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Política Eleições 2022

Doria e Moro selam pacto de não agressão, mas mantêm desejo de liderar chapa em 2022

Acordo foi celebrado em encontro na quarta-feira, em São Paulo; meta de unificar a terceira via ainda esbarra em obstáculos
Os pré-candidatos à Presidência João Doria (PSDB) e Sergio Moro (Podemos) I Arquivo I 28/06/2019 Foto: Luis Blanco / Governo do Estado de São Paulo
Os pré-candidatos à Presidência João Doria (PSDB) e Sergio Moro (Podemos) I Arquivo I 28/06/2019 Foto: Luis Blanco / Governo do Estado de São Paulo

BRASÍLIA E RIO — A tentativa de viabilizar candidaturas ao Planalto contra o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) levou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) , e o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) a firmarem um pacto de não agressão pelos próximos meses — o acordo foi celebrado em encontro na quarta-feira, em São Paulo , como adiantou Lauro Jardim. Embora estejam com diálogo aberto, a meta de unificar a terceira via em torno de um nome competitivo nas eleições do ano que vem enfrenta dois obstáculos: ambos, neste momento, não abrem mão de encabeçar a chapa presidencial, e Ciro Gomes (PDT), outro pré-candidato, vem subindo o tom das críticas a Doria e Moro.

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O governador e o ex-magistrado combinaram uma nova conversa para a segunda quinzena de janeiro. Os dois acreditam que o cenário estará mais claro entre março e abril, período em que decisões serão tomadas por outros partidos,como o PSD, que abriga o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG); o União Brasil, do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta; o MDB,da senadora Simone Tebet (MS); e o Cidadania, do senador Alessandro Vieira (SE). As quatro siglas já sinalizaram que podem lançar nomes ao Planalto, o que dificulta ainda mais a formação de uma terceira via.

Diferentes estratégias

O “congestionamento” tem acelerado as movimentações e modulado as estratégias dos envolvidos. Depois de ser escolhido pelo PSDB em prévias turbulentas, Doria tem buscado apaziguar ânimos internos e conversar com outros postulantes. Moro, além das reuniões políticas, vem aproveitando o lançamento do livro que escreveu para cumprir agendas pelo país. Já Ciro, em vídeo divulgado ontem, direcionou torpedos a Doria (“calças engomadas”), Moro (“togas sujas”), Bolsonaro (“fardas rotas”) e Lula (“macacões de bolso de fundo falso”).

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O presidente do PDT, Carlos Lupi, afirma que o tom será mantido:

—Vamos mostrar a nossa diferença com todos. O processo eleitoral é para falar de nossas propostas e nossas diferenças, e o povo decidir em quem votar.

Aliados de Ciro dizem que vão esperar até fevereiro para ver se o pedetista decola nas pesquisas, segundo a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Se isso não ocorrer, defendem uma aliança com o PT.

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— O único caminho de sobrevivência para Moro e Doria é estarem juntos na eleição. Já o Ciro não tem com quem se aliar para fazer dobradinha, por isso atira para todos os lados — diz o cientista político Josué Medeiros, da UFRJ.

Já Renato Dorgan Filho, sócio do Instituto Travessia e especialista em pesquisas qualitativas e marketing político, avalia que o pacto de não-agressão é mais benéfico a Doria, mas pode ser arriscado para Moro, à medida que pode dificultar a migração de votos de Bolsonaro para o ex-juiz:

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— Moro tem uma particularidade: ele consegue absorver parte dos votos do Bolsonaro com facilidade, à medida que Bolsonaro se desgasta tanto entre as classes mais baixas quanto na classe média. É um eleitor anti-PT que não curte mais o Bolsonaro, mas que pode votar no presidente mesmo assim. Uma aproximação com Doria pode estancar essa desidratação que Moro provoca em Bolsonaro, já que o governador de São Paulo é mais rejeitado nesse eleitorado.