Terra da Gente

Por Giulia Bucheroni, Terra da Gente


A ave foi observada em Brejinho do Nazaré e em Porto Nacional (TO) — Foto: Wanieulli Pascoal/VC no TG

O colorido das araras-canindé (Ara ararauna) é característica comum da espécie que desfila pelas florestas de galeria e várzeas com palmeiras os tons de preto, azul, verde e amarelo.

No entanto, no Tocantins, os olhos atentos de observadores e admiradores de natureza se voltaram para um indivíduo diferente: uma arara-canindé com penas amarelas.

Registrada pela primeira vez em Brejinho do Nazaré, em 2012, a ave seguiu como foco principal por anos, a 45 quilômetros do primeiro registro, em Porto Nacional (TO).

A mutação genética que causa forte redução qualitativa da melanina — Foto: Wanieulli Pascoal/VC no TG

“Era muito comum avistá-la em vários pontos da cidade. Há relatos de solturas de araras-canindés na região, por isso a ligação com a área urbana”, conta Wanieulli Pascoal, biólogo que registrou e estudou o indivíduo com luteinismo.

“Não sabia do que se tratava a princípio. Após os registros fotográficos, fiz comparações com as mutações disponíveis em literatura e mandei e-mail para o especialista Hein van Grouw, do Museu de Historia Natural de Londres, que confirmou a constatação”, explica.

Raro na natureza, o fenômeno ocorre com mais frequência em aves criadas em cativeiro — Foto: Wanieulli Pascoal/VC no TG

O fenômeno

De acordo com o biólogo, o luteinismo, fenômeno conhecido também por “mutação Ino”, é uma mutação genética que causa forte redução qualitativa da melanina. “Assim, há essa diferenciação de cores, e na arara resultou em uma maior expressão da psitacina amarela”, conta.

A alteração na cor da plumagem pode prejudicar a camuflagem e o acasalamento — Foto: Wanieulli Pascoal/VC no TG

“Não foi observado nenhum comportamento diferenciado. O que poderia ter ocorrido era a ave não conseguir acasalar. Em se tratando de camuflagem, o indivíduo também encontra dificuldades, pois se destaca no meio dos demais e fica visível ao possível predador”, explica Wanieulli.

Comum entre araras, papagaios e periquitos, aves da família Psittacidae, o fenômeno ocorre com mais frequência em aves criadas em cativeiro. “Na natureza esse fenômeno é considerado raro”, ressalta o ornitólogo, que lembra de casos como esse em andorinhas, sanhaçus, bem-te-vis e pinguins.

Os registros

Autor de uma nota publicada em uma revista científica de ornitologia, Wanieulli e o colega Marcos Barbosa observaram a ave por anos. “Ela era sempre vista em bandos de aproximadamente sete indivíduos, sendo os demais com as cores comuns da espécie”, conta o biólogo, que constatou outros comportamentos da ave.

A ave foi registrada pela primeira vez em Brejinho do Nazaré, em 2012 — Foto: Wanieulli Pascoal/VC no TG

“Nada de anormal entre os indivíduos foi relatado. A arara em questão se alimentava, vocalizava e voava como as demais do grupo”, completa.

Além da raridade em registrar um indivíduo de vida livre com luteinismo, o contato com a ave é motivo de comemoração no meio científico.

“De uma forma geral, documentar qualquer tipo de mutação em animais é de grande importância para uma melhor compreensão dos padrões de mutações nas espécies e também a frequência de ocorrência nas mesmas”, explica Wanieulli, que foi notificado sobre a morte da ave, mas acredita que não exista relação com o fenômeno.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!