• Thiago Baltazar (@thiagobaltazar)
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6 termos racistas e xenofóbicos para não usar mais (Foto: Divulgação)

6 termos racistas e xenofóbicos para não usar mais (Foto: Divulgação)

Algumas expressões muito comuns no vocabulário informal do brasileiro podem parecer inocentes, mas carregam uma enorme carga de preconceito racial e xenófobo, mesmo quando são usadas em situações nas quais não há intenção de ofender alguém.


Para ajudar nesse processo de reeducação da fala, o linguista Thomas Finbow, doutor do Departamento de Linguística da USP,  identificou mais de 300 palavras e expressões que podem ser substituídas por outras numa iniciativa para combater o preconceito impregnado na nossa linguagem.


O projeto, batizado de Teclado Antipreconceito, foi desenvolvido em parceria entre as Edições Globo Condé Nast (EGCN), detentora no Brasil das marcas Vogue, Glamour, GQ e Casa Vogue, e a agência de publicidade Leo Burnett Tailor.

Vogue conversou com Finbow para entender por que alguns termos-- listados a seguir-- precisam sair de vez de nosso vocabulário. Veja a seguir. 

DA COR DO PECADO (substitua por bronzeado ou bronzeada)
"Este termo traz uma pesada bagagem histórica dos tempos da escravidão e do concubinato não consensual e o estupro. Também traz à tona o fetiche da potência sexual negra ou indígena, ou seja, novamente o exotismo do não europeu. Neste caso, a expressão também está associada ao mito da mulher de pele escura que provoca o homem branco a se perder e abandonar a razão, a civilização e a monogamia cristã. No caso, 'da cor do pecado' pode, eventualmente, ser entendido como um elogio da beleza da aparência bronzeada, mas, com toda essa carga histórica pesada, é compreensível por que é uma expressão para evitar".

GRINGO (substitua por estrangeiro) E FALANDO CHINÊS (substitua por incompreensível)
"Genericamente, 'gringo' e 'falando chinês' pertencem a um grupo de expressões que destacam a nacionalidade, etnia ou raça do(s) indivíduo(s) referenciados. Dependendo da situação de uso, esses termos tendem a ser entendidos como depreciativos dos grupos denominados. Por exemplo, o 'chinês' [mandarim] é, por acaso, inerentemente menos compreensível do que algum outro idioma? Um brasileiro teria mais chance de compreender uma fala em quéchua, suaíli, húngara, checa ou quirguiz? Então, por que usar o 'chinês' como o protótipo do incompreensível?

6 termos racistas e xenofóbicos para não usar mai (Foto: Divulgação)

6 termos racistas e xenofóbicos para não usar mai (Foto: Divulgação)

No caso de 'gringo', eu diria que o grau de ofensa depende muito do contexto de uso: dizer “ele/ela é gringo” para dizer que a pessoa é de origem norte-americana/britânica, é muito mais leve (embora ainda possa ofender) e é bem diferente de afirmar que “ele/ela é um/a gringo de merda”. Aqui há, claramente, a intenção de apresentar a pessoa negativamente. Aliás, o fato de que existe a possibilidade de qualificar um 'gringo' como sendo 'de merda' sugere que 'gringo' poderia receber qualificações positivas também, por exemplo, 'gringo de ouro'".

ESTAMPA ÉTNICA (substitua por africana ou indígena)
"Os problemas com 'estampa étnica' é similar a 'falando chinês': por acaso existe um povo que não seja de determinada etnia? É a questão etnocentrismo, de estabelecer uma etnia, cultura, raça, tipo físico, língua, religião, sexo, idade, sexualidade como ou o ponto morto (o que constitui o 'normal') ou como o padrão de excelência para avaliar todas as outras manifestações existenciais.

O outro aspecto problemático é o tipo de conotações que a palavra traz.. 'Étnico', nesse sentido, sugere exoticismo, possivelmente primitivismo, etc., que se opõe à noção de civilização, por exemplo. Taxar algo como 'étnico' é como aquela pessoa que acredita não falar com sotaque, quando, evidentemente, assim que estiver fora de seu meio cotidiano, sua pronúncia e os demais idiotismos a denunciará imediatamente como forasteira".

LISTA NEGRA (substitua por banido) E DEU BRANCO (substitua por esqueci)
"'Lista negra' e 'deu branco' pertencem a ainda outra categoria de palavras potencialmente problemáticas. Não há nada na etimologia das expressões que remete à racismo diretamente, além do fato de elas conterem as palavras 'branco' e 'negro', que têm, sim, um vínculo forte com conceitos raciais, e as respectivas conotações milenares positivas e negativas que esses dois adjetivos trazem na cultura europeia. Ou seja, a equação branco/luz/positivo e negro/trevas/negativo posa uma questão bem mais geral na língua portuguesa. Existem tantas outras maneiras de expressar nossas avaliações negativas, por que focar na questão de cor?"