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Economia

Reajuste na conta de luz deve ser de 15,5%, em média, neste ano; no Rio, previsão é de alta de 10%

Estimativas indicam que tarifas devem atingir, em 2021, o maior patamar de reajuste em três anos
Reajuste da conta de luz pode chegar em média a 15,5% Foto: Laura Marques / Agência O Globo
Reajuste da conta de luz pode chegar em média a 15,5% Foto: Laura Marques / Agência O Globo

RIO - A combinação de avanço do dólar, crise do coronavírus e baixo volume de chuvas deve resultar em um aumento médio das contas de luz de 15,5% este ano, de acordo com estimativa da TR Soluções, empresa de tecnologia aplicada ao setor elétrico.

O aumento da fatura deve ocorrer de forma desigual: o Norte teria alta de até 21,6%, seguido das regiões Centro-Oeste (21,3%), Nordeste (18,5%), Sudeste (14,5%) e Sul (12,6%).

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Caso a projeção se confirme, a conta da luz deve atingir em 2021 o maior patamar de reajuste em três anos. Na próxima terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve deliberar sobre os reajustes da Enel e da Light, concessionárias do Rio.

Segundo a previsão da TR, o consumidor da área de concessão da Light pode arcar com um aumento de até 10%. O da Enel teria reajuste de 7%.

O aumento na conta de luz ocorre em um cenário de crise, com expectativa de retração da economia no primeiro trimestre, diante da escalada da Covid-19. Além disso, parte dos trabalhadores permanece em regime de home office, com aumento do consumo de energia em casa.

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Peso da conta-Covid

Após anunciar a troca no comando da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro afirmou recentemente que pretende “meter o dedo” no setor elétrico . Especialistas avaliam, porém, que parte da conta de luz que o brasileiro passará a pagar este ano reflete medidas adotadas em 2020 para conter a crise.

Economistas ponderam que iniciativas para conter artificialmente as tarifas acabam tendo um custo ainda maior adiante e que recai sobre o consumidor.

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A crise econômica causada pela pandemia fez o governo manter a chamada bandeira verde nas contas de luz durante quase todo o ano de 2020. A medida gerou um custo adicional de R$ 3,1 bilhões, que será pago este ano via repasse nas tarifas.

. Foto: Criação O Globo
. Foto: Criação O Globo

O sistema de bandeiras transfere ao consumidor o custo do acionamento de usinas termelétricas, que têm custo de produção mais elevado. Na bandeira verde, não há cobrança extra.

Helder Sousa, diretor de Regulação da TR Soluções, cita ainda a despesa de quase R$ 15 bilhões com a chamada “conta-Covid”, que se refere a empréstimos feitos para socorrer as distribuidoras no ano passado como forma de cobrir as perdas causadas pela queda de consumo na quarentena. Esse valor vai ser pago pelos consumidores até 2025.

— Os problemas de 2020 foram repassados para esse ano e vão se prolongar até 2025. Há um risco de a alta ser ainda maior, pois as chuvas são incertas e podem não ocorrer no patamar necessário, levando a um maior acionamento das usinas termelétricas, cuja tarifa é mais elevada — disse Sousa.

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Segundo especialistas, desta vez, o governo estuda devolver nas tarifas parte dos cerca de R$ 50 bilhões referentes à cobrança de impostos de distribuidoras acima do patamar correto nos últimos anos.

— Esse tema está em consulta pública na Aneel. O ideal seria que o crédito fosse parcelado em cinco anos. Mas, como há eleição no ano que vem, o governo pode querer acelerar essa devolução. O risco é ter uma redução pontual e depois voltar a subir — explicou Nivalde Castro, coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ.

Com o trabalho em casa, a tendência é ter uma conta mais salgada. Segundo o economista e consultor de índice de preços, Paulo Brück, energia elétrica têm peso superior a 4,6% no IPCA, o índice de inflação oficial do governo.

— Em março, teremos reajuste da Light. Mas a variação no país vai ocorrer ao longo do ano e há muitas incertezas sobre o real impacto nas contas, com as medidas em estudo no governo para reduzir as tarifas — disse, citando a medida provisória que destina recursos extras para a Conta de Desenvolvimento Energético, como forma de reduzir o impacto final para o consumidor.

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Ana Carolina Ferreira da Silva, consultora de Regulação e Tarifas da Thymos, estima reajuste médio das tarifas de 12,85% este ano. Segundo ela, pesam o início da cobrança da conta-Covid, o aumento do dólar e o risco hidrológico, que, segundo ela, foi afetado pelo não acionamento da bandeira tarifária em 2020:

— O reajuste médio esperado é referente também ao acionamento de usinas termelétricas para garantir a segurança energética.

Segundo a TR Soluções, caso o governo opte por devolver parte dos recursos cobrados acima do patamar correto das empresas, o reajuste de Light e Enel poderia ser até cinco pontos percentuais menor.

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Enquanto isso, a alta do dólar pressiona o IGP-M, índice usado como referência para reajustar parte dos custos das principais distribuidoras. Em 2020, o índice acumulou avanço de 23,14%. A divisa influencia o custo da energia gerada pela usina de Itaipu, que atende as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de usinas nucleares e termelétricas.

O cenário fica ainda mais complicado em razão do nível dos reservatórios. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste estão em 30%, menor nível desde 2018.

— Vamos chegar em abril, fim do período de chuvas, com os reservatórios em níveis baixos. E há o risco de as termelétricas mais caras serem acionadas, trazendo a necessidade de bandeira vermelha — disse Castro.