Educação começa a entrar nos pacotes de benefício

Novas plataformas dão liberdade para funcionário escolher seus cursos

Por Adriana Fonseca — Para o Valor, de São Paulo


Para Isabel Chelotti, da Dafiti, a escolha do benefício dá alegria ao empregado — Foto: Divulgação

O tema da educação dos funcionários ganha novos contornos nas grandes empresas. Além de estar inserida na já conhecida universidade corporativa, que oferece uma série de qualificações e trilhas de aprendizagem para o empregado, educação agora entra no pacote de benefícios. “O benefício de auxílio educação vem ganhando espaço nos pacotes flexíveis e nesta última edição [da pesquisa da Mercer Marsh Benefícios ] está entre os benefícios mais prevalentes”, comenta Mariana Dias Lucon, diretora de produtos e consultoria da Mercer Marsh Benefícios.

O levantamento a que Lucon se refere foi divulgado em junho deste ano e incluiu a participação de 737 companhias. “Normalmente, as empresas permitem que os colaboradores direcionem pontos flexíveis para o auxílio educação e incluem no menu de escolhas cursos de graduação, pós e idiomas. Ou, ainda, treinamentos que possam apoiar na capacitação profissional e que podem ser oferecidos por plataformas digitais que vão desde cursos técnicos a comportamentais.”

Existem algumas diferenças entre os cursos oferecidos pelas universidades corporativas e a educação que aparece no pacote de benefícios. Ela se assemelha ao convênio que muitas empresas faziam com instituições de ensino individualmente, mas ganham corpo com o uso de novas plataformas tecnológicas criadas por startups como Edupass e SkillHub.

Na Edupass, por exemplo, que conecta instituições de ensino com funcionários de empresa que tenham a plataforma como benefício, é possível escolher programas de ensino em mais de dez categorias: tecnologia, graduação, pós-graduação, mestrado, idioma, cursos livres, desenvolvimento pessoal (coaching), ensino básico (tem possibilidade de extensão para familiares), livros e artigos e escolas internacionais. Os convênios firmados dão descontos de até 87%. Com isso, diz Alexandre Wawruk, CEO e cofundador da Edupass, é possível fazer uma pós a partir de R$ 34 por mês e uma graduação a partir de R$ 69 mensais. Ele ressalta que a startup só faz convênios com universidades e faculdades com nota 4 ou 5 no conceito do Ministério da Educação (MEC) - que são as notas mais elevadas.

O Dafiti Group, com 3 mil funcionários na América Latina, adotou recentemente uma dessas novas plataformas para oferecer a educação como benefício aos seus empregados. Nesse caso, a startup escolhida foi a SkillHub. “Olhando para o indivíduo, fazemos ações que são percebidas como benefício, mas com uma intencionalidade por trás”, diz Isabel Chelotti, head de desenvolvimento organizacional do Dafiti Group na América Latina. A intenção é o desenvolvimento de carreira do funcionário e, consequentemente, o crescimento do negócio.

Chelotti explica que tudo começa com o processo de avaliação de desempenho, feito duas vezes ao ano. É a base, junto com a percepção do gestor, para construir o programa de desenvolvimento do funcionário, “olhando para suas intenções de carreira e individualidade”, diz a executiva. A partir daí o empregado acessa todo o ecossistema ao qual tem acesso para trilhar esse avanço profissional. “Temos ações internas e algumas áreas não conseguimos cobrir, treinamentos específicos, e então trazemos a SkillHub, que já é uma parceria de um ano e meio, que traz essa curadoria de cursos e treinamentos”, diz.

Ampla, a SkillHub tem um portfólio com mais de 2 mil cursos de 80 parceiros. Mas a executiva da Dafiti comenta que “só funciona bem com uma belíssima conversa de desenvolvimento com o gestor, caso contrário a gente não consegue ser intencional”. “Os colaboradores precisam dessa visibilidade de por onde seguir, então tem direcionamento.”

Nesse modelo, mesmo que tenha um direcionamento, o funcionário acessa a plataforma e escolhe sua opção de curso - e isso gera uma percepção de benefício. “Existe uma alegria do colaborador ao perceber que pode fazer algo mais customizado”, diz Chelotti.

