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Por Rafael Vazquez e Marcos de Moura e Souza — De São Paulo


Covas: “Se não surgirem variantes mais agressivas, é provável que no segundo semestre estejamos em situação endêmica” — Foto: Pablo Jacob/Agência O GLobo
Covas: “Se não surgirem variantes mais agressivas, é provável que no segundo semestre estejamos em situação endêmica” — Foto: Pablo Jacob/Agência O GLobo

A partir do segundo semestre, países com vacinação mais avançada, entre eles o Brasil, deverão não mais estar sob uma pandemia, mas sob uma endemia provocada pelo coronavírus. É esse o cenário que está sendo considerado pelo diretor do Instituto Butantan, de São Paulo, o médico Dimas Covas.

Isso significa que a doença deixará de ser tratada como uma crise sanitária uma situação de emergência para se tornar algo mais controlado e estável, o que não necessariamente significa que a doença estará vencida.

Se isso de fato acontecer, a covid apenas será vista como uma doença constantemente presente no meio ambiente, sem aumentos significativos dos casos.

Porém, mesmo que a endemia esteja em um estágio abaixo da pandemia na classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), Covas pontua que nem todas as medidas de prevenção podem ser excluídas de repente.

Além disso, destaca que esse cenário pode ser comprometido caso novas variantes perigosas continuem surgindo, o que não é impossível, já que as populações de países mais pobres ainda estão com taxas de vacinação muito baixas. “Não adianta os países ricos supervacinarem as suas populações se nos países pobres a população não está vacinada”, afirmou.

Em entrevista ao Valor, ontem, Covas também falou sobre a ideia de uma quarta dose de vacina contra a covid-19. Ele lembrou que atualmente o país restringe mais essa dose a um grupo menor de pessoas, os imunossuprimidos, que não respondem bem ao imunizante. Segundo ele, o que está sobre a mesa no momento é o desenvolvimento de uma nova vacina que será recomendada para a população tomar anualmente.

Ele defende o governador de São Paulo, João Doria, que disse na quarta-feira que São Paulo iria aplicar a quarta dose em toda a população do estado, independentemente da recomendação do Ministério da Saúde.

A declaração gerou polêmica e foi debatida pelo ministro Marcelo Queiroga, que acusou Doria de interferir no programa de imunização nacional.

“Tenho impressão de que a fala do governador foi no sentido de que haverá a necessidade do reforço anual, se nada mudar em termo das variantes”, disse Covas ao Valor.

O Butantan, instituição pública de São Paulo, é um tradicional fabricante de vacinas usadas em campanhas nacionais de imunização e é parceiro do laboratório chinês Sinovac para a produção das vacinas anti-covid Coronavac. No ano passado, o instituto forneceu 100 milhões de doses de Coronavac ao Ministério da Saúde e neste ano está em conversas com vistas a fornecer mais 10 milhões de doses num primeiro momento para a vacinação de crianças a partir de 6 anos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Valor: Nesta semana entrou mais fortemente na pauta o debate sobre a aplicação de uma quarta dose da vacina contra a covid-19. Será realmente necessária?

Dimas Covas: O desafio do Brasil é completar a segunda dose e avançar na terceira. Está muito distante falar em quarta dose. Estamos falando de 120 milhões de pessoas aqui que não completaram o chamado esquema vacinal, sejam as duas doses ou uma terceira. Embora o ministro da Saúde tenha dito que o Brasil é exemplo de vacinação, os números mostram que não é bem isso. Quando se compara, por exemplo, o número de vacina em pessoas vacinadas por 100 mil habitantes, que é um indicador que faz mais sentido, o país deve ser o 42º ou 43 º nesse índice.

Valor: O governador de São Paulo, João Doria, que falou em aplicar a quarta dose esta semana, com ou sem respaldo do Ministério da Saúde...

Covas: Ele [Doria] falou no sentido de uma dose de reforço anual como acontece, por exemplo, com a gripe. Nesse momento, isso se coloca no horizonte. Tudo indica que a pandemia pode se tornar uma endemia no segundo semestre, se não tivermos o aparecimento de uma variante diferente. Em função da própria vacinação e a velocidade com que a ômicron está atingindo o mundo, é possível isso ocorra. Ou seja, o vírus continuará circulando, não teremos mais a gravidade clínica, o número de óbitos tende a diminuir. E, numa situação de endemicidade, como acontece com a gripe e com outras doenças infecciosas, há necessidade da vacinação anual. O Butantan trabalha nessa perspectiva com o desenvolvimento de vacinas que sejam combinadas, de gripe e coronavírus, prevendo essa situação da necessidade da vacinação anual. Tenho impressão que a fala do governador foi nesse sentido.

Valor: Países como Israel já aplicaram a quarta dose. Qual é, então, o argumento cientifico para usá-la e quando usá-la?

