SáBADO, 04/09/2021, 06:00 Bem-estar & Saúde

Projetos espalhados pelo país apostam na inclusão para oferecer esportes adaptados

Já está mais do que consolidado que o Brasil é uma potência mundial nos esportes paralímpicos. Neste ano, o país ultrapassou a marca de mais de 100 medalhas de ouro. Para além das premiações e dos atletas de alto nível, os esportes e atividades físicas podem também mudar o dia a dia de crianças com deficiência.

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Instituto Somar, no RJ, adapta o surfe para crianças com deficiência (Imagem de antes da pandemia cedida pelo projeto) (Crédito: )

Instituto Somar, no RJ, adapta o surfe para crianças com deficiência (Imagem de antes da pandemia cedida pelo projeto)

POR PEDRO BOHNENBERGER (pedro.bohnenberger@cbn.com.br)

Skate, surf, corrida... essas e diversas outras atividades estão cada vez mais próximas de crianças com deficiência. Projetos espalhados por todo o país têm apostado na diversidade e na inclusão para oferecer esportes adaptados. As práticas são voltadas, principalmente, para amenizar uma rotina apertada com médicos e terapias.

Com ajuda de equipamentos adaptados e de voluntários, as iniciativas têm ajudado muitas crianças a praticar brincadeiras que antes eram impensáveis pra quem tem mobilidade reduzida, por exemplo. Kamilly Victoria, de 5 anos, é uma dessas crianças. A mãe, Kethlen de Castro, conta que no início foi difícil encontrar um local adaptado para a filha, mas que, agora, Kamilly já está vivendo algumas aventuras.

"Não acha, na verdade, né? Saber a dificuldade que é uma pessoa com deficiência hoje encontrar brinquedos inclusivos, poder brincar num parque... Ela é apaixonada com o balanço inclusivo e ela ama a corrida também, ela gosta de adrenalina, então, com o que tem adrenalina, ela fica feliz. Ela participa da corrida e se diverte muito, tem vídeo dela dando muita gargalhada no balanço...", comemora.

A iniciativa que elas conheceram foi o Circuito Inclusão, um projeto de Minas Gerais que tem uma série de brinquedos adaptados, como gangorra, carrinho de rolimã, tirolesa e até 'skate inclusivo', que é o carro-chefe do projeto. O equipamento possui hastes de sustentação e um cinto que suporta até 120 quilos, para as crianças que não conseguem ficar em pé sozinhas.

A diretora-fundadora do Circuito Inclusão, Débora Batista, explica que a ideia é resgatar o brincar, que muitas vezes é roubado da rotina das crianças com deficiência, mas que há, ainda, diversos outros benefícios.

"A minha filha, Júlia, não andava, ela tinha muito medo de ficar em pé sozinha. Após ela começar a usar o skate, começou a andar sozinha, então passou a ter muito mais consciência corporal. Não é um aparelho terapêutico, mas ele traz essa noção para o corpo da criança e acaba se tornando algo muito legal, porque ela começa a tomar consciência do seu próprio corpo e de que ela pode", garante.

Outro projeto que proporciona atividades adaptadas é o Instituto Somar, que fica na praia de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Com pranchas adaptadas e auxílio de diversos voluntários, a iniciativa promove o sonho de muitas crianças com deficiência em surfar pequenas ondas, fazendo com que a praia seja um ambiente acessível, seguro e divertido. A presidente do instituto, Fabíola Faggion, explica como funciona o processo com as crianças.

"Muitas delas nem começam entrando na água, vão devagarinho. Começam deitadas na prancha, então a gente tem voluntários que vão levando devagar, até eles se acostumarem com a água, conhecer a prancha... tem os voluntários que já são surfistas, então a gente leva sempre num ponto mais raso, a gente nunca arrisca muito", diz. "O surfista coloca eles na onda e sempre tem os voluntários dando apoio nas laterais, para quando empurrar a criança na onda ter os suportes. E vamos embora, é uma tranquilidade, uma felicidade."

A confeiteira Aline Margarida Barbosa é mãe do Arthur, que participava das práticas com Skate e com Surf. Aos nove anos ele começou a perder os movimentos e precisou usar cadeira de rodas. Infelizmente, no ano passado, quatro anos depois do início dos sintomas, a doença se agravou e Arthur não resistiu. Aline conta que os projetos foram fundamentais para resgatar vários momentos de diversão e de lazer nos últimos anos de vida do filho.

"Eu falo assim, que empoderava ele, porque nesse resgate do brincar ele se sentia empoderado de falar mesmo: eu ando na tirolesa, eu ando no skate, eu surfo. Não precisava falar uma palavra, porque quem via, pelo sorriso, já dava para perceber que ele estava muito feliz", relembra.

A prática de esportes também é terapêutica. Em Belo Horizonte, a Associação Mineira de Reabilitação possui uma disciplina que se chama "Esporte Terapia". As práticas adaptadas ajudam a melhorar o sono, resgatar a autoestima das crianças e também na socialização.

O Supervisor de Esportes da entidade, Guilherme Sette Câmara, conta que, para além dos benefícios terapêuticos, há também uma evolução no entendimento das famílias. Ele diz que lembra com carinho da fala de uma mãe sobre as práticas esportivas.

"Ela falou assim: 'vocês fazem um resgate de almas', então foi uma coisa que me emocionou muito, porque você pega uma criança grave que está com a gente, e é a única hora na vida em que ela tem uma hora por semana para brincar com uma equipe de professores de educação física que está por conta, com ambiente adaptado e seguro. E, às vezes, a gente tá pensando que a gente tá reabilitando só a criança, mas na verdade estamos reabilitando a família. Então, os irmãos, na aula de esporte terapia, passam a fazer aula junto com a gente, passam a brincar com os irmãos, aprendem a brincar com o irmão que tá numa cadeira de rodas, e em casa começa a brincar com esses irmãos."

Importante mesmo é a gente entender que as diferenças precisam ser acolhidas, abraçadas e respeitadas.