Fernando Pinto Lima, head de gente, gestão e performance da Cielo, diz que o treinamento tradicional que precisa ser feito pelo funcionário não é tão percebido como benefício. Segundo ele, “a Edupass é um exemplo para ter essa relação”. Assim como a nova plataforma da universidade corporativa da Cielo. Reformulada no modelo LXP (Learning Experience Platform), vai passar de 300 opções de formação para mais de 250 mil cursos, incluindo até opções de culinária, mas, claro, com muitas ofertas ligadas ao negócio. “É superampla, com cursos da Udemy e StartSe, além de Ubook, que tem oferta de livros. Entendo como benefício, ainda que tenha trilhas obrigatórias e regulatórias”, diz Lima. “Dentro das categorias de livros, artigos e cursos técnicos o colaborador pode montar sua trilha.”

Lucon, da Mercer, diz que o que se vê, em muitos casos, é a educação relacionada ao pilar de desenvolvimento e assim nem sempre está abaixo da estrutura de governança do RH. “Incluir o benefício educação em um programa flexível pode ser uma estratégia interessante em termos de capacitação e qualificação profissional para 100% da força de trabalho, o que muitas vezes é desenhado de acordo com a elegibilidade ou atrelado a resultados”, afirma.

É o que acontece na Dasa, com cerca de 40 mil funcionários. Venâncio Guimarães, diretor de pessoas e cultura da companhia, explica que apenas parte dos empregados - 220 no total - tem acesso ao SkillHub, plataforma com a qual a empresa tem parceria. “Antes, essas 220 pessoas iam no RH, entregavam o recibo da faculdade ou do curso e eram reembolsadas. Hoje, o colaborador coloca isso na plataforma, economizando tempo.”

João Bizarri, cofundador da SkillHub, explica que a empresa cliente designa na plataforma um orçamento por funcionário, eliminando o processo de o empregado pagar e ser reembolsado depois, e dá liberdade para a pessoa usar o crédito como ela quiser, incluindo mentoria, livros e cursos. Mas as escolhas precisam estar alinhadas ao que o indivíduo precisa para se desenvolver em sua carreira. “Para dar tranquilidade para a empresa de que é realmente um investimento, exige um alinhamento com a liderança. O funcionário solicita e justifica sua escolha”, diz Bizarri. Segundo ele, de mais de mil conteúdos vendidos até agora, só quatro ou cinco foram negados. “Porque a pessoa tem essa conversa com o líder, e até pede sugestão.”

Além da SkillHub, a Dasa oferece aos seus funcionários a universidade corporativa, que, segundo Guimarães, soma 283 mil treinamentos concluídos em 2021. Ele diz que o empregado que segue a trilha da Universidade Dasa cresce 30% mais rápido internamente. “Queríamos mostrar que treinamento tem valor e começamos a medir isso.”

O GPA, que também tem uma universidade corporativa, com 4.500 conteúdos para seus 57 mil funcionários, começou uma parceria com o Edupass este ano. “É outro foco, pensando em instituições de ensino externas”, diz Camila Zanchim, gerente de RH do GPA. “E tem sim essa percepção de valor maior, porque antes a gente fazia parcerias educacionais e o colaborador perguntava da instituição x, do curso y, e nem sempre havia convênio, agora há um leque bem maior de ofertas.”

Tanto no caso da plataforma da Edupass quanto em relação à universidade corporativa, Zanchim diz que a conversa interna com o funcionário é sobre o protagonismo de investimento. “Ele escolhe o curso, a escola, a categoria educacional.”

Bizarri, da SkillHub, afirma que esse empoderamento faz parte da mudança estrutural de como se faz treinamento atualmente. “Antes, a empresa colocava todo mundo de uma área em uma sala para fazer um curso. Só que cada pessoa é diferente, então precisa de abordagens diferentes. A mesma plataforma on-line para todos também não funciona, tem gente que quer ao vivo, tem gente que prefere gravado”, explica.

Nesse sentido, a educação como benefício dá liberdade para o empregado usar o investimento feito pela empresa com esse tema da forma como ele quiser - incluindo mentorias, livros ou cursos. O que continua igual, como esclarece Bizarri, é que a escolha “tem que estar alinhada com o que a pessoa precisa para a carreira dela”. “Essa é a diferença de ser um investimento para a empresa”, conclui.

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