Por France Presse


Homem passa diante de loja de bebidas alcóolicas fechada em Soweto. O presidente sul-africano voltou a impor toque de recolher e a proibir a venda de álcool durante a pandemia — Foto: Michele Spatari/AFP

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, voltou a proibir a venda de bebidas alcoólicas no país. A medida, que visa aliviar a carga dos hospitais durante a pandemia, foi bem recebida pelos médicos, mas gera insatisfação entre os comerciantes. Donos de bares e vendedores afirmam que a proibição ameaça empregos e a viabilidade de pequenos negócios.

A África do Sul é o sexto país do mundo em número de infectados, segundo um balanço da AFP, com mais de 324 mil casos confirmados e mais de 4.669 mortos.

Nas últimas semanas, o número de novos casos disparou. A previsão é de que o país atinja o pico da pandemia em breve. Nos hospitais públicos, sobrecarregados, os médicos já enfrentam o dilema de escolher quem salvar.

Neste contexto, autoridades decidiram restabelecer, no último domingo (12), a proibição da venda de bebidas alcoólicas, que vigorou durante parte do confinamento, imposto do fim de março até 1° de junho.

"À medida que avançamos para o pico de infecções, é vital não sobrecarregar nossas clínicas e hospitais com lesões relacionadas ao álcool, que poderiam ter sido evitadas", disse Ramaphosa, em um discurso à nação, transmitido pela televisão.

Segundo o ministro da Saúde do país, Zweli Mkhize, quando as restrições à venda de bebidas alcóolicas foram levantadas no começo de junho, os hospitais registraram um aumento de até 60% nos atendimentos em emergências e de até 200% nas UTIs.

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Os médicos foram obrigados a lidar com pacientes vítimas do consumo abusivo de álcool, que resulta em acidentes de trânsito e brigas violentas.

"Agora há evidências claras de que a retomada da venda de álcool resultou em uma pressão considerável nos hospitais, incluindo os traumatismos e as unidades de terapia intensiva, devido a acidentes automobilísticos, violência e traumas induzidos pelo álcool", disse o presidente sul-africano.

Mulher caminha por centro comercial, diante de lojas que vendem bebidas alcóolicas totalmente fechadas, em Johanesburgo — Foto: Michele Spatari/AFP

Comerciantes insatisfeitos

Vendedores de bebidas alcoólicas e donos de bares manifestaram insatisfação, alegando que a proibição é injustificada.

"Todos concordamos que é importante reduzir a pressão no sistema de saúde e que todas as vidas contam", afirmou o comerciante John Woodward. "Mas não acredito que este país seja tão diferente dos outros para ter que tomar medidas tão draconianas."

"A proibição e a forma como a mesma foi colocada em prática ameaçam dezenas de empregos", disse o comerciante de Setellenbosch, no sudoeste do país, referindo-se à própria empresa, que emprega 30 pessoas.

Segundo o Conselho Nacional de Vendedores de Álcool (NLTC), cerca de 44,5 mil bares pequenos irão quebrar devido à proibição.

"A decisão trará consequências catastróficas para os bares pequenos e irá mergulhar as famílias em uma pobreza grave", advertiu Lucky Ntimane, do NLTC.

Os consumidores também estão irritados. Após o anúncio da proibição, prateleiras de bebidas das lojas foram saqueadas.

O ministro da Saúde sul-africano mostrou preocupação, uma vez que a pandemia colocou em evidência "o nível elevado de consumo de álcool" no país.

"Deixamos que a situação se degradasse ao ponto de nos encontrarmos no sexto lugar mundial em consumo diário de álcool por consumidor, ou seja, entre cinco e seis copos por dia", afirmou o professor Charles Parry, diretor da unidade de pesquisas sobre o álcool do Centro de Pesquisas Médicas da África do Sul. "Temos um problema evidente."

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