Por Marina Pinhoni e Patrícia Figueiredo, G1 SP — São Paulo


Movimentação de pessoas em restaurantes na região da Vila Olímpia, na zona sul de São Paulo (SP), nesta terça-feira (17), primeiro dia sem limite de horário e nem de capacidade de ocupação de público. — Foto: ANDRÉ RIBEIRO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A Sociedade Paulista de Infectologia publicou nesta terça-feira (17) uma nota criticando as medidas de reabertura em meio à pandemia de Covid-19 promovidas no estado de São Paulo. A publicação ocorre no mesmo dia em que todas as restrições de horário e capacidade máxima para estabelecimentos comerciais foram encerradas no estado.

Os infectologistas da associação declararam "extrema preocupação com as recentes medidas de flexibilização de atividades comerciais não essenciais e de entretenimento" em São Paulo.

"Entendemos que a abertura deveria ser mais gradual e lenta, face aos riscos representados pela variante delta do coronavírus", disseram os especialistas, em nota.

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No documento, os médicos disseram ainda que a imunização da população adulta com a primeira dose "se mostra insuficiente para proteção contra a variante delta" e que "países com altas taxas vacinais, como Israel e os Estados Unidos, têm passado por aumento de casos e de mortes" por conta do avanço desta variante.

A delta já corresponde a pelo menos 4% dos casos confirmados de Covid-19 no estado, percentual que sobe para 25% na Grande São Paulo, segundo boletim do governo de São Paulo do dia 1º de agosto. A proporção de casos é calculada por meio da análise genética de cerca de 600 amostras por semana, que são enviadas para uma rede de laboratórios parceiros do governo estadual. Esses laboratórios identificam qual foi a variante responsável pelo caso confirmado na amostra.

Laboratórios veem aumento da delta

Em entrevista ao G1, o presidente de um dos laboratórios parceiros do Instituto Butantan no sequenciamento do coronavírus no estado declarou que tem ocorrido um aumento na proporção de casos causados pela delta no estado nas últimas semanas.

"Está muito claro que já estamos em uma onda da delta. Com certeza essa variante será maioria das amostras aqui em São Paulo também. É inevitável, é uma questão de tempo", disse o médico geneticista David Schlesinger, CEO do meuDNA.

Para Schlesinger, os dados preliminares de casos positivos provocados pela variante delta mostram que as vacinas "reduzem drasticamente a mortalidade, mesmo da delta", mas que a variante "infecta um número mais expressivo de pessoas".

O médico disse ainda que a vacinação deveria avançar mais rapidamente e priorizar os idosos, mais suscetíveis a formas graves da doença.

"A gente precisa vacinar o mais rápido possível, e a gente precisa aumentar a cobertura de proteção dos idosos. Neste momento, não deveríamos vacinar adolescentes. A terceira dose para os idosos é uma urgência, porque eles morrem muito mais", disse Schlesinger.

Fim de comitê de especialistas

A crítica da Sociedade Paulista de Infectologia ocorre um dia após o anúncio da dissolução de um comitê de especialistas, o chamado Centro de Contingência para o Coronavírus, criado em março de 2020 para auxiliar as decisões políticas e sanitárias durante a pandemia de Covid-19.

O centro tinha 21 membros, entre cientistas e médicos. Na última sexta-feira (13), uma reunião consolidou a redução do grupo para apenas 7 membros, que ficarão apoiando o governador, João Doria (PSDB).

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde agradeceu o trabalho dos membros que contribuíram, de forma gratuita, segundo o governo, para o combate à doença e disse que a decisão de dissolver o comitê decorre da redução no número de casos e mortes pela doença no estado.

"O Governo do Estado de São Paulo agradece e enaltece o trabalho dos 21 membros do Centro de Contingência de COVID-19 que contribuíram de forma pró-bono desde o início da pandemia para o combate à doença, sempre com base na Saúde e na Ciência para adoção das melhores práticas preventivas e assistenciais para salvar vidas", disse o governo em nota.

"Frente à queda de casos, internações e mortes pela doença, neste novo contexto epidemiológico, estes especialistas que atuam em hospitais e na Academia têm diante de si outras demandas também fundamentais para assistir a população e contribuir com a Medicina brasileira e internacional", completou.

Encerramento de restrições

As restrições de horários e capacidade de estabelecimento comerciais chegaram ao fim no estado de São Paulo nesta terça-feira (17), após quase um ano e cinco meses desde que a quarentena para combater o coronavírus foi decretada. O uso de máscaras, no entanto, permanece obrigatório em todo o estado até, pelo menos, o final deste ano.

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A partir desta terça, comércios e serviços de todos os setores econômicos não terão mais limite de horário e nem de capacidade de ocupação de público. Também serão liberados eventos sociais, culturais e feiras corporativas com controle de público. Há apenas a recomendação para que aglomerações sejam evitadas.

Continuam proibidos, por ora, apenas shows com público em pé, pistas de dança e torcida em estádios de futebol. Estes eventos devem ser autorizados em 1º de novembro.

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