Rio
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Por Selma Schmidt — Rio de Janeiro

Moradora do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, a empregada doméstica desempregada Rudi Silva Martins, durante 62 anos, nunca teve chuveiro ou torneira em casa. Mas sua vida mudou. Um ano após a assinatura do contrato de saneamento de três blocos do leilão do Estado do Rio (o do Bloco 3 foi firmado em março último), completados este mês, a mulher é uma das moradoras das 17 favelas da Região Metropolitana e do interior do estado, onde a Águas do Rio, do grupo Aegea, está trabalhando. Quem passa a ter água encanada e tem a coleta de esgoto e é cadastrado, começa a receber uma conta, com a tarifa social de R$ 40 (se tiver os dois serviços). 

— Antes, pegava água com balde num cano, do lado de fora, levava para casa e esquentava no fogão para tomar banho de caneca. Eu ia despejando, despejando — conta a aposentada.

Para facilitar a execução das intervenções em áreas consideradas de risco de segurança pública, dos cerca de oito mil contratados até agora pela Águas do Rio, 3.500 são moradores de favelas. Entre as 17 comunidades onde a concessionária já entrou, além do Pavão-Pavãozinho, estão Cantagalo (Ipanema), Mangueira, Arará (Caju), Gringolândia (Pavuna) e Barreira do Vasco.

— É uma estratégia nossa. Essa mão de obra estava bastante disponível e conhece muito bem os atalhos das comunidades. Temos que nos adequar à região que estamos trabalhando. Como o Rio é muito grande, cada uma dessas comunidades tem sua particularidade. Quando a gente trás essas pessoas para trabalhar conosco, trazemos o conhecimento que elas têm da comunidade — afirma Alexandre Bianchini, presidente da Águas do Rio.

Barreira do Vasco: inadimplência menor que a da Zona Sul

Segundo Bianchini, nas comunidades onde a tarifa social passou a ser cobrada o percentual de inadimplência é pequeno:

— Na Barreira do Vasco, a expectativa era cadastrar 2.300 moradias, número que a prefeitura nos forneceu. Cadastramos 5.200 que nunca tinham recebido conta de água e esgoto. Lá, a inadimplência é de menos de 10%, menor do que a da Zona Sul, que está entre 15% e 17%. As pessoas dão valor ao pagamento da conta de água. Além de terem o serviço prestado, têm um documento na mão que as torna cidadãs.

Responsável pelo saneamento das zonas Sul, Norte e Centro do Rio e outros 26 municípios do estado (blocos 1 e 4) — três meses com operação assistida e nove meses com operação plena —, a Águas do Rio contabiliza R$ 625 milhões em investimentos até julho. Entre os serviços, cita a limpeza do interceptor oceânico que sai do Aeroporto Santos Dumont e vai até o Posto 5, em Copacabana.

— Tiramos mil toneladas de lixo da tubulação e a praia de Botafogo começou a dar sinais de balneabilidade — conta o presidente da Águas do Rio, acrescentando que o cinturão em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas também foi recuperado. — Não basta implantar a estrutura. É preciso manter e operar.

Já a Iguá, que também assinou o contrato de concessão em agosto do ano passado passou os seis primeiros meses em operação assistida. Nos últimos seis meses de operação plena do bloco 2 (Baixada de Jacarepaguá, Miguel Pereira e Paty do Alferes), a empresa contabiliza investimentos de R$ 80 milhões. A concessionária abriu mil vagas de emprego, entre empregados próprios e terceirizados. De moradores de comunidades, foram 60 contratações, mas há um cadastro de 2.800 currículos.

Entre as ações citadas pela empresa, estão o aumento de 20% a 30% na vazão de esgoto que chega à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Barra da Tijuca e a redução em 34% no tempo de atendimento a reparos emergenciais. Além disso, a empresa implantou dois Centros de Controle Operacional (CCO), com funcionamento 24 horas por dia, para o garantindo monitoramento das redes e identificação de possíveis falhas. Sobre o projeto ambiental de revitalização do Complexo Lagunar de Jacarepaguá, até agora foram retiradas 120 toneladas de resíduos.

— O período de operação assistida e nossos primeiros seis meses de operação plena nos permitiram avançar na segurança operacional e no planejamento das ações de longo prazo que vão gerar um legado muito positivo — afirma Eduardo Dantas, diretor geral da Iguá no Rio de Janeiro.

Trata Brasil: em 2020, Rio investiu só R$ 25 por habitante em saneamento

Presidente do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto fez uma avaliação de 2020 — os últimos dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento, Snis, são desse ano —, chamando a atenção para os baixos investimentos em saneamento básico: 

— O Rio investiu R$ 25 por ano por habitante em saneamento, enquanto a média nacional foi de R$ 64 reais. Antes dos leilões, o investimento médio estava muito baixo. Alguma regiões, como São Gonçalo, que é uma das piores cidades do nosso ranking do saneamento, investiu R$ 3,62 ano por habitante. O primeiro grande ganho das concessões é no volume de investimentos, que se transforma em obras e, depois, num percentual maior da população com acesso aos serviços.

O Trata Brasil fez ainda um estudo do impacto das concessões nos blocos 1 e 4, e, agora, vai estender a avaliação para o bloco 2. Pensando a longo prazo, de acordo com o Trata Brasil, os blocos 1 e 4 podem gerar 36 mil empregos, até a universalização do saneamento, em 2040. Até lá, o instituto calcula um ganho de R$ 37 bilhões com a redução de gastos com saúde; o aumento da produtividade e da renda no trabalho; a valorização imobiliária e ambiental, por causa de limpeza de rios, lagoas e mares; o crescimento da renda com turismo. 

O mapa do saneamento no Rio — Foto: Editoria de Arte
O mapa do saneamento no Rio — Foto: Editoria de Arte

Cedae: mesmo com perda de clientes, Cedae dá lucro

Com os leilões dos quatro blocos e concessões antigas, dos 92 municípios, 63 estão com o saneamento sob a responsabilidade da iniciativa privada, cabendo à Cedae captar, tratar e vender a água. Do total, 17 municípios ainda são atendidos pela Cedae e 12 cuidam de seu abastecimento de água e da coleta e do tratamento de seu esgoto. Antes dos leilões, a Cedae tinha 1,2 milhão de clientes, número que caiu para cerca de 160 mil. As redes de distribuição sob sua responsabilidade também encolheram de 11 milhões para 2,4 milhões de quilômetros. A estatal adotou medidas e, no primeiro semestre deste ano, teve lucro de R$ 323 milhões.

— O lucro de seis meses de 2022 foi 272% maior do que o primeiro semestre de 2021 e foi 1.090% maior do que o lucro de todo o ano de 2021 (R$ 27 milhões). Ou seja, o resultado de seis meses em 2022 foi 12 vezes maior do que o de todo o ano 2021 — analisa o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec.

Resultados financeiros da Cedae — Foto: Editoria de Arte
Resultados financeiros da Cedae — Foto: Editoria de Arte

Gilberto Braga compara ainda receitas e despesas:

— Embora a receita da Cedae tenha caído em termos absolutos pela metade quando se compara os resultados semestrais de 2022 contra 2021, houve uma expressiva redução de custos e despesas operacionais, o que tornou a empresa mais eficiente, com uma margem Ebitda (capacidade de geração de caixa dos ativos) de 33,58% contra 26,84%.

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