Por Mônica Teixeira, RJ2


Deputada protocola projeto de lei pra coibir emboscadas policiais

Deputada protocola projeto de lei pra coibir emboscadas policiais

O projeto de lei batizado com o nome de Kathlen Romeu, jovem grávida que foi morta com um tiro de fuzil no tórax, na comunidade do Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio, foi protocolado nesta quarta-feira (11) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O objetivo da proposta é proibir no estado a manobra militar conhecida como 'troia'.

O modelo de operação militar que pode ser proibida, caso a proposta seja aprovada pelos deputados do Rio, acontece quando agentes do estado ficam escondidos em casas de moradores para atacar supostos criminosos em emboscada. A prática de 'tocaia' não é admitida pela Polícia Militar.

O projeto é de autoria da deputada Renata Souza (Psol), integrante da comissão de Direitos Humanos da Alerj.

"A gente entende que precisa não só respaldar a memória de Kathlen, mas também trazer uma identidade importante para o que acontece no processo de segurança pública. A utilização de uma prática reprovável, inclusive pela ONU, que ainda que não esteja colocada como um código, algo estabelecido dentro das polícias, é uma prática que ocorre", comentou a deputada.

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A mãe e o companheiro de Kathlen estiveram na Alerj nesta quarta para apoiar a inciativa da parlamentar do Psol.

Os dois afirmaram que não havia confronto entre traficantes e policiais na comunidade, no momento em que a jovem foi atingida por um tiro de fuzil.

"A troia tem que ser criminalizada. Um projeto de lei que leva acalanto ao meu coração, mas da chance de vida para outros jovens. Como mãe, eu falava que era eu e ela juntas até o fim. Eu tenho que fazer algo por ela. Se eu ainda levanto é porque eu escuto lá fundinho, 'vai lá mãe é por nós'", disse a mãe da jovem.

"Eles mudaram a minha vida, mas vai continuar aqui uma leoa, que sempre lutou pela vida da minha filha. Eu vou continuar lutando pela memória deles. Não acredito em justiça, se fosse justo ela estaria aqui", completou Jacklline de oliveira, mãe de Kahtlen.

Relembre o caso

A designer de interiores Kathlen Romeu morreu na terça-feira (8) depois de ter sido atingida durante uma ação da Polícia Militar na comunidade do Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio. A jovem – que era negra, tinha 24 anos e estava grávida de 14 semanas – havia se mudado da região no fim de abril, por medo da violência.

De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal, ela levou um tiro de fuzil no tórax. A PM negou que estivesse numa operação e alegou que agentes foram atacados. Contudo, a família de Kathlen contestou essa versão, dizendo que não houve troca de tiros e que os disparos partiram da polícia.

"Se a minha filha fosse morta por bandido, eu não falaria nada com vocês. Foi a polícia que matou a minha filha", afirmou a mãe da jovem.

Pouco mais de dois meses depois da morte de Kathlen, a Delegacia de Homicídios aguarda o laudo da reprodução simulada e tenta identificar novas testemunhas do momento em que a jovem foi atingida.

O objetivo é descobrir quem foi responsável pelo disparo que matou a jovem, grávida de quatro meses, no dia 8 de junho. Em um vídeo, a mãe de Kathlen lamentou a perda da filha, mais de 60 dias depois.

Reconstituição da morte de Kathlen Romeu acontece na quarta-feira (14) no Lins

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No dia 14 de julho, na reprodução simulada do caso, a avó de Kathlen, que estava com ela no momento em que foi atingida, reafirmou seu depoimento à Delegacia de Homicídios e disse que viu PMs no beco de onde partiram os tiros que mataram a designer de interiores.

Sayonara Fátima que disse que ouviu tiros, viu a neta caída no chão e acreditou que ela estava tentando se proteger.

Ao tentar ajudá-la, a avó se deu conta de que a neta tinha sido baleada e viu dois policiais descendo a escadaria do beco com fuzis empunhados.

O documento obtido pelo G1 indicou que o tiro pode ter atingido Kathlen Romeu de cima para baixo. O projétil de fuzil entrou em um trajeto oblíquo, "da esquerda para direita, com ângulo de inclinação caudal estimado em 10º, transfixando o tórax."

Amigos e familiares de Kathlen Romeu, que morreu no mês passado atingida por um tiro de fuzil, no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, fizeram uma homenagem a ela no começo da tarde deste sábado (10) — Foto: Reprodução/ TV Globo

O documento ainda diz que o tiro seguiu trajetória e passou pelo braço direito de Kathlen, com fratura do úmero direito, antes de sair.

Para a Comissão de Direitos Humanos da OAB, é uma prova de que o tiro foi disparado pelos policiais militares que estavam na região no momento em que Kathlen foi atingida.

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