• Fernanda Simon (@feh_simon)
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Como a moda pode se transformar com a COP-26 (Foto: Arquivo Vogue/ Giampaolo Sgura)

(Foto: Arquivo Vogue/ Giampaolo Sgura)

Está acontecendo até o dia 12 de novembro a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, na Escócia, mais conhecida como COP-26, a principal cúpula da ONU para debater questões climáticas e criar estratégias em prol de um bem comum. Estamos todos ameaçados neste caminho rumo ao aquecimento global acima de níveis seguros para humanidade e, como disse a única liderança indígena a discursar na abertura do encontro, a jovem brasileira Txai Suruí: "A Terra nos diz que não temos mais tempo”.

Grandes líderes globais, ativistas e representantes de organizações da sociedade civil estão reunidos para criar metas e ajudar o mundo a se mover mais rápido na transição para uma economia de baixo carbono. Dessas negociações podem depender o futuro das nações e, principalmente, dos mais vulneráveis, que como sempre são os mais afetados pelas injustiças climáticas e sociais. Perante este cenário, a indústria da moda se torna peça fundamental, pois é uma das maiores poluidoras e responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa.

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Reconhecendo seu enorme papel na promoção da mudança climática, muitas das maiores marcas globais se reuniram em 2018 para assinar a Carta da Indústria da Moda das Nações Unidas para Ação Climática - comprometendo-se a reduzir suas emissões em 30% até 2030, incluindo em suas cadeias de fornecimento, que contribuem com mais de 90% de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Atualmente, a maioria das grandes marcas de moda não divulga dados ambientais fundamentais, sem os quais não podemos ter acesso a uma imagem completa do impacto de seus produtos e operações. O Índice de Transparência da Moda, realizado pelo Fashion Revolution Global, revelou que apenas 30% das marcas analisadas publicam compromissos mensuráveis ​​e com prazo determinado de descarbonização, e apenas 25% publicam metas para reduzir o uso de têxteis derivados de combustíveis fósseis virgens.

Porém, de acordo com uma recente análise do Stand.rise, as marcas precisarão ir além dos compromissos de neutralizar carbono, pois o relatório alega que nenhuma grande marca avaliada está perto de atingir um caminho de 1,5ºC - meta que os cientistas dizem ser necessária, destacando a urgência por mudanças radicais na cadeia de fornecimento da moda.

Em uma mensagem unificada, algumas organizações de moda e sustentabilidade como Labour Behind the Label, Eco Age, Fashion Revolution, Centre for Sustainable Fashion entre outras, escreveram uma carta aberta para os líderes globais que estão participando da COP-26, a carta destaca o papel fundamental do setor e diz que os líderes devem reconhecer essa importância para agir.

O pedido aos líderes é que se comprometam com as seguintes recomendações: ação coletiva para atingir emissões zero até 2050; esforços para solucionar a problemática dos resíduos; aumentar a responsabilidade das empresas em relação às suas cadeias de fornecimentos globais; apoiar o desenvolvimento de habilidades na educação para incentivar as crianças a aprender a fazer, consertar e reutilizar suas roupas; e enquadrar quaisquer soluções para a emergência climática em torno de modelos de negócios que mudem o foco do lucro para uma economia do bem-estar.

Para uma mudança radical é imprescindível não apenas mobilizações por parte do setor privado, mas também do setor público e da sociedade civil. Infelizmente, para muitos ativistas, as negociações que vêm acontecendo na COP-26 são rasas e insuficientes, como criticou Greta Thunberg: “Eles usam o greenwashing e uma retórica sofisticada para fazer parecer que estão agindo de verdade e se importam. Tudo isso enquanto as pessoas estão literalmente morrendo como consequência de sua inação. A mudança não virá de dentro dessas conferências, a menos que haja uma grande pressão pública de fora”. Desta forma, a ativista lidera manifestações fora do evento para aumentar a pressão e incentivar a participação da comunidade.

A partir da colaboração, da transparência e de um olhar para as economias regenerativas, a moda tem a oportunidade de usar sua influência para o bem do planeta e das pessoas perante a maior ameaça que a humanidade enfrenta. A tecnologia também pode ser uma aliada assim como a cosmovisão dos povos ancestrais. Portanto, para que o potencial da moda seja reconhecido como parte das soluções climáticas, é preciso que os esforços sejam coletivos e visem o bem comum.