15 anos.

A escola é particular, mas bem mais barata do que os cursos na região central da cidade, criada por um professor que se cansou das dificuldades do ensino público, onde trabalhou como voluntário. Ele deu chance a pessoas como Jackson Pereira, que foi aluno e hoje também é professor.

“Eu sou ilustrador, faço caricatura em evento, então eu só me expandi nessa parte artística, me profissionalizei”, contou.

O relatório do IBGE mostra que, de 2014 a 2018, o percentual de trabalhadores na área cultural com carteira assinada caiu de 45% para 34%, e a informalidade cresceu praticamente na mesma medida.

Os dados mostram que o total dos valores investidos em cultura até cresce ao longo dos anos, mas abaixo dos índices de inflação. Pior: ao mesmo tempo a participação do setor dentro dos orçamentos públicos diminui. A pesquisa também revela quem são os maiores prejudicados com isso.

“A população de baixa renda, população jovem, pessoas negras, de uma forma geral pessoas que residem em locais menos privilegiados”, disse Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.

Na definição usada pelo IBGE, 44% dos pretos e pardos vivem em cidades sem cinemas, contra 34% da população branca; 37%, em cidades sem museus, contra 25% dos brancos. Em cidades sem nenhum teatro ou sala de espetáculo, a diferença é a mesma.

E mais de um terço das crianças e adolescentes até 14 anos também não têm acesso a esse tipo de lazer cultural. Organizadora de uma versão popular das grandes feiras da chamada cultura geek, jovem, digital, a PerifaCon, Luíze Tavares diz que há uma visão distorcida do jovem da periferia.

“A periferia não é entendida como um centro de cultura quando a gente fala de investimento. Em geral, cursos ou até acesso à educação que você tem na periferia são focados em trabalhos manuais, operacionais e nunca artísticos”, disse.

A diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, diz que, além de fundamental para o desenvolvimento de crianças e jovens, a cultura é importante para toda a sociedade.

“O Brasil poderia investir mais, sim na cultura, e também contribuir para melhorar o acesso, reduzindo a desigualdade”, explicou.

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