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Política Eleições 2022

Destino de Eduardo Leite opõe direção do PSDB e aliados do Sul

Grupo próximo quer que gaúcho tente Presidência, mas Bruno Araújo busca dissuadi-lo. Anúncio deve ser feito após o dia 14
Conselhos. Eduardo Leite ouve opiniões divergentes, enquanto decide se vai para o PSD ou fica em seu atual partido Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo / 21/11/2021
Conselhos. Eduardo Leite ouve opiniões divergentes, enquanto decide se vai para o PSD ou fica em seu atual partido Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo / 21/11/2021

SÃO PAULO — A aproximação do governador Eduardo Leite com o PSD , do ex-ministro Gilberto Kassab, tem rendido críticas da direção nacional tucana, mas é incentivada por aliados do Rio Grande do Sul, que o veem como a única alternativa contra a polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro . Leite flerta com a possibilidade de sair do PSDB para ser candidato a presidente e tem dito que está num momento de “reflexão”.

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Segundo assessores, ele deve anunciar sua decisão após o dia 14, quando voltar de uma missão de governo nos Estados Unidos. Caso concorra ao Palácio do Planalto, teria que renunciar até 2 de abril. O núcleo mais próximo do governador, que o acompanha desde 2013, defende abertamente a candidatura presidencial pelo PSD.

Por outro lado, o comando do PSDB apela ao pragmatismo de Leite para que ele fique no partido. Uma das teses defendidas internamente é que ele quebre uma promessa de campanha e dispute à reeleição, para não colocar em risco sua sucessão. O governador ainda não tem um substituto para concorrer ao Palácio do Piratini. A preocupação de mantê-lo na sigla também é uma tentativa de impedir a ampliação da fragmentação no campo da terceira via.

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Hoje, o esforço do PSDB é para uma composição entre o governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto, e a senadora Simone Tebet (MDB-MS). É considerada até a possibilidade de Doria ser vice, caso não melhore seu desempenho nas pesquisas. Há temor ainda de que Leite possa ameaçar essa aliança de centro. O gaúcho tem tentado se aproximar de Simone, e um dos seus interlocutores é o ex-presidente da Assembleia Legislativa gaúcha Gabriel Souza (MDB-RS). Ele pleiteia apoio de Leite na disputa estadual, mas enfrenta resistência no MDB do Rio Grande do Sul. Lá, o quadro está polarizado entre aliados de Bolsonaro e Lula.

Caso Leite desista do plano nacional, lideranças tucanas afirmam que ele evitaria a pecha de “mau perdedor”, “desagregador” e sinalizaria respeito à escolha de Doria nas prévias, sem desmoralizar a eleição interna. Ao mesmo tempo, se reeleito, seguiria como um ator nacional, ganharia mais experiência e manteria a visibilidade para 2026.

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Uma eventual saída de Leite do PSDB não teria o aval de aliados de peso nas primárias, como o deputado Aécio Neves (MG) e o senador Tasso Jereissati (CE). Entre as figuras históricas tucanas, o ex-senador José Aníbal é a única voz que fala publicamente a favor da candidatura.

— Não tiro dele as razões pra ser candidato. Ele tem o discurso e as realizações para ser um candidato despolarizante. É isso que as pessoas querem — diz Aníbal.

Apelo à coerência

Coordenador da campanha de Doria, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, sempre manteve boas relações com Leite, mas os dois estão afastados desde que o gaúcho intensificou as conversas com o PSD. Ao GLOBO, o dirigente elogiou o correligionário, mas deixou seu recado:

— Eduardo é um dos principais quadros nacionais, tem uma história firme na social democracia, e a sua coerência será fundamental na longa caminhada que terá à frente — afirmou.

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Lideranças tucanas incomodadas com os gestos de Leite alertam que Kassab já sinalizou que apoiaria o ex-presidente Lula num segundo turno, o que deixaria o governador gaúcho em uma posição difícil, já que sua base eleitoral é antipetista e conservadora. Acrescentam ainda que o cenário fica ainda mais complexo porque Lula tem feito articulações para atrair Kassab para sua base .

Nada disso, no entanto, é visto como entrave para os integrantes do grupo político do governador. Vários deles, aliás, admitem a possibilidade de seguirem Leite, se ele for para PSD. É o caso do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, do deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB) e dos prefeitos de Pelotas, Paula Mascarenhas, e de Santa Maria, Jorge Pozzobom.

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— Acho que seria muito bom para o Brasil o Eduardo concorrer a presidente. Acho que é quem tem o perfil mais adequado para a terceira via, por ser uma pessoa jovem, com muita capacidade política e sem rejeição — diz Paula.

Considerado um dos mais fiéis a Leite, o secretário estadual Agostinho Meirelles se filiou ao PSD no mês passado e espera a candidatura do aliado:

— Torço para que seja candidato a presidente, seja pelo PSD ou pelo PSDB.