Por Cristina Boeckel, g1 Rio


Pesquisadores do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)acreditam que a liberação do uso de máscaras em ambientes fechados no Rio, decidida na manhã desta segunda-feira (7) pelo Comitê Científico da prefeitura, é uma decisão precipitada e que deveria ser realizada em etapas.

“O Rio de Janeiro não é uma ilha, está cercado por outras cidades da Região Metropolitana, com índices de coberturas vacinais e taxas vacinais diferentes”, disse o pesquisador em saúde pública Raphael Guimarães.

Segundo Guimarães, a cidade recebe “um aporte considerável diário de pessoas de vários lugares”, e isto deveria ter sido levado em consideração. Ele defende que a medida fosse realizada de forma gradativa.

“Deveria estar sendo feito primeiro em locais abertos, abertos com aglomeração para só depois em lugares fechados”, ressaltou.

O pesquisador reconhece a redução substancial nos índices de contaminação pela doença no Rio de Janeiro, mas defende um intervalo de pelo menos duas semanas antes da decisão de flexibilizar o uso do acessório.

“Em duas semanas, já seria possível uma noção sobre aumento de casos ou interrupção na queda”, disse Guimarães.

Máscaras de proteção facial secam em varal improvisado — Foto: Marcos Serra Lima/G1

Uma edição extra do Diário Oficial publicada na tarde desta segunda-feira (7) trouxe um decreto do prefeito Eduardo Paes (PSD) com o fim da obrigatoriedade.

O Rio é a primeira capital do país a fazê-lo.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, ressaltou, no entanto, que a exigência do passaporte vacinal continua mantida pelo menos até o fim de março — ou quando a cidade chegar a 70% da população adulta com a dose de reforço. Hoje esse indicador está em 54%.

Temos a menor transmissão desde o começo da pandemia, de 0,3, e uma positividade menor que 5%, com uma redução gradativa ao longo das últimas semanas”, afirmou Soranz.

“Hoje é cada vez mais difícil ver um caso grave de Covid no Rio por causa da nossa alta cobertura vacinal”, pontuou o secretário.

Ainda segundo Soranz, se o carnaval tivesse causado alguma mudança, “a prefeitura estaria vendo uma alteração nos índices”.

“O Rio tem hoje uma das melhores coberturas vacinais do país, e certamente uma das melhores do mundo, o que nos coloca em um cenário, bastante favorável para reduzir medidas restritivas.”

Secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz — Foto: Cristina Boeckel/g1

Exceções

Soranz atentou para casos pontuais para o uso de máscara.

“Importante enfatizar que as pessoas que possuem imunossupressão ou comorbidades graves e que não tenham se vacinado sigam usando máscara”, afirmou.

“Pessoas que estão com sintomas respiratórios também devem usar máscara para evitar transmissão. Outra ação que a secretaria vai manter é a capacidade de testagem”, emendou.

De acordo com Daniel Becker, médico pediatra sanitarista e membro do comitê, é recomendado que as crianças que ainda não têm as duas doses da vacina ainda usem máscaras até atingir a cobertura completa.

A decisão no ambiente escolar ficará a cargo de cada escola, segundo Becker.

“Foi um consenso. Os dados epidemiológicos são favoráveis. Este é o melhor momento para liberar as máscaras”, disse Becker.

Para a população adulta, a vacinação completa, no caso, são as duas doses e a dose de reforço.

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'Índices controlados'

Na semana passada, Soranz afirmou que a alta cobertura vacinal na capital ajudou a cidade a manter controlados os índices de contaminação da Covid. Segundo ele, não esperava um aumento significativo no número de casos, mesmo com festas e blocos clandestinos que saíram durante o período em que se celebrou o carnaval.

"A estratégia de limitar a entrada de turistas sem vacina na cidade do Rio de Janeiro funcionou. Ele é obrigado a apresentar o passaporte vacinal para ir aos principais pontos turísticos. Certamente, isso desestimulou a vinda de turistas não vacinados para a cidade, e a gente viu, com a nossa cobertura vacinal, que não teve um aumento de casos no período", disse Soranz.

Soranz acrescentou que o número de casos positivos era cada vez menor e, de acordo com os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma taxa menor que 5% de contaminados entre todos os estados indica controle.

"É cada vez mais raro encontrar um caso grave de Covid na cidade. No último fim de semana (26 e 27 de fevereiro), a gente chegou a uma positividade de 3,9%. É uma queda bastante importante."

Ainda assim, o secretário ressaltou na ocasião que era preciso que a população não descuidasse do cronograma vacinal. Soranz orientou a quem ainda não tomou a segunda dose e a dose de reforço, que procure as unidades de saúde do município.

Exigem o passaporte hoje:

  • bares, lanchonetes, restaurantes e refeitórios (áreas internas ou cobertas);
  • boates, casas de espetáculos, festas e eventos em geral;
  • hotéis, pousadas e aluguel por temporada;
  • salões de beleza e centros de estética;
  • academias de ginástica, piscinas, centros de treinamento, clubes e vilas olímpicas (já era exigido);
  • estádios e ginásios esportivos;
  • cinemas, teatros, salas de concerto, salões de jogos, circos, recreação infantil e pistas de patinação;
  • museus, galerias e exposições de arte, aquário, parques de diversões, parques temáticos, parques aquáticos, apresentações e drive-in;
  • conferências, convenções e feiras comerciais.

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