Giliard do Nascimento é um dos passageiros do voo, e diz que passou frio e fome nos EUA
O quinto avião fretado pelo governo norte-americano chegou ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por volta de 16h desta quarta-feira (19). A previsão era de que 93 pessoas estivessem no voo, mas havia apenas 17 passageiros a bordo.
Alguns dos passageiros se queixaram das condições em que ficaram, ainda nos Estados Unidos. Eles disseram que chegaram a passar frio e fome, e dormiram em colchões no chão.
Na sexta-feira 14, um outro voo chegou a confins com 80 passageiros. Entre eles, estavam 40 crianças e adolescentes. Antes disso, no dia 7 de fevereiro, 130 brasileiros que foram deportados pelos Estados Unidos chegaram a Confins. Um deles definiu como "muito sofrido" o tempo que ficou preso com a família.
Em outubro de 2019, chegou a Belo Horizonte um primeiro voo, com cerca de 70 pessoas. O desembarque marcou a retomada de uma medida que não era aceita pelo Brasil desde 2006, quando o Itamaraty alterou a política de trato de brasileiros no exterior. O segundo voo aterrissou em janeiro deste ano, com dezenas de brasileiros.
O governo do presidente Jair Bolsonaro tem facilitado a deportação de cidadãos que vivem irregularmente nos EUA, o que representa uma mudança em relação à política de governos anteriores.
Mais um avião chega a Minas Gerais com brasileiros deportados dos EUA
Brasil não aceitava voos fretados com deportados desde 2006
A decisão de não aceitar mais o fretamento de aviões veio em 2006 quando, depois de uma CPI que investigou as deportações de brasileiros, o Itamaraty alterou a política de trato de brasileiros no exterior, incluindo aqueles acusados de imigração ilegal.
Um diplomata ouvido pela Reuters explica que a decisão de não aceitar mais as deportações em massa veio da necessidade de analisar caso a caso e dar aos brasileiros que vivem nos Estados Unidos, mesmo ilegalmente, a possibilidade de reverter a decisão de deportação - o que muitas vezes acontece quando o cidadão tem filhos norte-americanos, uma estrutura familiar montada e às vezes até negócios.
Essa é a segunda medida tomada pelo governo brasileiro para facilitar a deportação, em concordância com pedidos do governo Trump. Como mostrou a Reuters em agosto, o governo emitiu um parecer autorizando a volta de brasileiros no país apenas com um atestado de nacionalidade.
Isso porque a lei brasileira proíbe a emissão de passaportes à revelia do cidadão, o que impedia o governo norte-americano de embarcar os deportados sem que eles se dispusessem a pedir um passaporte. No governo Temer, sob pressão dos EUA, foi feito um acordo para que os consulados emitissem o certificado em alguns casos, mas algumas empresas aéreas se recusavam a aceitar o documento até o parecer do governo brasileiro.
Os voos fretados, no entanto, eliminam também esse problema. Não há necessidade de documento para desembarque no Brasil.
O número de imigrantes brasileiros presos nos Estados Unidos tentando cruzar a fronteira pelo México aumentou mais de 10 vezes no último ano fiscal norte-americano (outubro de 2018 a setembro de 2019), chegando a 17.900, contra 1.500 no ano fiscal anterior. Em 2019, cerca de 850 mil pessoas de diversas nacionalidades foram presas tentando cruzar a fronteira dos EUA.
Setenta brasileiros foram deportados dos Estados Unidos