Por Eduardo Pierre e Henrique Coelho, g1 Rio


Câmeras de segurança registram assassinato de jovem congolês que trabalhava em quiosque no Rio

Câmeras de segurança registram assassinato de jovem congolês que trabalhava em quiosque no Rio

Três homens foram presos pela morte de Moïse Kabagambe no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, no dia 24 de janeiro.

A polícia afirma que Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; Brendon Alexander Luz da Silva, o Totta; e Fábio Pirineus da Silva, o Belo, são os assassinos de Moïse. Todos trabalham na praia, mas nenhum é funcionário do quiosque Tropicália (leia mais detalhes abaixo).

O crime foi registrado pela câmera de segurança do estabelecimento (veja as imagens acima).

Um dos presos, segundo o dono do quiosque Tropicália, chegou a questioná-lo se as câmeras do local estavam gravando.

RJ2 tem acesso aos depoimentos de presos pela morte de Moïse

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O trio teve a prisão temporária decretada pela Justiça do Rio e deve responder por homicídio duplamente qualificado — com impossibilidade de defesa da vítima e uso de meio cruel durante o crime.

À polícia, os três negaram que a intenção deles fosse matar e que o motivo das agressões fosse preconceito pela raça ou origem do jovem.

Veja abaixo a participação de cada um, segundo a polícia.

Fábio Pirineus da Silva, o Belo, 37 anos

Fábio Silva, preso pela morte de Moïse, foi o primeiro a dar pauladas no congolês — Foto: Reprodução/TV Globo

Aparece nas imagens de camiseta regata.

Vendedor de caipirinhas na praia, Belo confessou à polícia que deu pauladas em Moïse. Nas imagens, dá para ver que é Belo quem pega o bastão de madeira e inicia as agressões enquanto Brendon tenta imobilizar o congolês.

Ele estava escondido na casa de parentes em Paciência, na Zona Oeste, e foi preso na terça-feira (1º).

Fábio tinha passagens pela polícia. Uma delas por ter agredido a ex-mulher e a outra por não pagar pensão alimentícia.

Belo, segundo o dono do quiosque Tropicália, chegou a questioná-lo se as câmeras do local estavam gravando.

O que disse em depoimento:

  • que Moïse sempre arrumou confusão com banhistas e trabalhadores;
  • que viu o congolês tentando agredir o funcionário do quiosque Tropicália que aparece de camisa listrada nas imagens;
  • admitiu ter batido várias vezes, mesmo com Moïse imobilizado;
  • que não tinha a intenção de agredir até a morte e que a agressão não foi combinada.

Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, 29 anos

Aleson aparece no vídeo dando várias pauladas com Moïse já imóvel no chão — Foto: Reprodução

Aparece nas imagens de camisa vermelha de uma torcida do Flamengo e boné.

Em vídeo (veja abaixo), admitiu ter participado das agressões e disse que "ninguém queria tirar a vida" de Moïse.

Ele se apresentou à polícia na terça-feira (1º) na 34ª DP e depois foi levado para a DH, onde foi ouvido.

É cozinheiro e trabalha no quiosque do Biruta, que fica ao lado do Tropicália.

Tem três passagens pela polícia, uma delas por extorsão, porte ilegal de armas e corrupção de menores. Em 2014, Aleson e um adolescente fizeram um sequestro-relâmpago na Barra da Tijuca. Aleson foi preso e o adolescente apreendido, e o caso foi arquivado em 2016.

Em vídeo, homem assume que participou das agressões que mataram congolês

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O que disse em depoimento:

  • negou que Moïse estivesse cobrando uma dívida;
  • e que o real motivo das agressões foi o comportamento agressivo do congolês que, segundo ele, estava bêbado e arrumando confusão há alguns dias;
  • que resolveu bater no congolês para "extravasar a raiva";
  • admitiu que exagerou nas agressões.

Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota, 21 anos

Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota — Foto: Reprodução/TV Globo

Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como Tota, é quem parte para a briga com Moïse quando o congolês tenta mais uma vez pegar uma cerveja no freezer. Eles Inicialmente se estranham verbalmente até que Tota derruba Moïse com um golpe de jiu-jítsu conhecido como "baiana".

Ainda usando técnicas da luta, ele domina o congolês e o mantém imobilizado por vários minutos, enquanto Fábio e depois Aleson o agridem com pauladas.