Covas: Israel começou a quarta dose para pessoas acima de 60 anos e alguns outros países, inclusive o Brasil aplicar também em pessoas imunossuprimidas, que são aqueles que têm dificuldade em responder à vacina. Para essa população em especial a quarta dose é mais do que necessária. Agora, a vacinação em massa obviamente que depende da própria capacidade de disponibilização de vacina para o país. Israel é um país muito pequeno que certamente tem um quantitativo muito grande de vacinas. Além disso, o fato de usar a quarta dose em algumas pessoas não significa que ela seja justificável. Os dados científicos mostram que três doses, nesse momento, são importantíssimas para a proteção contra casos graves, internações e óbitos, inclusive frente à variante ômicron. Você acrescentar uma quarta dose não vai mudar isso substancialmente.

Valor: Então a preocupação principal no momento é fazer as pessoas terminarem de tomar a vacina até a terceira dose, certo?

Covas: Sim. A discussão é mundial e menos de 11% das pessoas de países pobres foram vacinadas sequer com a primeira dose. Portanto, não adianta os países ricos supervacinarem as suas populações se nos países pobres a população não está vacinada, a infecção continua em grau elevado e surgem variantes novas. Esse é o grande ponto. O mundo, em geral, ainda não se deu conta como deveria de que as variantes têm surgido nas populações não vacinadas ou incompletamente vacinadas. Aí está o perigo. A ômicron [que teve origem na África do Sul] é um exemplo ilustrativo. É uma variante já muito diferente das anteriores. E a possibilidade de dar origem a outras variantes, inclusive mais agressivas, não pode ser descartada. É preciso que haja uma coordenação mundial e a OMS não tem conseguido fazer isso. O mecanismo Covax levar vacinas para os países pobres, onde a pandemia pode estar sendo alimentada no que diz respeito às variantes. Tudo isso pode colocar em cheque os programas de vacinação dos países ricos.

Valor: Voltando ao que o senhor mencionou sobre a pandemia ser reclassificada, no segundo semestre, para endemia. Pode explicar melhor esse cenário?

Covas: Minha perspectiva e a de muitos pesquisadores é a de que, se não surgir variantes mais agressivas, é muito provável que no segundo semestre estejamos em uma situação endêmica, e não mais pandêmica. De que a gente saia dessa situação de crise sanitária global e passe a conviver com o vírus de uma outra maneira. A transmissão seguirá elevada, mas não descontroladamente.

Valor: O que isso significaria em relação às medidas de prevenção?

Covas: Não significa que poderemos abolir as medidas de contenção da transmissão do vírus. Mesmo que não haja óbitos tão elevados como agora, continuará havendo internações e morbidade, as pessoas continuarão procurando assistência médica, o que gera sobrecarga no sistema de saúde, que vem sendo tão demandado e tem gastado recursos no enfrentamento dessas situações. Dizer que o mundo vai entrar numa vida normal nesse momento, na minha opinião, é um contrassenso. Pode obviamente flexibilizar certas medidas, mas não pode abrir mão porque ainda não estamos numa situação de conforto. A progressão deve ser feita de forma cautelosa. Não dá para liberar geral como o primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, está prometendo - ontem ele falou em abolir o uso de máscaras ainda em fevereiro.

Valor: Essa perspectiva de transição de pandemia para endemia vale globalmente ou o senhor se refere ao Brasil?

Covas: Vale principalmente para os países que, de fato, conseguiram progredir na vacinação. Europa, América do Norte, e parte da América do Sul - Brasil, Argentina, Chile, Uruguai.

Valor: O que está faltando para que o Instituto Butantan forneça doses de Coronavac ao Ministério da Saúde para serem usadas na vacinação infantil?

Covas: Da parte do Butantan não falta nada. Nós respondemos às solicitações feitas pelo Ministério e a notícia que temos é que deverá ocorrer essa compra brevemente. Deveria acontecer no curso dessa semana, mas até agora não houve a formalização.

Valor: Quantas doses estão reservadas ao Ministério da Saúde inicialmente?

Covas: São 10 milhões de doses que nós temos disponíveis para entrega imediata. Eu, inclusive afiancei ao secretário-executivo do Ministério que, se houver a solicitação, enviaremos essas doses imediatamente. As doses podem ser enviadas a qualquer momento, independentemente de ter ou não o contrato assinado. Mas isso não aconteceu e estamos aguardando. O Brasil, de forma geral, está avançando muito lentamente na vacinação das crianças, com exceção do Estado de São Paulo.

Valor: Por falta de vacinas ou de convencimento da população?

Covas: Acredito que seja por falta de vacinas. As vacinas estão disponíveis em um quantitativo reduzido e a do Butantan, que teria quantitativos maiores, ainda não foi incorporada definitivamente. Até quarta-feira, o vacinômetro do ministério apontava pouco mais de 3 milhões e meio de crianças na faixa de 6 a 11 anos que haviam sido vacinadas, de uma população estimada perto de 20 milhões de crianças. E a maior parte dessas vacinas foi aplicada no Estado de São Paulo.

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