Por Anaísa Catucci e Caroline Borges, g1 SC


Luciano Hang na mira da CPI, do Supremo e do TSE

Luciano Hang na mira da CPI, do Supremo e do TSE

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid recebeu na quarta-feira (29) o empresário bolsonarista Luciano Hang. Dono da rede de lojas Havan, o catarinense de 58 anos nascido em Brusque, no Vale do Itajaí, é considerado uma das pessoas mais ricas do país. Ele integra a lista de bilionários brasileiros da "Forbes", com uma fortuna de US$ 2,7 bilhões.

Próximo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Hang foi convocado a depor na CPI nesta quarta-feira (22), por requerimento do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão (leia mais abaixo).

O empresário é um dos mais ferrenhos de Bolsonaro. A CPI quer aprofundar investigações sobre envolvimento do bilionário em esquemas de disseminação de informações falsas, principalmente sobre tratamentos ineficazes contra a Covid.

O nome de Hang apareceu na CPI quando Renan Calheiros afirmou que o prontuário da mãe do empresário foi adulterado. Regina Modesti Hang morreu em fevereiro, aos 82 anos, depois de ter ficado internada em um dos hospitais próprios da Prevent Senior. Regina havia contraído Covid-19, mas a causa da morte não está registrada como coronavírus.

A operadora de saúde é acusada de alteração de prontuários médicos para maquiar mortes por Covid e de realização de pesquisa, sem consentimento de pacientes, para testar remédios ineficazes no tratamento da doença.

Após ter o depoimento marcado pela CPI, Luciano Hang divulgou vídeo no qual disse que iria à comissão "de coração aberto".

Leia, abaixo, mais sobre Luciano Hang:

Filho de operários, Hang é um dos mais ricos do país

Filho de operários e disléxico, Hang é casado com Andreia Benvenutti Hang e tem três filhos, Lucas e Leonardo (gêmeos) e Mateus. Ele reside em Brusque e aos finais de semana, mantém o hábito de lazer de andar de Veículo Utilitário Multitarefas (UTV) nas trilhas e interior da região do Vale do Itajaí.

Aos 17 anos, Hang começou a trabalhar na mesma fábrica em que o avô e os pais eram funcionários. Foi promovido a vendedor e, com 23 anos, comprou uma pequena fábrica de toalhas que estava fechando. Depois, foi para a Coreia do Sul importar os tecidos.

A primeira loja da Havan foi inaugurada em 1986 em Brusque quando Hang tinha 24 anos, vendia apenas tecidos, mas ao longo do tempo passou a diversificar os produtos. O nome da empresa surgiu da união de Hang e Vanderlei de Limas, antigo sócio da empresa. Em 1995, a rede inaugurou a primeira filial, em Curitiba (PR). A partir daí, a expansão chegou a outras cidades do país.

Réplica da Estátua da Liberdade em loja de Capão da Canoa (RS) — Foto: Divulgação/Havan

Uma das marca registradas das lojas são as réplicas da estátua da Liberdade erguidas em frente de cada uma das filiais. Símbolo de Nova York, a ideia do objeto surgiu em 1994. Na época, a rede já tinha a fachada inspirada na Casa Branca.

A empresa afirma que está presente em 18 estados do Brasil, possuiu 163 lojas e emprega 20 mil funcionários. Além da Havan, Hang é sócio de uma construtora de Balneário Camboriú, no Litoral Norte catarinense.

Hang tem três helicópteros – dois modelo Agusta A109SP - Grand New e um Agusta A109E - Power. E também mantém três jatinhos – um Learjet 45, um Challenger 350 e o Bombardier Global 6000, que custou cerca de R$ 250 milhões. As aeronaves são usadas para atender demandas da empresa.

No ano passado, antes do Dia das Crianças, algumas filiais da Havan passaram a vender um boneco do "Capitão Brasil", com o rosto de Hang. A fantasia é usada em eventos e transmissões virtuais feitas pelo empresário.

Hang já foi condenado por sonegação fiscal de R$ 10,4 milhões entre outubro de 1992 e agosto de 1999, segundo o Tribunal Regional Federal (TRF). O caso foi encerrado após um acordo judicial.

Imagem publicada em 15 de agosto de 2021 em uma rede social de Luciano Hang — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Proximidade com Bolsonaro e investigações

Além da CPI, Hang é alvo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federa (STF).

A ação movida no TSE sugere um favorecimento ilegal de Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições de 2018, com disparo de fake news por meio do Whatsapp. Hang afirma não ter feito nada ilegal.

Em 2018, durante a campanha, como um dos principais cabos eleitorais do presidente eleito, ele foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela emissão de posts eleitorais nas redes sociais.

A 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis chegou a proibir que a Havan e Hang fizessem qualquer tipo de pressão para que os colaboradores votassem em determinado candidato.

No STF, Hang é um dos alvo do inquérito conhecido como inquérito das fake news. Em maio de 2020, a Polícia Federal fez buscas em endereços do empresário e teve contas em rede sociais bloqueadas.

Ele é investigado como um dos possíveis financiadores de ações antidemocráticas, disseminação de fake news e ameaças a autoridades.

Na ocasião, Hang afirmou por meio de nota que jamais atentou contra os ministros do STF ou contra a instituição.

Foto de arquivo de 06 de setembro de 2019 do empresário bolsonarista Luciano Hang, de 58 anos, dono da rede de lojas Havan, que testou positivo para a covid-19 e está internado em um hospital da Prevent Sênior na capital paulista. A mulher dele também testou positivo e está internada no mesmo local. — Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

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Foi em um dos hospitais próprios da Prevent que a mãe do empresário, Regina Hang, de 82 anos, morreu após ser internada com Covid-19 em fevereiro deste ano.

Segundo a CPI, o prontuário da paciente mostra que ela foi medicada com o chamado "kit covid", com "azitromicina, hidroxicloroquina e outras medicações".

Ainda, segundo o documento, no quinto dia de internação, Regina passou por sessão de ozonioterapia, uma prática que é proibida pelo Conselho Federal de Medicina, exceto em pesquisas experimentais autorizadas pela comissão de ética em pesquisa e em instituições credenciadas. Ela morreu um mês depois de dar entrada no hospital com Covid. No atestado de óbito dela, no entanto, a Prevent Senior teria omitido a Covid-19 como causa da morte.

Além disso, documentos obtidos pela CPI, e revelados pela TV Globo, apontam que Hang teria financiado o blogueiro Allan do Santos, que também é bolsonarista e investigado pela disseminação de informações falsas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, teria intermediado o contato entre o empresário e o blogueiro.

Hang nega que tenha participado de gabinetes informais de disseminação de notícias falsas. Ele também classifica de "mentira" a suspeita de que tenha patrocinado veículos de internet que disseminaram desinformação. O STF é quem vai julgar o caso.

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