Tota trabalha na Barraca do Juninho, na areia da Praia da Barra, em frente ao quiosque Tropicália.

Brendon não tinha passagem pela polícia.

O que disse em depoimento:

  • que a briga começou para defender o funcionário conhecido como Baixinho;
  • que, por ser lutador de jiu-jitsu, derrubou e imobilizou Moïse, que teria reagido;
  • que quando o congolês parou de resistir, decidiu amarrá-lo;
  • alegou que apenas segurou Moïse, mas não o estrangulou e está com a consciência tranquila.

Depoimentos do dono e funcionário do Tropicália

Ao g1, uma das pessoas que aparecem na filmagem disse que Totta, Bello e Dezenove trabalhavam como "comissionados" na praia.

Eles ofereciam drinques e petiscos na areia e ganhavam um percentual por aquilo que conseguiam vender. De acordo com o relato, essa também era a atividade de Moïse no quiosque Tropicália.

As outras pessoas que aparecem nas imagens do crime, segundo a Delegacia de Homicídios da Capital, não se envolveram diretamente no homicídio. Elas podem, no entanto, responder por omissão.

Um dos ouvidos foi Jaílton Pereira Campos, que aparece nas imagens de camisa listrada discutindo com Moïse. Conhecido como Baixinho, ele é funcionário do Tropicália.

Disse à polícia que discutiu com Moïse porque ele tentou pegar bebidas no freezer. O congolês teria respondido então que já tinha matado quatro e que ele seria mais um.

Jaílton disse ainda que se sentiu ameaçado e pegou um pedaço de madeira. Foi quando Moïse pegou uma cadeira em sua defesa.

O funcionário disse que não concordou com as agressões e que o dono do quiosque não devia nenhum valor a Moïse.

Já o dono do quiosque, Carlos Fábio da Silva, disse que Moïse aparecia para trabalhar na praia durante a alta temporada, como freelancer.

Falou que dispensou Moïse no dia 19 de janeiro porque ele apareceu para trabalhar embriagado, mas que pagou sua comissão. E que o congolês foi então trabalhar no quiosque ao lado, o Biruta.

Contou que, no dia do crime, recebeu uma ligação por volta das 23h de um colega dizendo que bateram no Angolano, como Moïse era conhecido, e que ele estava morto.

Disse ainda que logo depois recebeu uma mensagem de áudio de Belo, um dos agressores, comentando o ocorrido e perguntando se as câmeras do quiosque estavam gravando. Carlos afirma que desconfiou e disse que não e que Belo, um dos assassinos, demonstrou alívio com sua resposta.

Carlos negou tivesse qualquer dívida com Moïse.

A cronologia do crime

  • 22h25: Moïse, de blusa preta e bermuda vermelha, discute com um funcionário do quiosque, de camisa listrada verde e preta. O empregado pega um pedaço de pau e se afasta, contornando o freezer amarelo com o nome Tropicália. O congolês pega uma cadeira e abre a tampa da geladeira. Em seguida, uma vassoura, que solta na sequência, junto com a cadeira.

De camisa listrada e com um pau na mão, o funcionário do quiosque Jailton tenta manter a distância de Moïse, que também usa objetos como uma vassoura e uma cadeira para ameaçar o senhor — Foto: Reprodução/Globo

  • 22h26: Moïse tira a camisa e abre o freezer. Dois homens se aproximam. Um deles é Totta, de casaco, camisa vermelha e short preto, que derruba Moïse no chão. Logo Belo surge no vídeo. Ele golpeia Moïse várias vezes com um porrete. O congolês tenta se desvencilhar de Totta, cujo casaco acabou arrancado na luta. É possível contar 14 pauladas no congolês.

Após Moïse tirar a camisa, Brendon se aproxima e derruba o congolês no chão — Foto: Reprodução

  • Aparece Aleson, de camisa vermelho e preta, que bate quatro vezes no congolês. Moïse é amarrado.
  • Segundos depois, ao perceber que Moïse não reagia mais, Totta faz massagem cardíaca no congolês. Outros levam gelo, em vão. A gravação termina às 22h54.

Moïse está imobilizado no chão enquanto Aleson pega o bastão de Fábio e inicia nova sessão de espancamento — Foto: Reprodução

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